segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Novo desenho põe em xeque "potência afetiva"



Designers falam em patrimônio visual e ideia de design como expressão do tempo

Momento atual permite convivência da sintaxe modernista com projetos vintage, de retomada de marcas do século passado 



Mesmo sem saber que Lygia Pape estava por trás dos biscoitos flutuantes nas embalagens da Piraquê, várias gerações se acostumaram a ver nos mercados a serialização geométrica dos pacotes. Do mesmo jeito que a lata de sardinhas Coqueiro, desenhada em 1958, ficou mais de 40 anos em circulação.


É tempo suficiente para criar, mais do que uma identidade corporativa, uma memória afetiva desse desenho. "O que está em jogo não é tradição, e sim afeto", postou Daniela Name em seu blog, saindo em defesa das embalagens que marcaram sua infância. "Essa é a base da história e da longevidade de um produto de design."



Tanto que gente como o publicitário paulistano Eduardo Foresti guarda em casa as embalagens mais emblemáticas que encontrou pela vida, dos biscoitos Piraquê aos cosméticos Granado. "As pessoas se irritam quando muda algo com o qual existe uma relação sentimental", diz Foresti. "Um exemplo é a bala Chita, que era um macaquinho. As pessoas se ressentem dessas mudanças."


Quando a Varig decidiu substituir o desenho de um homenzinho voando pela rosa dos ventos na cauda de seus aviões, em 1962, pilotos se recusaram a voar sem o Ícaro, e a empresa foi obrigada a repintar o desenho no bico das aeronaves.
Mas pessoas também crescem, o tempo passa e marcas precisam lutar para manter o frescor. "Todas as empresas precisam se manter na concorrência, que é fortíssima", analisa o designer André Stolarski.


"O problema não é a mudança, mas como ela é feita, porque se o novo projeto perde uma característica que é distintiva em termos de mercado ou patrimônio visual, está perdendo feio, perde a potência afetiva."


Stolarski vê um retrocesso nos novos pacotes da Piraquê e da Coqueiro, mas elogia, por exemplo, as mudanças da Pepsi, que reformou há pouco sua logomarca e simplificou embalagens e identidade visual.


"Não faço parte do time que fica lamentando essas coisas", diz Chico Homem de Melo, professor de design e autor de livros-referência sobre o assunto no país. "Essa é uma visão de raiz racionalista, que vem da Bauhaus, o design que se colocava como eterno."

Longe de eterno, Homem de Melo chama o design de "expressão de seu tempo". "Essa é uma história de mudanças, não de permanências", frisa. E lembra que parte da polêmica em torno da aposentadoria de desenhos concretistas de Pape e Wollner está ancorada num momento histórico que passou.


"Esses artistas construtivos achavam que a arte industrial era a saída", diz Homem de Melo. "Então ir para o design não era sair para outra coisa, era mostrar para onde vamos."

Nessa linha, Willys de Castro, Hércules Barsotti, Waldemar Cordeiro, no Brasil, e nomes como El Lissitsky e Kurt Schwitters, no exterior, também fizeram incursões no campo do design, sujeitos à mesma passagem do tempo.


"É o curso das coisas, é natural que ideias novas tomem o lugar das antigas", diz o artista Rafael Lain, da dupla Detanico & Lain, conhecida por sua atuação também no design. "Um design feito há 50 anos responde a questões de 50 anos atrás, que não são pertinentes hoje."


E esse hoje é um terreno aberto. Convivem no design contemporâneo a sintaxe modernista de Pape, Wollner e Aloisio Magalhães e as formas ornamentadas, rococó, dizem alguns, do revival promovido por empresas como a Fiat, que voltou a usar a mesma tipografia de 1901 em sua logomarca.


"Tem um tom de humanidade, calor, que o design modernista não tem", diz Homem de Melo. "Estamos vivendo um revival, ou talvez seja só voltar a alguma coisa lá atrás e reinscrever isso na modernidade."
Design Aposentado

Embalagens clássicas de produtos saem de cena e geram debate sobre memória afetiva e patrimônio do design no país 


Diante da prateleira de um supermercado, Daniela Name levou um susto. "Foi horrível", lembra a curadora, que correu para casa e postou em seu blog que a Piraquê estava aposentando as embalagens dos biscoitos Queijinho e Presuntinho, desenhadas pela artista Lygia Pape nos anos 60. "São mudanças criminosas, assassinas", diz ela. "É muito sério."


