segunda-feira, 13 de julho de 2009

Viúva tira de circulação obra atribuída a Joseph Beuys



fonte DW



Beuys se apresenta: 'A revolução somos nós'

Em nome do marido, Eva Beuys zela para impedir a exposição de obras duvidosas. Como a vitrine com lixo recolhido por ele em 1973. Disputa bizarra, tratando-se de alguém que afirmava que "toda pessoa é um artista".

Não é fácil ser artista conceitual. Nem mesmo postumamente. Uma disputa em curso entre a viúva de Joseph Beuys (1921-1986) e um amigo do artista, René Block, ilustra bem os riscos dessa atividade no limiar entre as artes plásticas, a ação política e o exibicionismo pessoal.

No dia 1º de maio de 1972, Beuys realizou uma ação em Berlim intitulada Ausfegen (Varredura). Juntamente com dois estudantes, recolheu lixo das ruas do lado ocidental (capitalista) da metrópole alemã, usando uma vassoura vermelha (comunismo?). Considerando o material recolhido interessante demais para ir parar no lixo, ele o confiou a Block.

Durante 13 anos, o amigo preservou aquele cantinho em sua galeria, limpando-o periodicamente de lenços de papel, bilhetes de ônibus e outros dejetos acrescentados por visitantes distraídos. Tratava-se de preservar o lixo de Beuys em sua forma original.

Terno de feltro exposto em Santiago de Compostela

Vitrine de sucesso

Aí veio a ideia da vitrine. Segundo o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), em 1985, poucos meses antes da morte do artista natural de Krefeld, seu amigo decidira arranjar vassoura, poeira, garrafas de bebida, paralelepípedos etc. numa caixa branca de madeira com janela: uma vitrine como as que Beuys empregara tantas vezes.

Block assegura: "Combinei tudo com Beuys, a coisa ocorreu de acordo com sua vontade". E, mesmo não havendo qualquer registro escrito dessa vontade, iniciou-se ali uma carreira gloriosa. Ausfegen foi exposta na Kunsthalle de Hamburgo, no Hamburger Bahnhof de Berlim, na Tate Modern de Londres e, por fim, na mostra Arte de duas Alemanhas, do Los Angeles County Museum of Art.

Entra a viúva

Em abril de 2009, quando a vitrine se encontrava a caminho da exposição Arte e Guerra Fria, no Neues Museum de Nurembergue, entra em cena Eva, a viúva de Beuys.

Ela já tolerara demais que "Varredura" fosse exposta em nome do finado. "A obra não foi autorizada, nem paga", contabiliza. E acrescenta (note-se o emprego do presente do indicativo): "Meu marido não manda expor coisas que não fez de modo algum".

Eva Beuys acha a vitrine bonita, mas "uma obra de meu marido, nessa forma ela não é". Seja como for, a peça está fora de circulação até que os respectivos advogados consigam definir a distinção entre lixo puro e um Beuys legítimo.

A César o que é de César

A viúva propõe que, caso exposta, Ausfegen seja atribuída a René Block, o qual, afinal de contas, a produziu. Este rejeita a ideia – "Todo o mundo da arte ia rir, não dá, não" – e nem pensa em vender o objeto.

Justiça seja feita: durante uma disputa anterior, ainda em 1987, o amigo do artista afirmara não tratar-se de uma autêntica vitrine beuysiana, mas sim de um mero depósito de material. Na época, a peça foi avaliada em 300 mil marcos alemães (cerca de 150 mil euros).

Finanças à parte, a atual celeuma sobre autoria e propriedade talvez não soaria tão bizarra e mesquinha, se não se tratasse justamente do legado de alguém como Joseph Beuys, que pregava que "toda pessoa é um artista".

Na realidade, apesar de propagar uma doutrina tão liberal, a vida do misto de artista plástico, performer, ativista, xamã, clown e teórico confuso tampouco foi livre de contradições. Como demonstrou o "caso da banheira suja".

