segunda-feira, 27 de julho de 2009

Coreógrafo norte-americano Merce Cunningham morre aos 90 anos

O coreógrafo Merce Cunningham, considerado um dos grandes nomes da dança contemporânea, faleceu em Nova York aos 90 anos, anunciou nesta segunda-feira a fundação que leva seu nome.

Duas imagens de arquivo mostram a coreógrafo americano Merce Cunningham; à esquerda, uma foto de 1973, e à direita, outra de 1988 Cunningham morreu nesta segunda (27) aos 90 anos

"É com grande pesar que informamos o falecimento de Merce Cunningham, que morreu serenamente em sua casa durante a noite por causas naturais", declarou a Fundação Cunningham Dance Foundation e a Merce Cunningham Dance Company em seu comunicado conjunto.

O texto elogia a contribuição artística de Cunningham, afirmando que ele "revolucionou as artes visuais e do palco, não por ser meramente iconoclasta, como também para alcançar a beleza e o assombro de explorar novas possibilidades".

Merce Cunningham em 1995

Em sua cadeira de rodas, o lendário coreógrafo continuou dirigindo até seus últimos dias no West Village sua própia companhia, fundada em 1953 como um laboratório do movimento aberto à inovação e experimentação.

Nascido em 1919 em Centralia, no Estado de Washington, Cunningham estudou balé em Seattle antes de ser solista na companhia da pioneira da dança moderna norte-americana Martha Graham, entre 1939 e 1945.

Em 1944 aconteceu o encontro que marcaria sua vida pessoal e artística, ao realizar um primeiro espetáculo individual com música do compositor John Cage, que viria a ser seu parceiro até a morte deste último quase meio século depois, em 1992.

Em sua fundação, Cunningham criou mais de 200 coreografias, muitas das quais foram apresentadas em turnês que o tornaram famoso em todo o mundo.

Esculturas em jogos de escalas

O carioca José Damasceno expõe três séries de novos trabalhos, após quatro anos de ausência

Maria Hirszman do Estadão

A mostra Complementar, que José Damasceno acaba de inaugurar no Galpão Fortes Vilaça, quebrando um jejum de quatro anos sem realizar exposições em São Paulo, é um interessante exercício de concisão, que revela muito de sua forma de pensar e fazer arte. Com apenas três trabalhos, ou séries, a mostra trabalha questões recorrentes na trajetória do artista carioca, como o jogo entre diferentes escalas, a elaboração de ordens geométricas e espaciais, uma atuação na fronteira entre o mundo da representação e o mais abstrato nível projetivo.

Projeto-Objeto, 2006 - Papel milimetrado, acrílico, mármore e madeira - 50 x 70 x 12 cm

O mais impactante deles, que dá título à mostra, é composto por uma série de mais de 50 cilindros, em dois diferentes tamanhos, que literalmente pontuam o amplo espaço do galpão, fixando-se no chão e parede de forma a criar relações de escala e perspectiva. "Afinal, o que é o espaço? Ele pressupõe a existência de coordenadas diferentes e produzir; descobrir essas coordenadas me interessa bastante", sintetiza. Esse trabalho remete a outras experimentações desenvolvidas pelo artista ao longo do tempo, na tentativa de potencializar e investigar as relações espaciais, como, por exemplo, na instalação composta por uma série de vírgulas em mármore afixadas nas paredes de um galpão na 4ª Bienal do Mercosul (2003). Mas agora o trabalho adquire um caráter ainda mais desafiante, ao deixar de lado o caráter metafórico, gráfico, da vírgula e substituir o nobre mármore pelo industrial polipropileno.

Projeto-Objeto, 2007 - Papel milimetrado, bronze, acrílico e madeira - 103.5 x 143.5 x 16 cm

Como durante muito tempo não teve ateliê, Damasceno habitou-se a desenvolver seus trabalhos - muitas vezes grandiosos - por meio de desenhos, esboços e projetos, vendo o resultado final apenas no espaço expositivo. Essa estratégia acabou tornando-se elemento fundamental do segundo grupo de obras que o artista expõe agora. Iniciada em 2006, os trabalhos da série Projeto-Objetos tem por base exatamente a estrutura do sistema de representação projetiva. O artista parte sempre de uma unidade similar - a caixa de madeira da moldura - e da base reticulada do papel milimetrado. A partir daí, derivam as combinações mais variadas, investigações amplas sobre os mais diversos sistemas de representação, mesclando abstrações de caráter construtivo a poéticas figuradas, de caráter até lírico como a tentativa de fuga da estatueta antiga de mulher, que parece tentar escapar do mundo abstrato e frio da caixa de vidro. "A pessoa é desafiada a tentar entender tudo isso", afirma o artista, que também se considera de certa forma um espectador em sua própria exposição.