No lugar dos arranjos em vertente construtiva dos pequenos biscoitos, projeto de Pape, está agora uma disposição mais convencional, com uma grande tarja com o nome do produto quebrando o desenho. "Nem por hipnose alguém me convenceria de que essa coisa horrorosa é mais eficiente", esbravejou Name, na web.


É uma reação parecida com a do designer Alexandre Wol- lner, que viu sua embalagem clássica das sardinhas Coqueiro dar lugar a um design brilhante e modernoso, que rompe com os traços minimalistas de seu desenho, pondo no lugar uma linguagem mais figurativa.


"É uma esculhambação total da Coqueiro", diz Wollner. "Não pode trocar um desenho por uma coisa mais bonitinha."


Bonitinhas ou assassinas, marcas mudam. E geram um debate entre artistas e designers sobre o que é patrimônio visual e como lidar com o que já foi ícone do design brasileiro em meio às mudanças que seguem o ritmo do mercado.


Se por um lado saem de cena os últimos exemplos dessa corrente modernista, por outro empresas retomam logomarcas ornamentadas do passado.

(SILAS MARTÍ da Folha de S. Paulo)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pintor Richard Wright ganha prêmio Turner


Um pintor que não quer que nenhum de seus trabalhos sobreviva à sua morte recebeu um dos prêmios mais importantes de arte contemporânea nesta segunda-feira.

Richard Wright, de 49 anos, venceu o favorito das apostas Roger Hiorns e ficou com o Turner britânico, um prêmio anual que costuma provocar polêmica sobre o que é ou não arte.

Mais conhecido por seus afrescos matematicamente precisos, Wright parece uma escolha estranhamente monótona em comparação aos associados ao Turner, geralmente enfants terribles da arte contemporânea.

Damien Hirst ganhou o Turner em 1995 com uma vaca embriagada e Chris Ofili provocou polêmica em 1998 com trabalhos que incorporavam esterco de elefante.

A peça em exibição de Wright é uma pintura de estilo barroco em folha de ouro, que evoluiu em redemoinhos geométricos por uma parede. Sua obra tem a beleza efêmera de uma teia de aranha, algo criado com detalhismo, mas que não vai durar.

"Eu gosto da ideia de não restar nada quando eu me for", disse Wright, cuja obra será coberta com tinta depois que a exibição terminar em janeiro.

Wright recebe um cheque de 25.000 libras (41.120 dólares). Os outros finalistas -- Enrico David, Roger Hiorns e Lucy Skaer -- recebem um cheque de 5.000 libras cada.

sábado, 5 de dezembro de 2009

DEBATE


fonte: Zero hora

Arte de hoje

Cultura propôs as mesmas cinco perguntas a quatro intelectuais que têm discutido em seus trabalhos as singularidades da arte e da estética no tempo presente

1 Neste momento, reaparece em Porto Alegre o discurso que defende que a arte contemporânea seja examinada segundo critérios tradicionais, incluindo, por exemplo, a habilidade do fazer e a busca pelo belo. Em que medida, tais critérios podem ser empregados nos dias de hoje?

2 Alguns comentadores alegam que a arte contemporânea seria um embuste, uma empulhação. Segundo eles, toda a produção do presente não passaria de uma astuciosa invenção do mercado com a conivência de críticos e teóricos. O que lhe parece essa ideia?

3 Esse mesmo discurso afirma que a arte de hoje seria a arte do vale-tudo. Vale tudo na arte contemporânea?

4 No extremo oposto, há aqueles que acabam assumindo uma defesa incondicional da arte contemporânea, como se toda ela fosse exemplar. Há arte boa e arte ruim no contexto contemporâneo?