Banheira suja e canto de sebo

Em 1973, sua unbetitelt (Badewanne) [sem título (Banheira)]aguardava para ser exposta em Wuppertal, por empréstimo permanente de seu proprietário, um colecionador importante. Tratava-se de uma banheira de bebê, trabalhada com pedaços de esparadrapo e bandagens.
Unschlitt/Tallow: blocos de sebo no Hamburger Bahnhof de Berlim

Paralelamente, realizava-se no local do depósito, o Museu de Leverkusen, uma festa do Partido Social Democrata (SPD). À procura de um recipiente para lavar copos de cerveja, duas deputadas depararam com a banheira "suja". Ignorantes de seu estatuto de obra de arte, elas fizeram o impensável: esfregaram-na até ficar brilhando, depois utilizando-a para seus fins pragmáticos.

Beuys foi o primeiro a não achar graça de tamanha insensibilidade artística. Seguiu-se um processo, ao fim do qual a cidade de Wuppertal, na qualidade de detentora do empréstimo, foi sentenciada a pagar 40 mil marcos ao proprietário. O artista recebeu a banheira – limpa – de volta, e refez a obra.

Treze anos mais tarde, a destruição – igualmente involuntária – de um dos numerosos Fettecke (Cantinho de sebo) de Beuys pelo zelador da Academia de Arte de Düsseldorf resultou em sentença semelhante.

Beuys e Da Vinci

No entanto, agora, mais do que nunca, seu acervo parece estar em mãos seguras. Eva Beuys tornou-se extremamente sensível para questões de propriedade intelectual, desde um prolongado – e, segundo o FAZ, "indigno" – debate com o Museu Moyland sobre se era lícito substituir uma barra de chocolate, numa instalação de Beuys, por uma imitação de papelão.

A herdeira não parece ter dúvidas sobre sua missão. Ao comentar a notoriedade de Ausfegen, ela passa por cima dos postulados do próprio marido sobre "obra" e "artista", e carrega nas tintas sem medo: "É como uma falsificação de Leonardo da Vinci que as pessoas amam mais do que o original".

Autor: Augusto Valente
Revisão: Rodrigo Abdelmalack


Críticos lançam Manifesto em Defesa da Exibição das Obras de Arte Brasileiras


Críticos de arte de São Paulo e do Rio de Janeiro lançaram em 01/07/09 o "Manifesto em Defesa da Exibição Pública das Obras de Arte Brasileiras", contra herdeiros de artistas que cobram até R$ 150 mil para autorizar a exposição de obras e a publicação de suas imagens. Depois que trabalhos de Volpi ficaram de fora de um catálogo do Instituto Moreira Salles e de problemas com imagens de Lygia Clark, o documento afirma que é "inaceitável" o "controle sobre informações e interpretações de obra e artista". A iniciativa tem o apoio de críticos de arte como Fernando Cocchiarale, Ferreira Gullar, Glória Ferreira, Guilherme Wisnik, Luiz Camillo Osório, Otavio Leonídio, Rodrigo Naves e Ronaldo Brito, entre outros.

O último grito


Projeto de intervenção pública do artista brasileiro Henrique
Oliveira, que fará parte da próxima edição da Bienal do Mercosul

