quarta-feira, 29 de abril de 2009

Franceses ensinam: as aparências enganam



Meias Verdades, no Rio, é mostra que discute limites entre realidade e ficção

por Roberta Pennafort

Nas fotografias nas paredes, as mulheres estão com a aparência de manequins. No vídeo, uma viagem pelos Estados Unidos, narrada por uma das viajantes - terá sido real ou inventada? Em instalações videográficas, diversas histórias são contadas supostamente por pessoas diferentes, mas... no fim, parece até que se trata de um mesmo homem. O que é ficção? O que é realidade? A questão está no ar em Meias Verdades, exposição a ser aberta ao público amanhã no Oi Futuro, no Rio.

Parte do extenso calendário cultural do Ano da França no Brasil, a mostra, que ficará em cartaz até 28 de junho, traz à cidade trabalhos de Sophie Calle, Pierrick Sorin e Valérie Belin, "os três maiores artistas contemporâneos da França atualmente", diz Adon Peres, curador, com Ligia Canongia.

"A questão (do que é realidade e ficção) é cada vez mais frequente nas artes visuais, e também na literatura. O curioso é que na montagem da exposição, os próprios funcionários do Oi Futuro já erraram na hora de identificar as mulheres e os manequins."



Trailer do Filme Double Blind(No Sex Last Night), de 1992 da artista Sophie Calle em exposição no Oi Futuro, no Rio.

Peres se refere às fotos de Valérie Belin, manipuladas digitalmente de modo a aproximar as imagens de jovens modelos a rostos inumanos, todos perfeitos, como avatares. Capazes de "condensar o silêncio, como se as coisas e seres ali estampados prescindissem do discurso, desconfiassem da palavra e, mais, bastassem a si mesmas com imagens", como descreve a curadora, as obras de Valérie - uma artista em ascensão, com obras presentes no Museu Contemporâneo da Fotografia de Paris - ocuparão o primeiro andar do Oi Futuro.

"O que eu quero que as pessoas vejam é o tratamento pictórico da imagem, de modo que se perguntem se estão vendo uma foto ou uma pintura hiper-realista", explica Valérie, que admira o trabalho dos colegas franceses e também de artistas brasileiros, como Ernesto Neto, Cildo Meireles e Vik Muniz. "São muitas questões que quero levantar: O que é a vida, hoje? Como ela é moldada pelas metamorfoses e forças de destruição?" O centro cultural é bem apropriado para a mostra, por tratar de tecnologia e arte em seus espaços. Em seu segundo andar, estão dois vídeos de Sorin. Retrato de Cidade mostra embarcações que navegam por um rio tendo como tripulantes personagens interpretados pelo artista.

Em Projetos de Artistas, o videomaker, que se utiliza do humor em seus trabalhos e já veio para a Bienal Internacional de São Paulo, também assume distintos papéis: travestido de artistas, zomba deles.

Sophie Calle exibirá seu filme Double Blind, de 1992, no terceiro andar. Nele, ela apresenta aos espectadores o norte-americano Gregory Shepard como seu companheiro de um ano. Os dois filmam uma viagem que fazem juntos, de cadillac, de Nova York à Califórnia, que é narrada pela artista. Mas não é possível saber se aquilo aconteceu mesmo ou não.

Destaque na Bienal de Veneza, em 2007, Sophie, também escritora, é presença confirmada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em julho. Ela foi o ponto de partida de Meias Verdades. "Diante da obra, sofremos um duplo impacto, em si contraditório: ou acreditamos verdadeiramente no que vemos e no que lemos ou enveredamos pela desconfiança de que os textos mentem, ou inventam e, nesse caso, não sabemos exatamente o que fazer com os ?documentos? fotográficos", avalia Ligia Canongia. É ver para crer - e desconfiar.

Contemporâneos

SOPHIE CALLE: Celebrada artista francesa, nascida em 1953, Sophie Calle trabalha nos campos da fotografia, da instalação e da arte conceitual. Em julho, sua individual Prenez Soin de Vous chegará ao Brasil: será apresentada no Sesc Pompeia, em São Paulo, e, depois, a partir de setembro, no MAM da Bahia.

VALÉRIE BELIN: Artista nascida em 1964, Valérie se dedica ao gênero fotográfico.

PIERRICK SORIN: Filmes de curta duração e videoinstalações são os terrenos explorados por este profissional multimídia, nascido em 1960.


GERALDO DE BARROS - MODULAÇÃO DE MUNDOS

Exposição de Geraldo de Barros reúne 133 obras do fotógrafo no SESC Pinheiros

por Mario Gioia da Folha de S.Paulo

"A composição é para Geraldo um dever." A avaliação de Pietro Maria Bardi sobre a obra fotográfica de Geraldo de Barros, que apresentava sua primeira individual no Masp, em 1951, serve como guia para nova exposição sobre o artista, aberta hoje no Sesc Pinheiros.
"Geraldo de Barros - Modulação de Mundos" tem curadoria de João Bandeira, do Centro Universitário Maria Antonia, e de Fabiana de Barros, filha do artista, radicada em Genebra.

Fotografia que faz parte da exposição sobre Geraldo de Barros no Sesc Pinheiros

Mesmo não sendo uma retrospectiva, "Modulação de Mundos" sintetiza as diversas facetas de Barros (1923-1998), exibindo 133 obras --73 fotografias, 36 móveis e 24 "pinturas-objeto", feitas em fórmica.
Pintor ligado ao grupo Ruptura --protagonista de mostra no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1952, que marca o início da arte concreta no Brasil--, Barros também foi nome-chave na renovação da fotografia brasileira entre o final dos anos 40 e o começo da década seguinte.
Não menos importante é sua atividade como designer, responsável pela cooperativa Unilabor (de 1954 a 1964) e pela empresa Hobjeto (de 1964 a meados dos anos 80).

Modulações

"Conhecendo mais a obra do Geraldo e acompanhando essas diversas mostras, o que mais me chamou a atenção em sua obra é essa tendência para o modular", diz Bandeira, 48.
Assim, por exemplo, a série de fotografias "Fotoformas", feita de 1948 a 1952, utilizaria um conjunto fixo de formas que seriam trabalhadas em diversas combinações pelo artista para dar resultados diversos.
"A mesma imagem do telhado da estação da Luz rendeu diversas fotografias, com Geraldo experimentando diversos rearranjos", explica Bandeira.
Já no design, Barros utilizava um número pequeno de partes constitutivas de móveis (caixas retangulares, armações metálicas) para criar linhas variadas.
"Com isso, ele faz a transição do móvel moderno feito em escala artesanal para um padrão industrial. Esse pensamento modular foi decisivo no sucesso da Unilabor e da Hobjeto", avalia o curador.
Já nas pinturas feitas em fórmica nos anos 80, Barros utiliza cores básicas em formas geométricas que facilitam sua reprodução. E a fórmica permite que a pintura ganhe uma identidade mais "industrializada".
"Ele antecipa essa ideia quando confecciona um panfleto na Bienal de São Paulo, em 1979, dando instruções ao público de como fazer cinco protótipos de seus quadros", conta ele. O folheto, assim como diversos documentos de época, também serão expostos.

GERALDO DE BARROS - MODULAÇÃO DE MUNDOS
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 10h30 às 21h30, e sáb., dom. e feriados, das 10h30 às 18h30; até 28/6
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 3095-9400); livre