quarta-feira, 18 de março de 2009

MERECE NOTA

Jorge Macchi no Iberê

O artista plástico argentino Jorge Macchi – um dos três homenageados da última Bienal do Mercosul, em 2007, com uma grande exposição no Santander Cultural – está de volta a Porto Alegre. Amanhã, às 18h30min, no auditório da Fundação Iberê Camargo (Avenida Padre Cacique, 2.000), ele fala sobre sua trajetória e mostra imagens de seu trabalho. A entrada é franca. Macchi é o atual convidado do programa Ateliê de Gravura, que chama artistas contemporâneos para trabalhar na velha oficina de gravura de Iberê Camargo.
JIMMIE DURHAM
Pierres Rejetées ...

por Sílvia Guerra do ArtCapital.net


MUSÉE D’ART MODERNE DE LA VILLE DE PARIS
Avenue du President Wilson, 11
75116 PARIS
30 JAN - 12 ABR 2009

O último nativo americano em Paris

“Art is in the not ending-ness of the experience”

“Foi no Iraque que se construiu a primeira cidade. Era a cidade de Gilgamesh e foi também sob o seu reinado que nasceu a primeira linguagem escrita. Tudo começou com ele e com a forma como construiu a cidade. “

“... Queria criar contra a arquitectura monumental europeia então comecei a atirar pedras como um instrumento, o meu instrumento, contra frigoríficos, televisores e automóveis e finalmente sobre um avião mas basta ir a um cemitério para ver como são delicadas as pedras.” > Jimmie Durham

Como o vídeo “Pursuit of happyness” (2002) testemunha, um jovem artista, pode querer “queimar” as suas origens e sair do seu país natal, onde a institucionalização dos valores e da verdade o incomodam. Neste filme, Joe Hill, alter ego de Jimmie Durham, protagonizado por Anri Sala (Albânia,1974), inicia uma recolha itinerante de objectos, num mítico on the road americano. Segue-se uma primeira exposição aclamada pelo público; o galerista paga-lhe generosamente e o artista decide queimar a roulotte onde vivia e partir para o velho continente.

O Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris apresenta uma exposição monográfica consagrada a Jimmie Durham que reúne os últimos 15 anos da sua produção artística na Europa. O seu título provém da expressão pedras rejeitadas pelos construtores do Salmo 118 - 22 da Bíblia, que se refere ao sistema hierárquico do Estado, que o artista rejeita. Nele o arquitecto detém o poder de construir e destruir a Cidade regendo a vida dos cidadãos. Imaginemos, porém, que não conhecemos este artista, nem qualquer facto real sobre a sua vida ou obra e começamos a nossa visita à exposição, onde as obras nos parecem frescos, readymades, dos anos 2000.
Jimmie Durham, “Encore tranquillité”, 2008. Avião, pedra. 150 x 860 x 860 cm.
Cortesia de Pury & Luxembourg, Zurich. © Roman März


Na entrada do Museu encontramos a peça que foi capa da revista Artforum de Janeiro de 2009: “Encore tranquilité” (2008) que consiste de um avião partido em dois por uma enorme pedra. A obra é impressionante, exposta no sopé da escadaria do museu, junto da “Fée Electricité” de Raoul Dufy, a lançar um sortilégio do alto das escadas. Subimos para o primeiro andar do edifício onde se estende a monografia e deparamos com os auto-retratos fotográficos do artista (“Self-portraits” de 1995 a 2006) sob uma máscara de Maria Thereza Alves ou de Rosa Lévy. Prosseguimos com as esculturas de grandes dimensões que fazem o tour da história de arte Ocidental, reinventada por Durham e onde a intervenção com pedras é visível. Expõe-se também os vídeos realizados em co-autoria com a sua companheira, a artista americano-brasileira Maria Thereza Alves que datam da chegada do casal à Europa em 1994 até hoje. Por vezes são solilóquios do artista ao telefone, em frente à câmara, ou registos arquivísticos de ateliers com jovens artistas como o realizado para a Fondazione António Ratto, em Como, na Itália (2004), onde entre os participantes se contava Mário Garcia Torres.

