domingo, 22 de fevereiro de 2009

Representação Portuguesa na 53.ª Bienal de Veneza

fonte: RTP - Portugal

Os artistas portugueses João Maria Gusmão e Pedro Paiva vão representar Portugal na 53/a Exposição Internacional de Arte - Bienal de Veneza, num projecto comissariado por Natxo Checa, revelou hoje à Agência Lusa o director-geral das Artes.

De acordo com Jorge Barreto Xavier, a escolha desta equipa - que já recebeu o aval do ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro - visa "reconhecer o valor do trabalho em equipa de três profissionais que ao longo dos últimos sete anos têm trabalhado juntos, e num percurso coerente e muito marcado por linhas singulares e reconhecidas no contexto nacional e internacional".

"Esta escolha permite a uma geração mais nova, mas com provas dadas e reconhecidas, o acesso ao circuito da Bienal de Veneza, numa promoção do país, mas também das possibilidades de sedimentação da sua presença internacional para assegurar o sucesso de um projecto que cumpra a exigência desta apresentação e o perfil de contemporaneidade" da representação portuguesa na Bienal de Veneza.

Pedro Paiva e João Maria Gusmão - The Occult (2007)

João Maria Gusmão, de 29 anos, e Pedro Paiva, 31 anos, ambos nascidos em Lisboa, "têm tido um trabalho discreto mas fulgurante em termos de reconhecimento", comentou à Lusa Jorge Barreto Xavier, acrescentando que a presença de ambos em Veneza "terá um grande impacto na sua carreira artística".

Por outro lado, "a equipa tem apresentado muito propostas existenciais que se inserem bem no tema geral da Bienal de Veneza", que na edição de 2009 se apresenta sob o título "Making Worlds/Fazer Mundos", e que terá como curador geral o sueco Daniel Birnbaum, decorrendo entre 07 de Junho e 22 de Novembro deste ano.

Desde 1997 que o Instituto de Arte Contemporânea, posteriormente Instituto das Artes, e actualmente Direcção-Geral das Artes, organismos do Ministério da Cultura, têm vindo a designar e financiar a representação portuguesa nesta Bienal, onde já representaram Portugal artistas como Helena Almeida, Jorge Molder e Ângela Ferreira.

Questionado pela Lusa sobre algumas críticas surgidas na imprensa, por parte de alguns meios artísticos, de que a escolha da representação portuguesa tardava em ser anunciada, Barreto Xavier escusou-se a comentar, sublinhando: "O processo esteve a decorrer e a Direcção-Geral das Artes está muito empenhada e satisfeita com esta escolha".

Desde há uma década que Pedro Paiva e João Maria Gusmão têm apresentado, em plataformas como o cinema experimental e a instalação, um conjunto estruturado de ensaios de investigação artística sobre os sentidos para a experiência humana no mundo.

Internacionalmente, têm vindo a apresentar-se no circuito das bienais, nomeadamente em São Paulo (2006), Mercosul (2007) e, mais recentemente, na Manifesta 7, assim como nas apresentações individuais no Wattis Institute em São Francisco, Photoespaña, em Madrid, e Adams Gallery em Wellington.

Este ano os artistas irão ainda expor individualmente na Kunstverein Hannover e Ikon Gallery em Birmingham.

Nascido em Barcelona em 1968, Natxo Checa iniciou a sua actividade profissional no início dos anos 90, e desde 1994, no contexto do espaço Zé Dos Bois (ZDB), em Lisboa, que co-dirige, ou do Festival Atlântico que dirigiu, tem vindo a mostrar diversa produção artística visual emergente portuguesa. Também tem organizado mostras e intercâmbios internacionais em algumas capitais europeias e na costa Oeste Americana com artistas da geração de noventa.

Cotidiano inspira poética de obras em mostra coletiva

por Mário Gioia da Folha

"Realidades Imprecisas", exposição que é aberta hoje no Sesc Pinheiros, reúne trabalhos de 13 artistas contemporâneos

De acordo com curadora, instalações, pinturas, esculturas, objetos e vídeos atestam ligações da arte com coisas corriqueiras

Objeto da série "La Donna, La Casa, Il Bambino", de Nino Cais

Baldes de plástico de R$ 1,99 que formam esculturas. Uma torneira colocada na parede de um espaço expositivo. Fotografias caseiras de festas familiares ampliadas e dispostas como banners em janelas. Os trabalhos da mostra "Realidades Imprecisas", que é aberta hoje no Sesc Pinheiros, parecem sempre dar um sentido poético ao cotidiano.
Com obras de 13 artistas jovens, com idade média de 30 anos, a exposição coletiva reúne peças de diversos suportes, como pinturas, instalações, esculturas e vídeos, que comentam as ligações entre arte e realidade. "O recorte que fiz destaca como os artistas sempre buscam sensibilizar e dar uma nova significação ao mundo real.
Escolhi quem mais acompanho de perto pelo desenvolvimento da obra e, por isso, os trabalhos são muito diversos", afirma a curadora de "Realidades...", Carolina Soares, 32, ex-curadora do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e que atuou como pesquisadora na 28ª Bienal de São Paulo.
Logo na abertura da mostra, no térreo, as cinco esculturas e os cinco objetos do paulistano Nino Cais, 39, exemplificam de modo claro a tese da curadora.
As esculturas no centro da sala são formadas por objetos baratos, como baldes, bancos e vassouras, que, rearranjados, servem de apoio a vasos de plantas e flores.
"Meu trabalho fala constantemente do cuidar. Para sobreviverem, as plantas precisarão de cuidados, em meio a esses rearranjos de peças banais e que agora estão num espaço de exposição", conta o artista. Outros cinco objetos de Cais têm como base páginas de uma revista feminina publicada na Itália nos anos 60, que ganham colagens feitas pelo artista.
Nas janelas da entrada do Sesc, o goiano Marcelo Amorim, 31, ampliou 32 fotos de seus registros familiares para discutir a identidade.
"Jogo com a presença e a ausência da minha figura em diferentes tempos." Já a mineira Flávia Bertinato, 28, apresenta uma instalação repleta de cortinas na cor vinho, com canção de Ennio Morricone ao fundo.
"A música alegre seduz o público para entrar no espaço, mas não há nada especial para ver." A paulistana Tatiana Blass, 29, apresenta cinco novas pinturas, que têm o palco teatral como foco principal. "Às vezes o espaço está vazio, às vezes tem personagens que não identificamos logo. Tem um quê de mistério essa série", conta ela.
A incerteza das obras de Blass encontra eco em outras peças da exposição, como nas fotografias oníricas do paraense Mariano Klautau Filho e na improvável torneira da carioca Débora Bolsoni, colocada discretamente em uma das paredes dos espaços de exibição da mostra, no terceiro andar.

Realidades Imprecisas

Quando: de ter. a sáb., das 10h30 às 21h30, e sáb., das 10h30 às 18h30; até 19/3
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 3095-9400); livre
Quanto: entrada franca