Silas Marti da Folha de S. Paulo


Grito e escuta. De uma ponta a outra, quase 200 artistas estão escalados para a próxima Bienal do Mercosul, divididos entre aqueles que berram e os que absorvem o impacto.
Na véspera do anúncio oficial, marcado para amanhã em Porto Alegre, a Ilustrada antecipa os principais nomes da sétima edição da mostra, que já se consolidou como um dos maiores eventos de arte contemporânea no hemisfério Sul.
Estão escalados desde jovens em ascensão -os brasileiros Henrique Oliveira e Cadu Costa e o peruano José Carlos Martinat- a veteranos, como Anna Maria Maiolino, e artistas históricos, como Flavio de Carvalho, o belga James Ensor e o americano John Cage.
Este último serve de espinha dorsal à mostra, que começa em outubro em Porto Alegre. Suas performances e composições experimentais são um roteiro para "Grito e Escuta".
"A Bienal em geral tem um interesse por tudo o que é exploração sonora", resume a argentina Victoria Noorthoorn, curadora-geral da exposição junto do chileno Camilo Yáñez.
Tanto que até uma rádio, coordenada pela artista Lenora de Barros, está no projeto, veiculando obras e intervenções sonoras uma hora por dia. "É uma possibilidade de irradiar essa Bienal", diz Noorthoorn. "Ela vai estar no ar."
Não é a primeira vez que isso acontece. A última Trienal de Luanda, evento bem menos conhecido, programou intervenções em rádio e televisão. Questões sonoras, aliás, já estavam de volta com força total num revival do gênero no início desta década, com mostras emblemáticas em museus e galerias de Londres e Nova York.
Também se repete a estrutura da mostra. A exemplo da Bienal de Lyon e outras mostras, um time de dez artistas, no lugar de curadores, cuidou da seleção de nomes para a exposição. Entre eles, estão os brasileiros Artur Lescher, Laura Lima e Lenora de Barros, o colombiano Bernardo Ortiz e o mexicano Erick Beltrán.
É um time que reflete em parte a origem dos escolhidos. O Brasil é o país mais bem representado na lista, seguido de Argentina, Chile e Colômbia. "Sabemos que uma bienal com curadoria de artistas não é uma novidade", diz Noorthoorn. "Não temos nenhuma pretensão de originalidade."

Exposição crua
De fato, a pretensão é outra. Querem fazer o artista aparecer menos como autor e mais como agente cultural. "Não há nenhum artista homenageado, nenhuma individual", adianta Camilo Yáñez, artista e curador-geral. "São todos nomes que estão numa posição transversal, como John Cage."
"Ele marcou a queda do egocentrismo, negava a autoria em nome de uma arte social", diz Noorthoorn sobre o americano, que terá duas de suas performances refeitas na mostra. "Não é só o artista que grita, eles renunciam aqui ao capital técnico e simbólico, fazem uma exposição mais crua, sem ornamentos, retórica e acessórios."
Ajuda nessa crueza o fato de muitos dos quase 200 nomes na mostra serem estreantes em bienais, marcando um diálogo fresco com obras dos mestres.
"Queríamos uma bienal para dar valor e espaço a gente excepcional que não teve reconhecimento", admite Noorthoorn. "Se tivéssemos seguido ao máximo nossos instintos, teríamos só artistas estreantes."
Ainda em sintonia com a proposta central da Bienal do Mercosul, de exibir e contextualizar a produção latino-americana, a mostra tenta trazer à tona alguns nomes esquecidos, como o pioneiro chileno da videoarte, Juan Downey, e o compositor brasileiro Guilherme Vaz.
Artistas conhecidos em países vizinhos e pouco vistos no Brasil também têm vez. O artista e estilista argentino Sérgio De Loof, conhecido por seus desfiles-protesto, planeja um happening para a exposição.
Extrapolando o campo das artes para outras esferas, o coreógrafo brasileiro Luiz de Abreu também fará uma performance na Bienal, marca de uma vontade multidisciplinar que volta e meia contamina o campo das artes plásticas.
"Não é um interesse por sair das artes visuais, e sim postular que as artes plásticas trabalham com outras disciplinas", diz Noorthoorn. "Não sei se acreditamos tanto numa divisão entre essas disciplinas."