Chegamos a uma grande sala onde estão dispostos diversos bidões de petróleo numa instalação. A peça intitula-se “Sweet life crude” (2008), e cada bidão pintado em doces tons pastel tem uma palavra inscrita como: puro, amor, fraternidade, etc.; depois voltamos aos “self-portraits” de Jimmie Durham, com cores guerreiras no rosto. Passamos ainda por “Saint Frigo” (1996), uma obra que pertence à colecção do Ministério da Cultura português. Talvez por mérito de Isabel Carlos subdirectora do Instituto de Arte Contemporânea entre 1996 e 2001, que também levou Durham a realizar a sua primeira obra de grandes dimensões para a Bienal de Sidney em 2004: “Still Life with Stone and Car”, um Ford Festiva vermelho esmagado por uma enorme pedra pintada com um rosto humano.

“Saint Frigo” é uma das primeiras experiências de Jimmie Durham no seu processo de alteração dos objectos, de “modelagem” escultórica através do lançamento de pequenas pedras; muitas vezes os objectos que utiliza estão destinados a ir para a sucata, como é o caso do mono-motor ex libris desta exposição, ou a serem vendidos a África por não possuírem as condições de segurança exigidas pela União Europeia. Ele transforma estes objectos industriais pela sua intervenção artística em objectos de colecção “salvando-os do desprezo do homem”. Finalmente, numa vitrina de grandes dimensões expõe-se pequenos objectos que são fósseis petrificados de pecorino italiano, nuvens, salame entre outras, que se intitulam “The Dangers of Petrification” (1996–2007).
Jimmie Durham, “He said I was always juxtaposing, but I thought he said just opposing.
So to prove him wrong I agreed with him..., 2005. Cortesia de Pury & Luxembourg, Zurique

Saímos da exposição com um pequeno sorriso à Mona Lisa, mas sentimos que precisamos de saber mais sobre a pré-historia destas pedras rejeitadas...
Rewind ... Jimmie Durham é um nativo americano descendente dos índios Navajo, lutou entre os anos 70 e 80 pelos direitos do homem e dos índios inclusivamente como seu representante nas Nações Unidas. Em 1994 decide transferir-se definitivamente para a Europa devido à desilusão ideológica em relação ao seu país onde “líderes políticos mandam esculpir o seu rosto nas montanhas”. Jimmie Durham nunca se auto-definiu como um artista pois tem dúvidas sobre a marca da assinatura na arte. As suas preferências artísticas vão para “O Cordeiro Mágico” de Van Eyck e “One of these stupid flower painting” de Monet.
Jimmie Durham, “Jesus (Es geht um die Wurst)”, 1992. Técnica mista. 149 x 110 cm. MuHKA, Musée d'Art contemporain, Anvers

Os símbolos americanos do selvagem transformados pelo capitalismo em jipes Cherokee ou na lingerie da personagem Pocahontas, foram o mote para muitas das suas obras que fazem alusão a todos estes clichés adoçados da cultura americana. Seguiu-se depois a sua acção com as pedras e com elas a um certo retorno à natureza pelo poder do primeiro instrumento pré- histórico do homem. Porque não convidar Jimmie Durham a fazer um atelier com jovens artistas portugueses? É um excelente pedagogo. A obra de Jimmie Durham precisa de um certo substrato conceptual e cultural para ser entendida a um segundo nível, mas desde uma primeira leitura as suas obras são surpreendentemente libertadoras no mesmo sentido em que as vanguardas artísticas o foram no início do séc. XX. As de Jimmie Durham são-no numa época de homogeneização da cultura e das últimas etnias.

As pedras rejeitam estar na arquitectura europeia das catedrais do homem branco para voltarem ao seu estádio inicial na natureza: arte conceptual ou arte primitiva?
Sweet life crude!