Satélite, 2008 - Ferro e cartões postais - 15,30 x 19,80 cm

Satélite é o terceiro trabalho da exposição. Trata-se de uma estrutura semelhante a um mostruário de cartões-postais, mas cuja haste foi tão prolongada que se torna impossível alcançar os cartões, lá no alto. Mais um dos jogos de escala de Damasceno, com o intuito de estimular a percepção do espectador e que ele considera totalmente natural em seu trabalho. "Afinal, sou um escultor", brinca.

Quem se interessar em ter a imagem exibida pode adquiri-la por um preço "de custo" e a receberá pelo correio ao fim da exposição. Trata-se de uma única e bela foto em preto e branco, feita do mesmo mostruário, colocado na praia do Leme (Rio) e tendo por fundo o mar e o céu. Instigante transformação da paisagem em matriz de representação do espaço, reforçada ainda mais pela circularidade sem fim da linha do horizonte, quando disposta nos dispositivos da estrutura metálica circular.

Essa é a única obra da exposição que não é inédita, e foi concebida para a grande exposição individual realizada pelo artista no Museu Reina Sophia, em Madri, por ocasião do Ano do Brasil na Espanha, em 2008. Essa mostra foi tomada como uma confirmação da posição de destaque de Damasceno no cenário internacional. Em vez de assustar-se ou fascinar-se com tal situação, o artista procura encarar essa fase promissora com distanciamento, considerando o sucesso como mais um fator da série de "armadilhas" que se colocam ao artista ao longo de sua trajetória. "Não quero cumprir com expectativas que são depositadas em mim, mas estar o mais próximo das questões que me motivam", explica.

Serviço

José Damasceno. Galpão Fortes Vilaça. Rua James Holland, 71, B. Funda, 3392- 3942. 10 h/ 19 h (sáb. até 17 h; fecha dom.). Até 29/8


EXCELENTE

Crítica/"Pedro Weingärtner"

Pinacoteca relembra pintura de gaúcho
Mostra faz panorama de Weingärtner, cuja arte é descritiva e moralizadora

Obras do artista, do início do século 20, são resumo do que a pintura poderia ter sido se os movimentos de vanguarda não surgissem

por Tadeu Chiarelli

Em 10 de dezembro de 1910 foi inaugurada a terceira exposição do gaúcho Pedro Weingärtner em São Paulo. Apresentando pinturas com temáticas variadas, a mostra atraiu muitos visitantes, tendo vendido, no final, 50 das 52 obras expostas.
Se isso não basta para aferir a importância do pintor para São Paulo, lembro uma nota de "O Estado de S. Paulo" do dia 28 daquele mês, exortando o governo estadual a comprar o tríptico "A Fazedora de Anjos" para a Pinacoteca: "Deixá-lo sair de S. Paulo seria erro imperdoável (...) poucos trabalhos se prestarão tão bem a figurar como este numa galeria pública: educa pela arte superior com que é feito e educa pela elevada moral que o inspirou".

Interior com Figuras, 1907 , óleo s/ tela, 49 x 99 cm - Acervo IA - UFRGS

Desde 1911 pertencente à Pinacoteca, "A Fazedora de Anjos" sintetiza duas questões importantes para a pintura do início do século 20: primeiro, reforça o caráter descritivo da pintura da época que, acossada pela fotografia e pelo cinema, transborda o mimetismo característico da pintura ocidental para o servilismo copista; segundo, une a essa exacerbação da mímese a função exemplar que a arte sentia-se obrigada a exercer, apesar da falência dessa condição a partir das transformações do século 19.

Maricás, 1911, óleo s/ tela, 35 x 60 cm - Acervo IA - UFRGS

Entre anedótica e moralista, "A Fazedora de Anjos" manteve-se durante cem anos como uma das obras mais admiradas da Pinacoteca justamente por ser um resumo do que, para o público, a pintura poderia ter sido se os influxos das vertentes artísticas que vieram depois não desviassem seu rumo. E, para parte desse público do museu, a obra de Weingärtner e toda a compreensão do que a arte deveria ou poderia ter sido ficou resumida àquela pintura.
É por isso que a retrospectiva que a Pinacoteca inaugurou sobre o artista deve ser visitada. Ela apresenta um panorama da sua pintura, possibilitando conhecer esse artista que constituiu sua obra nos padrões de um gosto eclético, crente de que a arte devia ser descritiva e, ao mesmo tempo, moralizadora. E, dentro dessa dicotomia, Weingärtner é mestre.

