Um incêndio no Rio que só foi controlado neste sábado destruiu quase todo o acervo do artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980), segundo sua família. O artista tem entre suas obras mais importantes a "Tropicália", que inspirou e deu nome ao movimento cultural brasileiro que revolucionou a música, o cinema, o design, a moda e as artes do país nos anos 70.
O artista, que compareceu a uma escola pela primeira vez aos dez anos, teve sua formação influenciada pelo pai, José Oiticica Filho --um dos mais importantes fotógrafos brasileiros-- e pelo avô José Oiticica, intelectual filólogo, professor, escritor e jornalista.
Em 1953, Oiticica começou a estudar pintura com Ivan Serpa, após tomar contato com a obra de Paul Klee, Alexander Calder, Piet Mondrian e Pablo Picasso durante a II Bienal de Arte Moderna de São Paulo. Em 1954, entrou para o Grupo Frente e junto fez a sua primeira exposição no Museu de Arte Moderna.
Nessa época, Oiticica começou a conviver com artistas e críticos, como Lygia Clark, Ferreira Gullar e Mário Pedrosa. Sua obra desse período, entre 1955 e 1957, são pinturas geométricas sob guache e cartão, que resultou em 27 trabalhos nessa técnica, intitulados 'Secos', que foram expostos no Rio de Janeiro, na Exposição Nacional de Arte Concreta.
Em 1959, convidado por Lygia Clark e Gullar, integrou o Grupo Neoconcreto do Rio de Janeiro e passou a realizar pinturas a óleo sobre tela e compensado. São obras monocromáticas que incluem pinturas triangulares em vermelho e branco.
Também em 1959, o artista participou da V Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1960 trabalhou como auxiliar técnico de seu pai, José Oiticica Filho, no Museu Nacional.
A partir do início dos anos 60, Oiticica começou a definir qual seria o seu papel nas artes plásticas brasileiras e a conceituar uma nova forma de trabalhar, fazendo uso de maneiras que rompiam com a ideia de contemplação estática da tela. Surgiu aí uma proposta da apreciação sensorial mais ampla da obra, através do tato, do olfato, da audição e do paladar.
Entre as obras os "Penetráveis", criados para serem vivenciados (ou penetrados) pelo espectador. Nestas obras, o artista passa a criar espaços de convivência que rompem com a relação formal entre arte e observador e pedem presença ativa e distendida no tempo.
Parangolé
Em 1964, o artista aproximou-se da cultura popular e passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, tornando-se passista e integrando-se na comunidade do morro. Vem dessa época o uso da palavra "parangolé" que passou a designar as obras que estava trabalhando naquele momento.
Os primeiros parangolés se compunham de tenda, estandarte e bandeira e P4, a primeira capa para ser usada sobre o corpo. São obras que causaram polêmicas e ele definia como "antiarte por excelência".
Em 1965, o artista começou carreira internacional e realizou a exposição --Soundings Two-- em Londres, ao lado de obras de Duchamp, Klee, Kandinsky, Mondrian, Léger, entre outros.
Em 1967, iniciou suas propostas supra-sensoriais, com os bólides da "Trilogia Sensorial", além dos penetráveis PN2 e PN3 que faziam parte da obra Tropicália, mostrada na exposição Nova Objetividade Brasileira, no MAM, Rio de Janeiro.
Em 1972, usou o formato super 8 e realizou o filme Agripina é Roma - Manhattan. O cinema passou a ser uma referência, e em 1973 criou o projeto Quase-cinema, com a obra "Helena inventa Ângela Maria", série de slides que evocam a carreira da cantora Ângela Maria.
Uma nova série de penetráveis intitulados Magic Square e os objetos Topological ready-made landscapes foram mostrados na exposição Projeto construtivo brasileiro, MAM, Rio de Janeiro, em 1977. Em 1979, criou o seu último penetrável chamado "Azul in azul". Neste ano, Ivan Cardoso realizou o filme "HO", retratando a obra de Hélio Oiticica.
No dia 22 de março de 1980 o artista morreu após sofrer um acidente vascular cerebral no Rio de Janeiro.