Lygia Pape está na entrada da mostra, que apresenta obras de mais 90 artistas, de 77 países.
De Milão para a BBC Brasil - Uma obra da brasileira Lygia Pape (1927-2004) abre a Bienal de Artes de Veneza. A instalação feita com fios de ouro iluminados por spots presos ao teto é a primeira imagem que os visitantes encontram no principal evento de arte contemporânea do cenário internacional.
Diagonais e quadrados atravessam o espaço com se fossem feixes de luzes e representam o ápice da pesquisa tridimensional da brasileira. A obra está na entrada da mostra, nas margens do Grande Canal.
Depois da instalação da brasileira, em espaços que somam um total de 88 mil metros quadrados, estão expostas as obras de outros 90 artistas, de 77 países - um recorde de presença.
A bienal exibe desde a ousadia da projeção em uma parede das sombras de uma orgia até canteiros de peões de obras, em uma instalação que retrata o crescimento urbano das cidades, passando por esculturas feitas com pneus de bicicletas e espelhos de água que refletem a fotografia de uma montanha nevada.
A obra de Lygia Pape foi inserida como cartão de visitas porque expressa o título da Bienal deste ano, "Fazer Mundos", e reúne diferentes linguagens da arte, como o desenho, a instalação, a escultura e a pintura. A ideia é mostrar os trabalhos modernos e discutir a influência de gerações passadas.
"A mostra está ancorada na história da arte contemporânea graças à presença de artistas como Lygia Pape, Yoko Ono, Blinky Palermo. Elas são constantes fontes de inspiração para os artistas mais jovens. E em anos recentes estiveram sempre no centro de discussões acirradas dentro da comunidade artística", afirma o diretor Daniel Birnbaum, na apresentação da exposição.
"Pape trabalhou em diferentes campos da pintura, da escultura, da dança, foi uma das artistas mais inovadoras do seu tempo", acrescenta. A obra de Lygia Pape foi criada em 2002, mas serve como introdução para obras concebidas apenas para a Bienal.
Parada musical
Daniel Biernbaum, diretor sueco de 46 anos de idade, colocou no programa até mesmo uma parada musical, ao longo de várias ruas de Veneza, com o americano Arto Lindsay, radicado no Brasil.
"A mostra vai criar novas realidades artísticas, que deverão ir além das expectativas das instituições e do mercado", afirma.
Durante a Bienal, Veneza se transforma em uma imensa galeria a céu aberto. Para se chegar aos locais tradicionais da exposição, passa-se por um submarino artístico ancorado diante de um palácio do século 15, ou por uma escultura gigante de um cadeira que tem ao lado um pacote de cigarros.
Uma experiência interessante é caminhar pelo cais de Veneza, nas proximidades da Piazza San Marco, entre a beleza arquitetônica da cidade e a fila de iates de luxo. Entre um barco e outro, foi instalado um telão em que são exibidas imagens animadas de trânsito no asfalto, algo que não existe em Veneza.
Artistas das Ilhas Comores apresentam uma instalação bem característica. O pequeno arquipélago, localizado entre Madagascar e o continente africano, ancorou na frente dos Jardins um barquinho de madeira, com um enorme contêiner. Quem passa tem a impressão de que alguém ainda não terminou o trabalho de descarregar o material embarcado.
Mais à frente, o artista israelense Harush Shlomo navega em círculos com uma lancha-instalação, tendo em uma das mãos o timão e em outra uma vara de pescar com um peixe no anzol. O barco aparece, em parte, submerso, apenas a proa e a popa estão acima do nível do mar - e ninguém sabe se ele irá afundar ou não.
Suicida
Os pavilhões nacionais da mostra abrigam de tudo um pouco. O espaço da Finlândia exibe uma piscina em que o manequim de um homem flutua como se fosse o corpo de um suicida.
O pavilhão da Espanha apresenta as obras de Miquel Barceló - séries de pinturas sobre primatas, paisagem africana e espuma das ondas do mar impressionam pelo impacto visual. Em uma delas, gorilas solitários nascem de um pequeno ponto do quadro e, em perspectiva, ocupam toda a tela.
O espaço do Brasil apresenta para Veneza duas realidades com cores bem vivas: a de Maceió, com os quadros de Delson Uchoa, e a de Belém, com os painéis fotográficos de Luiz Braga. O pintor exibe telas armadas em superfícies inusitadas como lonas.
"Qualquer brasileiro sente a vaidade de representar o seu país, ainda mais sendo nordestino. Na minha obra, eu trato a cor e a luz que é o Brasil no seu estado puro", disse Braga à BBC Brasil. "É um testemunho de que (o país) vive no círculo luminoso do planeta. O público percebe a nossa identidade calorosa, algo que não poderia acontecer na Sibéria."
Já as fotografias de Luiz Braga "pescam" o visitante pelos tons suaves com os quais ele conta a realidade amazônica.
"Eu nunca imaginei ver uma visitação tão diversa e constante aqui em Veneza. Gente do mundo inteiro esta vindo aqui. Eu trouxe o Brasil longe dos estereótipos", diz o fotógrafo.
