terça-feira, 30 de junho de 2009

"Présumés Innocents"

fonte: E-Flux

"Presumed Innocents", the trial: 10 years later"

Bordeaux Judge Reopens Decade-Old Child-Porn Charge
Against Curators Marie-Laure Bernadac, Henry-Claude
Cousseau, and Stéphanie Moisdon

Marlene Dumas, included in the exhibition, with one of her "obscenities."Photograph: Martin Godwin. June 30, 2009

Indicted at the end of 2006 , after six years of investigations, long period during which no element was produced that could have fed the prosecution (the specialized unit for minors and the rectorship gave a favourable opinion) and after the attorney general of Bordeaux called for a not guilty decision in march 2008 the trial judge Jean-Louis Crozier has just decided to refer before the magistrate's court Marie-Laure Bernadac, Henry-Claude Cousseau, and Stéphanie Moisdon, for having, within the exhibition entitled "presumed innocent- contemporary art and childhood " organized 2000 in the CAPC contemporary museum of art in Bordeaux exposed " violent and pornographic art works "*.

With this decision—which, in an extremely unusual move, disregards the conclusions of a Parquet investigation—the entire national and international artistic and professional community, together with the cultural image of France, have come under attack and stand accused, offended.

For the first time in France, two museum directors and a curator are to be tried in a criminal court for exhibiting works of art that have already been shown throughout the world or put on view since the Bordeaux exhibition in art shows that have not elicited the least unfavorable reaction from the public. The thinking that went into preparing the incriminated exhibition, focused on a major subject of art history, was developed collectively and was shared by the relevant state oversight authorities.

This court case from an earlier century, fiercely, relentlessly prosecuted by a single judge in contempt of artistic creation and individuals' right to accede freely to all forms of art, is indicative of a dangerous obscurantist attitude. The trial will take place in Bordeaux under pressure from a local child protection association named La Mouette, in turn supported by an extremist press that has already been found guilty of libel against one of the accused.

How is it possible that what is considered viewable and acceptable everywhere else should not be so in Bordeaux? What will be put on trial in the Bordeaux magistrates' court a few months from now is the work and personal and professional conviction of three figures of the world of art and culture unanimously recognized for their commitment to that world. They have already received thousands of messages of support from all horizons.

This attempt to "criminalize" artists and other actors for their creative work, together with the cultural sites that diffuse that work, requires us to be extremely vigilant about censorship of this kind, whose perpetrators are ever ready to use noble causes such as child protection to authoritarian, liberticidal ends.

MARIE-LAURE BERNADAC, HENRY-CLAUDE COUSSEAU, STEPHANIE MOISDON

* including works by Christian Boltanski, Gary Gross, Paul McCarthy, Mike Kelley, Cindy Sherman, Nan Goldin, Robert Mapplethorpe, Elke Krystufek, Carsten Höller, Annette Messager, Ugo Rondinone…..

FLIP: Sophie Calle

Livro de Sophie Calle deixa mistério sobre o que é verdade ou invenção; leia trecho


da Folha Online

"Histórias Reais"
Autora: Sophie Calle
Editora: Agir
ISBN: 8522008787
Páginas: 88
Quanto: R$ 34,90

A mesa 12, que ocorrerá no próximo sábado (4), às 11h45, reserva um algo a mais para o público da Flip-2009 (Festa Literária Internacional de Paraty). Sob o tema "Quatro Paredes", o primeiro encontro público entre a artista plástica francesa Sophie Calle, 55, e o escritor francês Grégoire Bouillier, 49, diluirá ainda mais as fronteiras entre realidade e ficção, presentes na obra de ambos.

Bouillier, antigo companheiro da artista, rompeu o relacionamento por e-mail, terminando o texto com a frase "Cuide de você". Calle então pediu a 107 mulheres das mais diferentes profissões que lessem e interpretassem sua reação diante daquela resposta. Esse conjunto de expressões femininas foi filmado por Calle, tornou-se uma obra de sucesso ("Prenez Soin de Vous", a famosa frase, em francês), e representou a França na Bienal de Veneza, em 2007. O livro que leva o mesmo nome é um dos assuntos que será abordado pela escritora na Flip. No próximo mês, ela vem a São Paulo para inaugurar a exposição, no SESC Pompéia.