5 É fato que uma parte considerável do público se sente incomodada com a arte de hoje. São pessoas que vão, por exemplo, às grandes exposições ou às Bienais e saem de lá dizendo que “não entenderam nada”. O senhor já se sentiu assim em relação à arte do presente, “sem entender”? Qual foi sua reação?


JACQUES LEENHARDT

Presidente de honra da Associação Internacional de Críticos de Arte, a Aica, o francês Jacques Leenhardt, 67 anos, é diretor de Estudos da prestigiada École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, de Paris. Doutor pela Universidade de Paris X (Nanterre), sob orientação de Roland Barthes, tem estudos publicados nas áreas de literatura, sociologia e artes visuais.

“É um erro bem ingênuo, mas uma ilusão bem comum, acreditar que espontaneamente, sem preparação e sem reflexão, vamos compreender o trabalho dos cientistas ou dos artistas”

1.Por que utilizar critérios do passado para compreender nosso mundo contemporâneo? A arte não avança com a mesma rapidez das comunicações, mas a arte é o lugar onde se cristalizam as experiências que fincam suas raízes em nosso mundo técnico, político e, mais genericamente, em nosso mundo humano contemporâneo. Os artistas procuram, tateando, criar obras que exprimam sua própria relação com este mundo, extraindo por vezes a beleza mas, mais frequentemente, o sentido, que é o que nós percebemos como o mais radicalmente ausente deste mundo.

2.Como na política, há fraude na arte. O mercado de arte não é mais transparente e democrático do que o campo da política. Em geral, não se fala senão do grande mercado especulativo internacional, mas há outros, mais discretos, que correspondem ao gosto de muita gente diferente. É evidente que a crítica está ausente dos grandes meios de comunicação, e isso não facilita a tarefa de se perceber a diversidade das produções artísticas. A imprensa ama o sensacional. Somos todos responsáveis por isso. Primeiro, fala-se dos grandes prêmios, das grandes exposições, dos grandes escândalos! Mas nas exposições pode-se constatar a pluralidade das criações, cada um pode experimentar a diversidade da arte. O importante é que cada um tente se confrontar com uma experiência estética que o enriqueça, uma experiência que proponha algo de novo em relação ao que essa pessoa já conhecia e já apreciava. Isso pode ocorrer tanto diante de mestres do passado quanto diante de artistas contemporâneos. É uma questão de disponibilidade mental do visitante, e é algo que coloca em jogo o seu repertório. Quanto maior nosso repertório, mais capazes nós seremos de aproveitar uma ampla experiência estética. A compreensão do mundo, e da arte em particular, requer um exercício constante. É um erro bem ingênuo, mas uma ilusão bem comum, acreditar que, espontaneamente, sem preparação e sem reflexão, vamos compreender o trabalho dos cientistas ou dos artistas.

3. O artista tem todas as possibilidades abertas diante dele. Ele escolhe e tenta produzir sentido. Nem tudo o que ele faz é sempre compreensível ou pertinente. O tempo e a história selecionam e sempre vão selecionar o que fará sentido para as gerações futuras. Evidentemente, muitas obras serão esquecidas, neste campo como em outros.

4. É claro! Há aqueles que conseguem passar o que sentem e aqueles que não conseguem. Há aqueles que ficam à margem da difícil experiência da arte e não fazem senão produzir objetos, os quais eles tomam por arte, mas que não são senão “produtos”, destinados a seduzir nosso gosto pela repetição. A repetição é agradável, mas é apenas uma pequena parte de nossa capacidade de experiência estética.

5. É difícil ser contemporâneo de um mundo em plena transformação. Somos, enquanto seres humanos, ligados tanto às tradições quanto ao futuro que se abre diante de nós, o qual aprendemos a compreender lentamente e com dificuldade. Isso explica o descompasso que seguidamente sentimos diante de muitos aspectos do mundo contemporâneo – e não apenas diante da arte. O esporte é fácil de compreender porque ele se repete a cada semana, idêntico a si mesmo. Todo mundo ama o esporte, que oferece, ano após ano, a mesma dramaturgia. A arte tenta tornar sensíveis certas modificações de nossa vida e de nossa sensibilidade coletiva. Nossa sensibilidade muda com uma velocidade vertiginosa, algo que dificilmente poderíamos acompanhar por nós mesmos. A arte é uma experiência que se situa nas margens de nossa compreensão. Por isso, ela frequentemente corre o risco de não compreender e de não ser compreendida.

