quinta-feira, 4 de junho de 2009

Bienal de Arte de Veneza privilegia novas formas artísticas


MIGUEL CABANILLAS
da Efe, em Veneza

Em sua 53ª edição, a Bienal de Arte de Veneza procura conservar o mesmo magnetismo do evento, patente nesta quinta-feira na apresentação da Bienal no discurso do diretor da mostra, o sueco Daniel Birnbaum, que deu início a três dias de atos e inaugurações oficiais até a grande abertura ao público, que acontecerá no domingo.

O que poderá ser visto no festival, acrescentou, são coisas novas, embora seu conceito não seja de todo novo, segundo Birnbaum. "As obras se apresentam em diálogo com este belo lugar, cujo centro será a arte em si mesmo, o mundo que os artistas criaram", afirmou o sueco.

Sob o título de Fare Mondi ("Criar Mundos"), a 53ª edição da Bienal de Arte de Veneza oferecerá a especialistas e visitantes a possibilidade de ter acesso à obra dos máximos representantes da arte contemporânea de 77 países e de mais de 90 artistas.

Nesta sexta-feira o destaque é o Pavilhão Latino-americano, que apresentará oficialmente as propostas artísticas de Bolívia, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Peru, República Dominicana e Costa Rica.

Outros países têm pavilhões próprios, entre eles Brasil, Chile, Uruguai, Venezuela, Argentina e México. Eles representam uma arte latino-americana que faz com que, neste vai-e-vem de artistas e especialistas no qual a cidade italiana se transformou, se ouça muito português e espanhol.

Veneza é, desde hoje, sinônimo de arte. Dentro disso também se encontra a comunidade autônoma espanhola da Catalunha, que participa com uma instalação própria na seção dos Eventi Collaterali, que será apresentada oficialmente amanhã pelo vice-presidente regional, José Luis Carod-Rovira.

"O título da mostra, Fare Mondi, expressa meu desejo de enfatizar o processo de criação. Uma obra de arte representa uma visão do mundo e, se levada a sério, pode ser vista como um modo de criar um mundo", declarou Birnbaum.

Ferramentas que vão desde as composições audiovisuais até as criações de luz, passando por técnicas mais tradicionais como a pintura ou a cerâmica, suportes com os quais Barceló trabalhou e que são os protagonistas do Pavilhão da Espanha.

Neste sentido, o comissário do Pavilhão espanhol, Enrique Juncosa, diretor do Museu Irlandês de Arte Moderna de Dublin (IMMA), disse hoje que é pouca a pintura que decora as paredes da Bienal de Arte, fruto, afirmou, das decisões dos responsáveis das exposições.

Nestes três dias que antecedem a abertura ao público da Bienal de Arte também haverá tempo para a entrega de prêmios, como o Leão de Ouro à carreira da japonesa Yoko Ono, que acontecerá no sábado.

Bienal de Veneza chega à sua 53ª mais enxuta e renovada



por Mário Gioia da Folha de S.Paulo

A Bienal de Veneza, mais tradicional exposição de artes do mundo, chega à sua 53ª edição mais enxuta e renovada. Tendo à frente o sueco Daniel Birnbaum, 46, o curador mais jovem da história do evento, a seção principal da Bienal terá 90 artistas, além das 77 representações nacionais. Com entrada para o público do próximo domingo a 22 de novembro, a abertura especial para convidados se estende desta quinta-feira (5) a sábado.

Tudo bem mais discreto que a exposição anterior, em 2007, quando o curador norte-americano Robert Storr se orgulhava de destacar que comandava a maior edição da Bienal, com cerca de 500 artistas, entre os exibidos no Arsenale (uma antiga fábrica de cordas) e nos Giardini (onde os países mantêm seus pavilhões).

O recorte de Veneza parece ser mais experimental que o anterior. Storr assinou uma edição considerada por alguns críticos como "museológica", contando com nomes já consagrados em alguns dos principais espaços da mostra.

Já Birnbaum e seu cocurador, o alemão Jochen Volz, privilegiaram artistas com uma obra mais experimental, mesmo sendo de gerações diversas. A seleção vai desde nomes jovens, como a hispano-brasileira Sara Ramo, 34, a medalhões como John Baldessari, 77, e Yoko Ono, 76. Esses dois ganharão o prêmio máximo da Bienal, o Leão de Ouro.

Em entrevista à Folha por e-mail, Birnbaum e Volz dizem que a pluralidade pretendida na mostra é refletida já no seu título: "Fare Mondi, Making Worlds, Bantin Duniyan, Weltenmachen, Construire des Mondes, Fazer Mundos...".

"Um conceito para uma exposição grande como a Bienal de Veneza tem de ser amplo e generoso. Não pode funcionar como tema a ser ilustrado por meio de obras de arte -precisa suscitar perguntas ou conferir um espírito ao projeto como um todo", conta Birnbaum.

"O título desta Bienal é "Fazer Mundos" no maior número possível de línguas. Tem conotações bem diferentes em cada língua. No inglês, por exemplo, ela traz um sentido de trabalho artesanal; já em alemão, soa um pouco bombástico."

Volz, curador convidado da 27ª Bienal de São Paulo (2006) e curador licenciado do Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), também destaca o caráter multicultural do evento.

"Em um mundo que tende a ficar cada vez mais homogêneo, é importante apontar para o pluralismo, com todos os problemas de tradução que o acompanham", diz Volz. "Mas não enxergamos nossa exposição como reação a bienais anteriores, embora tenhamos consciência dessa história."

Reformas

A curadoria de Veneza criou novos espaços para tentar surpreender o mundo da arte que passa pela cidade nesses dias. O Pavilhão Italiano, nos Giardini, ganhou novo nome --Palazzo delle Esposizioni--, foi ampliado em 1.000 m2 e vai servir de plataforma para eventos de áreas diversas, como cinema, arquitetura e dança.

Entre os pavilhões nacionais, artistas de peso exibirão obras, como Bruce Nauman (pelos EUA) e Steve McQueen (pelo Reino Unido). Haverá também novidades, principalmente vindas da estreia de países entre as representações, como Montenegro, Mônaco e Gabão.

"Em uma Bienal, é claro que esperamos ver coisas novas. Mas é de suma importância ter consciência de que a arte não é reinventada a cada dois anos", afirma Volz. "Com alguns artistas, você só se dá conta de sua relevância real depois de alguns anos ou décadas."