Bienal de São Paulo importa modelo gaúcho de gestão


Folha de S. Paulo

Não causou espanto a escolha de Justo Werlang para integrar a nova diretoria da Bienal de São Paulo. O empresário e colecionador, que esteve até agora à frente da Bienal do Mercosul, entrou na chapa do novo presidente, Heitor Martins, para modernizar a gestão fraca e datada da mostra paulistana, afundada em dívidas.
Embora evite fazer críticas às gestões de Manoel Francisco Pires da Costa, que presidiu a Fundação Bienal de São Paulo até maio deste ano, Werlang reconhece que os planos do novo presidente são parecidos com o que se fazia em Porto Alegre.
"É muito difícil falar de fora, com a visão de um outsider", diz Werlang. "Objetivamente [a nova gestão paulistana] é o que nós gostávamos de praticar na Bienal do Mercosul."
Fundado em 1997, o evento em Porto Alegre teve público comparado ao da Bienal de São Paulo em suas últimas três edições, com mais de 1 milhão de visitantes em 2003. Custou em média R$ 8 milhões por edição, com maior parte dos recursos captados via Lei Rouanet, seguida de verbas do Estado do Rio Grande do Sul e de patrocinadores -o maior deles é a empresa metalúrgica Gerdau.
A edição atual da Bienal do Mercosul está orçada em R$ 7,5 milhões e terá cerca de 200 artistas. Numa comparação rasteira, a última edição da Bienal de São Paulo custou R$ 11 milhões e teve cerca de 40 nomes.

Estrutura fixa

Segundo Werlang, manter uma estrutura fixa entre uma edição e outra da mostra é parte do sucesso do evento gaúcho. Em vez de dissolver as equipes como faz a Bienal de São Paulo, a do Mercosul mantém um projeto pedagógico funcionando, além de outros setores.
"Existe uma estrutura fixa", afirma Werlang. "Em todas as áreas, há pessoas que operam durante o período todo."
Werlang também defende o processo de escolha do curador adotado na última Bienal do Mercosul, em que um concurso internacional escolheu um projeto vencedor. Em São Paulo, a nova diretoria escolheu Moacir dos Anjos para a curadoria da próxima edição, que será oficializada hoje (SM)

Moacir dos Anjos dirige Bienal de SP


Crítico de artes plásticas foi escolhido diretamente pelo presidente da fundação, Heitor Martins, e será anunciado hoje

Dos Anjos deve indicar pelo menos mais dois nomes, provavelmente vindos do exterior, para trabalharem na 29ª edição, em 2010

Fábio Cypriano da Folha de S. Paulo

O presidente da Bienal de São Paulo, Heitor Martins, anuncia, hoje, Moacir dos Anjos como o curador da 29ª Bienal de São Paulo, que será realizada no próximo ano, segundo apurou a Folha.
Diferentemente das últimas duas edições, que tiveram seus curadores, Lisette Lagnado (27ª) e Ivo Mesquita (28ª), escolhidos por processo seletivo, desta vez a indicação ocorreu diretamente pelo presidente.
Na entrevista coletiva marcada para hoje, na sede da Bienal, Dos Anjos não estará presente. Atualmente ele vive em Londres, onde realiza um pós-doutorado em arte transnacional, identidade e nação na Camberwell College of Arts.
Segundo a Folha apurou, o curador deverá apontar nos próximos dias, ao menos outros dois curadores para trabalhar com ele na Bienal, provavelmente nomes estrangeiros.
De acordo com Martins, o motivo da indicação sem processo seletivo foi facilitar o trabalho do curador, que terá pouco mais de um ano para organizar a exposição. O atraso na escolha, contudo, não tem a ver com o novo presidente, que foi eleito há pouco mais de dois meses, por conta da difícil situação financeira em que a fundação se encontrava.
Economista por formação, da graduação ao doutorado, Dos Anjos começou a se projetar no cenário artístico como diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), de Recife. Entre 2001 e 2006, ele organizou mostras de artistas como Rosângela Rennó e Nelson Leirner.
Em 2004, ele foi curador da mostra Paralela, evento organizado pelas galerias paulistas simultâneo à Bienal de São Paulo, que chegou a ser considerado melhor que ela própria. Em 2006, ele foi curador da exposição de Cildo Meireles, na Pinacoteca do Estado, umas das mais importantes mostras do artista no país.
Já em 2007, foi um dos cocuradores da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, além de responsável pela mostra bienal Panorama da Arte Brasileira, do MAM de São Paulo, intitulada "Contraditório", também exibida em Madri, em 2008.