ARTHUR DANTO

Filósofo norte-americano, professor emérito da Columbia University, em Nova York, Arthur Danto, 85 anos, é autor de uma polêmica tese sobre o fim da arte. Ancorado em Hegel, ele afirma que, na arte contemporânea, haveria uma consciência da natureza filosófica da arte. Essa tese está exposta nos livros A Transfiguração do Lugar-Comum e, sobretudo, em Após o Fim da Arte, ambos disponíveis em português. Desde 1984, Danto atua como crítico de arte para a revista The Nation.

“Se alguém disser que não apreendeu nada com uma exposição, então o problema deve estar com a pessoa. Provavelmente, ela não se esforçou o suficiente para tirar algum proveito”

1. Não há critérios canônicos que se apliquem à arte contemporânea. Ao visitar uma exposição de arte, devemos nos preparar para achar nosso próprio caminho de entendimento. Geralmente há textos nas paredes, catálogos, folhetos, que podem ajudar. Devemos passar certo tempo tentando entender o que a obra significa. Uma análise crítica, admitamos, leva tempo. Somos sempre livres para perguntar se aquilo valeu a pena ser feito e se aprendemos algo. O visitante certamente necessita fazer um julgamento esclarecedor a respeito da obra. Se não, não há motivo em visitar uma exposição.

2. Se alguém acredita que toda arte contemporânea é um engodo, esse alguém deveria ser sábio e evitar exposições de arte. Eu passo um bom tempo com arte, como crítico, mas também como simples apreciador de arte. Não tenho essa impressão de que a arte contemporânea seja uma empulhação. Conheço muitos artistas, alguns até bem famosos. Nunca tive evidências de que eles estivessem enganando alguém com sua arte. Estou mais convencido de que os comentadores que você menciona sejam mais enganadores do que os artistas. No século 19, houve um julgamento famoso, no qual o pintor americano James McNeil Whistler, processou de forma bem-sucedida o crítico John Ruskin, por esse ter dito que sua pintura era um engodo. Ruskin perdeu a disputa judicial e caiu em desgraça. Acho que isso é algo que poderia acontecer hoje em dia se um crítico se comportasse da mesma forma que ele.

3. Alguém já disse que vale tudo na guerra e no amor. Nunca vi nada nesse sentido em relação à arte. Geralmente, há um motivo pelo qual o artista fez o que fez. Ao se apreciar uma obra, tem-se que tentar entender os motivos que explicam por que a obra é o que é. Isso é chamado de crítica. Crítica seria extremamente fácil de fazer se disséssemos que tudo vale.

4. Sim. Há arte boa e arte ruim, assim como há gente boa e gente ruim.

5. Um dos problemas com Bienais é que há muita arte para ser vista e não há tempo suficiente. Isso pode ser um bocado frustrante. Uma alternativa é tentar fazer uma pesquisa prévia. Descobrir o que seria melhor de olhar, lendo resenhas e depois tentando planejar a visita. Sempre se pode ficar desapontado. Mas se alguém disser que não apreendeu nada com uma exposição, então o problema deve estar com a pessoa. Provavelmente, ela não se esforçou o suficiente para tirar algum proveito. Imagine um jogo complicado, como beisebol. A não ser que você conheça o jogo, você não será capaz de assistir e tirar algum proveito dele.

FERNANDO COCCHIARALE

Artista, professor e crítico de arte, Fernando Cocchiarale é curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, ele fez a curadoria da exposição É Hoje, que apresentou no Santander Cultural a coleção Assis Chateaubriand (2006), e foi um dos curadores da retrospectiva de Vera Chaves, também no Santander Cultural (2007). É autor do livro Quem Tem Medo da Arte Contemporânea? (2007).

“A arte contemplativa, criada por artistas individuais dotados de habilidade e gênio, é somente uma construção histórica europeia que começa na Renascença e se consolida no final do século 18.”