Bailarinas, 1896, óleo s/ tela, 23 x 36 cm - Acervo IA - UFRGS

Parte de suas pinturas possui uma "moral da história", deliciosa para o público atual, menos "inocente". Ter trabalhado para atender ao gosto simples dos burgueses ricos e ignorantes não o impediu, no entanto, de provar que era qualificado também fora dos padrões que elegeu para alcançar o sucesso. "Paisagem com Árvores", por exemplo, atesta a desenvoltura com que manejava os pincéis na interpretação do aparente. Por essas e outras, o público paulista deve, cem anos depois, prestigiar de novo Weingärtner, visitando uma das exposições mais importantes do ano.

PEDRO WEINGÄRTNER: UM ARTISTA ENTRE O VELHO E NOVO MUNDO

Quando: de ter. a dom., 10h às 18h; até 9.8
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, tel. 3324-1000)
Quanto: R$ 6, grátis aos sábados
Avaliação: Ótimo

TADEU CHIARELLI é diretor do departamento de Artes Plásticas da ECA-USP

Presidente da Bienal toma posse sob dúvidas



fonte: Folha de S.Paulo

Terá uma sombra de dúvida a posse do presidente da Fundação Bienal de São Paulo, marcada para hoje à tarde. O empresário Heitor Martins, sua diretoria e os conselheiros que indicou para a fundação vão assinar os termos de posse sem um parecer favorável do Ministério Público Estadual, que questionou em ofício de 17 de julho a formação dessa diretoria.

O MP tem até sexta-feira desta semana para emitir um parecer depois que pediu esclarecimentos ao conselho da fundação sobre o contrato da mulher de Martins com a Bienal, o número de diretores estatutários, o aumento no número de conselheiros e a isenção deles.

Caso seja favorável o parecer que não saiu até o fechamento desta edição, os eleitos serão oficializados no cargo. Caso contrário, a posse hoje será só uma formalidade e poderá ser suspensa pelo MP, que ainda analisa as respostas da Bienal às perguntas feitas no ofício.

Essas respostas estão em carta que o presidente do conselho da Fundação Bienal, Miguel Pereira, enviou ao MP na terça-feira da semana passada.

Na última sexta, Martins esteve com a promotora Ana Maria de Castro Garms, curadora de Fundações. Estava acompanhado do ex-presidente da Bienal, Manoel Pires da Costa.

"A questão do ofício está sendo tratada pelo conselho e achei interessante ir lá me apresentar antes de tomar posse", diz Martins à Folha. "Eles fizeram algumas perguntas, e o conselho respondeu essas perguntas. Estivemos lá por 50 minutos e passamos 40 deles falando sobre a próxima Bienal."

Segundo Martins, não há "sinalização de problemas" por parte do MP. "A ideia é que a posse seja feita", diz. "Não estamos vendo nenhum fato novo que altere esse curso."

"A reunião de posse vai acontecer hoje porque é quase certo que a resposta do Ministério Público não vai ser uma negativa", diz Miguel Pereira, presidente do conselho da Bienal.

Saldo devedor

Mas, segundo apurou a Folha, pendências financeiras da Bienal com Manoel Pires da Costa podem dificultar o processo de transição. O ex-presidente tem R$ 500 mil a receber da fundação, uma dívida da Bienal com sua empresa TPT, que editava a revista "Bien'Art", publicação da Bienal de São Paulo.

No Termo de Ajustamento de Conduta que firmou com o MP em 2007, Pires da Costa, que se autodenunciou então à Promotoria por violar o estatuto da Bienal ao contratar parentes e a própria empresa, renunciava a valores que tinha a receber "exceto o custo das edições da 'Bien'Art' já editadas".

"Eu abri mão de valores altíssimos, fiz questão de abrir mão", diz Pires da Costa à Folha. "Concluiu-se que a minha empresa é credora de um valor, e de outro valor eu abri mão."

Além desse montante, pessoas ligadas à Bienal dizem que Pires da Costa também quer receber R$ 100 mil que pagou do próprio bolso por um parecer jurídico que encomendou ao advogado José Tavares Guerreiro, que o defendia da rejeição das contas de sua gestão.

Outros dois pareceres foram apresentados na reunião do conselho, em julho de 2007, que julgou a reeleição de Pires da Costa à presidência da fundação e as contas de sua administração, mas só o encomendado por Pires da Costa foi cobrado --os demais não tiveram custo financeiro para a Bienal.

Pires da Costa nega que esteja cobrando esse valor. "É a mesma coisa que andar de táxi [e pagar do próprio bolso]", diz. "Existe lá um recibo pago por mim, está no caixa. Se amanhã entenderem que isso pode ser restituído, eu recebo, se não puder, eu não recebo. Isso é um assunto acabado, liquidado."