"A minha fotografia privilegia o Brasil natural, a brasilidade da rotina das pessoas e não aquela dos índios, do carnaval, do gringo, aquilo não me interessa", acrescenta Braga, diante do painel de um barco cheio de redes que navega durante a noite pelos rios da Amazônia. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
Diagonais e quadrados atravessam o espaço com se fossem feixes de luzes e representam o ápice da pesquisa tridimensional da brasileira. A obra está na entrada da mostra, nas margens do Grande Canal.
Depois da instalação da brasileira, em espaços que somam um total de 88 mil metros quadrados, estão expostas as obras de outros 90 artistas, de 77 países - um recorde de presença.
A bienal exibe desde a ousadia da projeção em uma parede das sombras de uma orgia até canteiros de peões de obras, em uma instalação que retrata o crescimento urbano das cidades, passando por esculturas feitas com pneus de bicicletas e espelhos de água que refletem a fotografia de uma montanha nevada.
A obra de Lygia Pape foi inserida como cartão de visitas porque expressa o título da Bienal deste ano, "Fazer Mundos", e reúne diferentes linguagens da arte, como o desenho, a instalação, a escultura e a pintura. A ideia é mostrar os trabalhos modernos e discutir a influência de gerações passadas.
"A mostra está ancorada na história da arte contemporânea graças à presença de artistas como Lygia Pape, Yoko Ono, Blinky Palermo. Elas são constantes fontes de inspiração para os artistas mais jovens. E em anos recentes estiveram sempre no centro de discussões acirradas dentro da comunidade artística", afirma o diretor Daniel Birnbaum, na apresentação da exposição.
"Pape trabalhou em diferentes campos da pintura, da escultura, da dança, foi uma das artistas mais inovadoras do seu tempo", acrescenta. A obra de Lygia Pape foi criada em 2002, mas serve como introdução para obras concebidas apenas para a Bienal.
Parada musical
Daniel Biernbaum, diretor sueco de 46 anos de idade, colocou no programa até mesmo uma parada musical, ao longo de várias ruas de Veneza, com o americano Arto Lindsay, radicado no Brasil.
"A mostra vai criar novas realidades artísticas, que deverão ir além das expectativas das instituições e do mercado", afirma.
Durante a Bienal, Veneza se transforma em uma imensa galeria a céu aberto. Para se chegar aos locais tradicionais da exposição, passa-se por um submarino artístico ancorado diante de um palácio do século 15, ou por uma escultura gigante de um cadeira que tem ao lado um pacote de cigarros.
Uma experiência interessante é caminhar pelo cais de Veneza, nas proximidades da Piazza San Marco, entre a beleza arquitetônica da cidade e a fila de iates de luxo. Entre um barco e outro, foi instalado um telão em que são exibidas imagens animadas de trânsito no asfalto, algo que não existe em Veneza.
Artistas das Ilhas Comores apresentam uma instalação bem característica. O pequeno arquipélago, localizado entre Madagascar e o continente africano, ancorou na frente dos Jardins um barquinho de madeira, com um enorme contêiner. Quem passa tem a impressão de que alguém ainda não terminou o trabalho de descarregar o material embarcado.
Mais à frente, o artista israelense Harush Shlomo navega em círculos com uma lancha-instalação, tendo em uma das mãos o timão e em outra uma vara de pescar com um peixe no anzol. O barco aparece, em parte, submerso, apenas a proa e a popa estão acima do nível do mar - e ninguém sabe se ele irá afundar ou não.
Suicida
Os pavilhões nacionais da mostra abrigam de tudo um pouco. O espaço da Finlândia exibe uma piscina em que o manequim de um homem flutua como se fosse o corpo de um suicida.
O pavilhão da Espanha apresenta as obras de Miquel Barceló - séries de pinturas sobre primatas, paisagem africana e espuma das ondas do mar impressionam pelo impacto visual. Em uma delas, gorilas solitários nascem de um pequeno ponto do quadro e, em perspectiva, ocupam toda a tela.
O espaço do Brasil apresenta para Veneza duas realidades com cores bem vivas: a de Maceió, com os quadros de Delson Uchoa, e a de Belém, com os painéis fotográficos de Luiz Braga. O pintor exibe telas armadas em superfícies inusitadas como lonas.
"Qualquer brasileiro sente a vaidade de representar o seu país, ainda mais sendo nordestino. Na minha obra, eu trato a cor e a luz que é o Brasil no seu estado puro", disse Braga à BBC Brasil. "É um testemunho de que (o país) vive no círculo luminoso do planeta. O público percebe a nossa identidade calorosa, algo que não poderia acontecer na Sibéria."
Já as fotografias de Luiz Braga "pescam" o visitante pelos tons suaves com os quais ele conta a realidade amazônica.
"Eu nunca imaginei ver uma visitação tão diversa e constante aqui em Veneza. Gente do mundo inteiro esta vindo aqui. Eu trouxe o Brasil longe dos estereótipos", diz o fotógrafo.
"A minha fotografia privilegia o Brasil natural, a brasilidade da rotina das pessoas e não aquela dos índios, do carnaval, do gringo, aquilo não me interessa", acrescenta Braga, diante do painel de um barco cheio de redes que navega durante a noite pelos rios da Amazônia. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.