sábado, 28 de fevereiro de 2009

Bienal de SP ainda deve aos artistas

Pelo menos 8 participantes da mostra ainda não receberam

Existem "pequenos saldos devedores e créditos a receber decorrentes da realização da 28ª Bienal", afirma a fundação

por Silas Martí da Folha de SP

Quase três meses após o fim da 28ª Bienal de São Paulo, pelo menos oito dos 41 artistas na mostra ainda não foram pagos por sua participação, ou tiveram apenas parte do cachê depositado. A Fundação Bienal também deixou de pagar fornecedores desses artistas e de bancar custos de produção.
Segundo apurou a Folha, a instituição deve cerca de R$ 1 milhão em pendências da última Bienal, que teve R$ 9 milhões de orçamento total.
Procurados pela reportagem, o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, e os responsáveis pelo departamento financeiro não quiseram comentar o assunto. Em e-mail, a assessoria de imprensa da fundação afirmou apenas: "Existem, ainda, alguns pequenos saldos devedores e créditos a receber decorrentes da realização da 28ª Bienal de São Paulo. Estes ajustes estão acontecendo dentro da normalidade".
Normalmente um artista convidado recebe um cachê pela participação na mostra e tem os custos de produção financiados pela Fundação Bienal, embora o reembolso, como na 27ª edição, possa levar 18 meses.
"As únicas memórias que tenho da Bienal são problemas", disse o artista colombiano Gabriel Sierra, 33, à Folha. "É como um jogo de gato e rato."
Sierra passou meses em São Paulo bancado pela Bienal enquanto desenhava o mobiliário usado na exposição, mas até o fechamento desta edição tinha US$ 3.000 a receber dos organizadores do evento.
"Houve uma quantidade de injustiças que fizeram comigo, mentiram para mim", disse o artista Nicolás Robbio, 34, argentino radicado em São Paulo que tem R$ 5.000 a receber.
"Eu tive o mesmo problema na última Bienal [em 2006], isso me parece mais um procedimento recorrente do que um problema desta edição", afirma a artista Mabe Bethônico, 43, que organizou um ciclo de palestras para a 28ª Bienal.
"Tinha um constrangimento da curadoria que me contratou dessa vez porque todo mundo sabia o que eu já havia passado lá dentro", diz Bethônico, que recebeu por sua participação na Bienal de 2006 com um ano e meio de atraso, quando já havia começado o projeto para a edição de 2008 da exposição.

Mais grave do que não receber, na opinião da artista, é não ter como pagar assistentes e fornecedores. "É uma situação constrangedora para o artista", diz Bethônico. Na mesma situação, Dora Longo Bahia, que também não recebeu cachê, e sua galerista, Luisa Strina, gastaram cerca de R$ 20 mil para pagar seus oito assistentes.
"A Bienal ficou de pagar, correr atrás de patrocínio e não fez isso", conta Longo Bahia, 47, que disse também não ter autorização para ligar as luzes quando trabalhava à noite.

Gringos
Tentando evitar mais estresse, alguns artistas estrangeiros, como o norte-americano Casey Spooner, do duo eletrônico Fischerspooner, o argentino Martiniano López-Crozet e a mexicana Milena Muzquiz, do Los Super Elegantes, foram mais duros na negociação.
Spooner se recusou a pegar o avião para fazer sua performance no Brasil até que depositassem o cachê na sua conta, enquanto López-Crozet e Muzquiz esperaram mais de três meses para receber, sendo que tiveram o dinheiro depositado só quando ameaçaram falar sobre o caso numa entrevista ao jornal "The New York Times".