Outra surpresa que Calle traz ao país é a publicação de "Histórias Reais" (Agir, 2009), sua primeira obra a ser lançada por aqui. O livro relata as experiências autobiográficas da escritora. Das aventuras pessoais --infância, cotidiano e relacionamentos-- à experiência sensorial de seus traços, desta vez no texto e não na tela, ela revela-se por vezes uma menina que segue os conselhos do pai e vai ao médico, uma moça que compartilha suas intimidades com desconhecidos, e uma mulher que convive com os entrementes da relação com "Greg" (Grégoire Bouillier). O que seria verdade ou invenção? O mistério fica sob a responsabilidade do leitor.

Trechos extraídos do livro "Histórias Reais" :

Os seios milagrosos
Quando eu era adolescente, praticamente não tinha seios. Para imitar minhas amigas, comprei um sutiã que, evidentemente, não me servia para nada. Minha mãe, que exibia com orgulho um busto esplendoroso, e que nunca perdia uma oportunidade de fazer uma gozação, apelidara-o de porta-nada. Ainda posso ouvi-la. Durante os anos que se seguiram, lentamente, meu peito foi aumentando. Mas nada muito excitante. E de repente, em 1992 - a transformação se deu em seis meses -, ele começou a crescer. Sozinho, sem tratamento nem intervenção exterior, milagrosamente. Juro. Triunfante, mas na verdade sem muita surpresa, atribui a performance a vinte anos de frustração, de inveja, de devaneios, de suspiros.

O nariz
Eu tinha quatorze anos e meus avós queriam mandar corrigir algumas das minhas imperfeições. Iriam refazer meu nariz, disfarçar a cicatriz da minha perna esquerda com um pedaço de pele retirada das nádegas, e ainda corrigir as orelhas de abano. Eu não estava convencida, mas me tranqüilizaram: até o último instante eu poderia desistir. Uma consulta foi marcada com o doutor F., famoso cirurgião plástico. Foi ele que acabou com as minhas dúvidas. Dois dias antes da operação, ele se suicidou.

O porco
É uma história meio louca. Eu tinha trinta anos. Um homem me procurou dizendo que tínhamos projetos similares. Concordei em marcar um encontro com ele, sempre tenho medo de perder alguma coisa. Sua arte consistia em pedir a desconhecidas que dormissem com ele. Eu mesma já não havia pedido a estranhos que deitassem na minha cama para serem fotografados? Ele combinou de me levar a um churrasco em Neuilly. Durante a noite inteira, banquei a empregada. Grelhei salsichas, servi, limpei. Ocupada, o tempo passava mais depressa. Tarde da noite, ele me deixou na porta de casa, curvou-se, procurou meus lábios. Empurrei-o, dizendo: "Quem disse que quero beijá-lo?" Ele respondeu: "Não faz mal, você come como um porco!" Vários anos se passaram, mas essa frase continua me atormentando. Não lembro mais nada desse indivíduo, mas ele continua sentado à minha mesa.

O strip-tease
Eu tinha seis anos e morava na rua Rosa-Bonheur, com meus avós. Todos os dias, quando voltava para casa, ia tirando a roupa no elevador e chegava nua ao sexto andar. Em seguida, atravessava depressa o corredor e, assim que entrava no apartamento, ia me deitar. Vinte anos depois, era numa barraca de um parque de diversões, em Pigalle, que eu me despia todas as noites, usando uma peruca loura, caso meus avós, que moravam no bairro, viessem a passar por ali.

A carta de amor
Sobre a mesa, está jogada displicentemente, há anos, uma carta de amor. Eu nunca havia recebido uma carta de amor. Encomendei uma a um escritor público. Oito dias depois, recebi uma linda carta de sete páginas, escrita à mão, em versos. Havia custado cem francos, e o homem dizia: "... sem fazer um só gesto, segui você por toda parte...".

O dado
Sempre gostei que decidissem por mim. Com B. tínhamos uma regra: nos dias pares ele decidia, nos dias ímpares era eu. Quando ele foi para a América, deu-me um dado de presente para substitui-lo.

O dado (continuação)
Um dia, num vernissage, um jovem aproximou-se de mim e se apresentou. Tinha o mesmo sobrenome de B. Manifestei minha surpresa diante da semelhança até entre a ortografia, pouco comum, de seu sobrenome e do sobrenome do meu amante. Sua resposta foi galante: dois homens com o mesmo sobrenome me amavam. No dia seguinte, convidou-me para compartilhar sua cama. Confiei minha decisão ao dado. Por intermédio de seu presente, B. aprovava seu sucessor.

O mau hálito
Eu tinha trinta anos e meu pai achava que eu tinha mau hálito. Sem falar nada comigo, ele marcou uma consulta com um clínico qualquer. Fui. Assim que cheguei, pelo jeito dele, compreendi logo que se tratava de um psicanalista. Sabendo da implicância que meu pai sempre manifestara para com essa profissão, expliquei a ele a situação: "Houve um engano. Meu pai acha que tenho mau hálito, mas ele me mandou a um clínico geral". O psicanalista retrucou: "Você sempre faz o que seu pai manda?" Tornei-me sua paciente.

O divórcio
Nas minhas fantasias, eu sou o homem. Greg logo percebeu. Talvez tenha sido por isso que um dia ele me propôs que eu o fizesse urinar. Isso se tornou um ritual entre nós: eu ficava atrás dele, desabotoava-lhe as calças sem ver, tirava o pênis, fazia um esforço para colocá-lo na posição adequada e visar bem. Depois, recolocava-o lentamente no lugar e fechava a braguilha. Pouco depois da nossa separação, sugeri a Greg que tirássemos uma foto como lembrança desse ritual. Ele aceitou. Então, num estúdio do Brooklyn, diante da câmera, fiz com ele urinasse em um balde de plástico. Essa foto serviu de pretexto para que eu pusesse a mão no seu sexo, pela última vez. Naquela noite, aceitei o divórcio.

O outro
Aquele homem me agradava, mas na nossa primeira noite de amor tive medo de olhar para ele. Eu achava que ainda amava Greg, e temia ser dominada pelo pensamento de que aquele não era o homem que deveria estar ali, na minha cama. Preferi fechar os olhos. A incerteza persistia na escuridão. Um dia, fiz a bobagem de dizer a ele porque eu mantinha as pálpebras fechadas na cama. Ele não deixou transparecer seus pensamentos. Alguns meses depois, finalmente livre do fantasma de Greg, abri os olhos, certa de que a partir daquele momento era aquele outro que eu queria ver. Eu não sabia que seria nossa última noite: ele ia me deixar.

"Aquilo que acontece possui uma tal antecipação que nunca podemos ir ao seu encontro e conhecer sua verdadeira aparência".

Valores cobrados por herdeiros de artistas dificultam realização de mostras

Silas Marti da Folha de S.Paulo

Obras de Alfredo Volpi e Lygia Clark vão ter destaque na mostra que o Museum of Fine Arts de Houston planeja abrir em Zurique no fim deste ano, mas nenhuma imagem delas estará no catálogo. A não ser que as famílias dos artistas aceitem receber menos pelas fotos, como vai pedir nesta semana a curadora do museu.

Mari Carmen Ramírez já não pôde publicar imagens de Volpi num catálogo que o museu de Houston publicou em 2007 e agora briga para evitar o mesmo desfecho. "Estamos falando em milhares de dólares, quando o normal é nunca pagar mais de US$ 300 por cada imagem", afirmou Ramírez, à Folha.

Herdeiros podem cobrar pelas imagens e pela exposição das obras mesmo que as peças tenham sido vendidas a museus ou a colecionadores.

Volpi também ficou de fora do catálogo de uma grande individual dedicada à sua obra em cartaz até o fim desta semana no Instituto Moreira Salles do Rio, porque não foi pago o valor pedido pelo advogado da família, que era de R$ 150 mil.

Organizadores da mostra ofereceram R$ 35 mil à família para fazer a exposição e publicar um catálogo, mas não houve acordo. Agora, a filha de Volpi e seu advogado ameaçam processar o IMS por terem feito a mostra sem autorização.

"As famílias estão cada vez mais ávidas, eu não sei aonde vai parar isso", disse o crítico Ronaldo Brito, que já teve cópias apreendidas de seu livro "Neoconcretismo", com uma obra de Lygia Clark na capa --segundo parentes da artista, a editora Cosac Naify não pagou para reproduzir imagens.

No fim do ano passado, a galerista Raquel Arnaud sofreu para organizar uma exposição de Volpi no Instituto de Arte Contemporânea, em São Paulo, mas acabou cedendo e pagou R$ 50 mil --valor que conseguiu baixar dos R$ 100 mil originais-- pelas imagens. "A gente brigou muito por causa disso", lembra Arnaud.

É um problema que se arrasta. A curadora independente Denise Mattar diz que passou cinco anos de sua vida indo a fóruns porque foi processada pela família de Di Cavalcanti quando fez duas mostras no Rio, nos anos 90.
"A coisa é uma bola de neve", diz Mattar. "A família acaba contratando um advogado, que também quer dinheiro. Vai virando um círculo complexo."

Zelo pela imagem

De um lado, curadores, instituições e críticos de arte reclamam que a cobrança das famílias prejudica a realização de exposições, arriscando jogar no ostracismo a obra de um artista. Do outro, parentes e advogados dizem que é preciso zelar pela imagem dos que já morreram, e que isso tem um preço.

"Tem que ter um limite para isso, porque limita o acesso à obra", diz Vanda Klabin, curadora da mostra de Volpi agora em cartaz no IMS do Rio. "É preciso deixar uma margem em que você possa trabalhar."

Ronaldo Brito fala em tornar "invisível" a história da arte brasileira. "A difusão da obra de arte brasileira vai encontrando obstáculos, e isso influi no preço das próprias obras", diz o crítico Paulo Sergio Duarte. "Até do ponto de vista da lógica do capital, a coisa é torta."

Incômodo

"Se eu estivesse advogando para um artista menor, talvez nossa política fosse diferente", diz Salvador Ceglia Neto, advogado da família de Volpi, à Folha. "Volpi é Volpi, a força da obra dele é maior do que isso."

Ele descarta que os valores cobrados possam jogar o artista no anonimato. Diz que as críticas partem de colecionadores, que querem suas obras divulgadas, e de críticos, que querem mais exposições sobre as quais escrever. Também diz que esse é o custo para barrar a circulação de obras falsas de Volpi.

"Com essa cobrança acabamos forçando a formalização das transações", diz Ceglia Neto. "Os proprietários das obras querem ficar no anonimato e essa política incomoda."

"A gente está num mercado capitalista", diz Patrícia Volpi, neta do artista. "O argumento é sempre que estão fazendo uma homenagem, mas ninguém diz estar atrelando a marca a outra marca." No caso, a primeira marca é Volpi, e a segunda, o IMS, ligado ao Unibanco.

"Não houve exposição que deixou de ser feita por causa disso", diz Álvaro Clark, filho de Lygia. "Eu não vejo dificuldade. É que antigamente as coisas eram mais liberais."

Ele diz que sua Associação Cultural Mundo de Lygia Clark cobra em média 165 por imagem de obra. Mas é preciso que o trabalho em questão tenha um certificado de autenticidade emitido por eles. "Não cobramos pela certificação. Só pedimos que a pessoa contrate um fotógrafo para fazer a imagem da obra e um museólogo para fornecer um condition report [laudo de condições]", diz.

Clark diz que hoje há cerca de 580 obras certificadas e que gasta recursos dos direitos autorais para barrar falsificações. "É um processo claro e limpo. Quero limpar o mercado."

Família de Hélio Oiticica não cobra por imagens


Silas Marti da Folha de S.Paulo

Na contramão de famílias que cobram para liberar imagens de obras, os Oiticica têm uma política mais liberal. Cobram pelo empréstimo das obras de Hélio Oiticica, morto em 1980, mas liberam sem encargos imagens e documentos de seus trabalhos.

"Não vou cobrar dinheiro para exibir imagens do Hélio, mesmo porque você enterra o artista quando faz isso", diz César Oiticica, irmão de Hélio. Ele e Cláudio, outro irmão do artista, fundaram em 1981 o Projeto Hélio Oiticica, que cuida de seu espólio.

"Esse projeto se financia emprestando obras do Hélio", diz César Oiticica. De caráter mais conceitual, quase todas as obras do artista, cerca de 95%, não foram vendidas e ficaram nas mãos de seus parentes.

Feeling para cobrar

Oiticica diz, no entanto, que é preciso saber cobrar o valor adequado para o empréstimo das obras. "A gente sabe que existe um valor de mercado", diz. "A exposição é ótima para o museu, para o curador, mas é um valor que precisa ter o feeling para cobrar. Se você cobrar muito caro, ninguém compra."

Oiticica critica quem cobra pela divulgação de imagens. "Não é uma boa política, porque a gente sabe que isso é muito ruim para a obra do artista", diz. "A maior sacanagem que você pode fazer com um artista é dar um jeito de não expor a obra dele."