1. A arte não tem uma única natureza. Se considerarmos, por exemplo, o que se passou no Ocidente, desde a Grécia clássica até o mundo moderno e contemporâneo, vemos que ao longo desses 2.400 anos se sucederam pelo menos três grandes regimes ou funções do que chamamos habitualmente de arte. No primeiro e mais duradouro deles, não havia a separação entre ofícios, entre arte e artesanato, mas entre a natureza e sua transformação pelo fazer. Sua função era sobretudo religiosa. A arte contemplativa, objeto da estética, criada por artistas individuais dotados de habilidade e gênio, tida como canônica entre desinformados e conservadores, é somente uma construção histórica europeia que começa na Renascença e se consolida no final do século 18, quando surgiram as primeiras disciplinas voltadas especificamente para o estudo e o conhecimento da arte (estética, História da Arte e crítica de arte). De seus desdobramentos na visualidade moderna, até a crise deflagrada pela II Guerra, a arte parecia afirmar, ainda que sob transformações vertiginosas, sua função estético-contemplativa como eterna e única, embora tivesse apenas cerca de 400 anos. É, portanto, impossível avaliar as novas funções da arte a partir de teorias que emprestavam sentido à arte formal e estética do passado histórico que antecedeu a produção contemporânea, incapazes de outra coisa que não negá-la e destruí-la.

2. Quando teria ocorrido essa astuciosa invenção? Como ela poderia ter cooptado artistas, críticos, parte do público e teóricos atuantes em diversos campos, de diversos países, sem que existam quaisquer vestígios dessa ardilosa conspiração? Quando e onde eles se encontraram secretamente sem que ninguém o tivesse sabido? Finalmente qual teria sido a vantagem de substituir a Arte Bela, consolidada e vendável, por outra incompreensível para o espectador médio? Não é mais produtivo pensar que mudanças históricas profundas, como a crise do projeto iluminista do século 18 (no qual a arte contemplativa floresceu como questão estética) e o desencanto decorrente da guerra operaram transformações profundas no cotidiano das décadas seguintes e, por conseguinte, na esfera da arte e sua função?

3. Embora eu não concorde com essa ideia, que considero preconceituosa, já que vale tudo, aqui, significa qualquer coisa, desde que não tenha qualidade, eu poderia dizer quer ela se ancora em características que se manifestam não somente no campo da arte, mas no conjunto de nossa vida social, teórico-científica e cultural há uns 40 anos. A principal delas tem a ver com a impossibilidade de produzirmos categorias e de estabelecer identidades fixas e excludentes. Dela, decorre a pluralidade que hoje predomina em todas as esferas da vida humana, onde antes reinava uma unidade passível de fundar critérios unívocos e consequentemente a produção de valores então tidos como eternos e atemporais.

4. Claro que há arte boa e ruim no contexto contemporâneo, assim como havia no contexto moderno e clássico.

5. Creio que isso se deve, ao menos em parte, à falta de informação e à falta de uma rotina cultural que comece desde a infância tanto por estímulo familiar, quanto pela escola e posteriormente até pela universidade. Faltam galerias de arte, museus decentes, livrarias, revistas especializadas. Infelizmente a formação cultural do brasileiro médio é sofrível. Nesse contexto podemos tomar esse incômodo como desconhecimento e não como uma rejeição crítica.

MÔNICA ZIELINSKY

Professora no Instituto de Artes da UFRGS, é responsável pela catalogação da obra de Iberê Camargo. Em sua tese de doutorado, defendida em 1998, na Universidade de Paris I (Sorbonne), sob orientação de Marc Jimenez, ela discutia a crítica de arte contemporânea no Brasil. Organizou o livro Fronteiras: Arte, Críticas e Outros Ensaios (2003), sobre as querelas e os impasses da estética no mundo de hoje.

“Não basta proliferarem as opiniões, essas serão sempre subjetivas e pessoais; afloram fáceis, como impressões espontâneas sobre os fatos”

1. Para responder a esta pergunta, basta olhar com atenção para se constatar que a própria arte contemporânea recusa intencionalmente esses critérios. Assim, já em um primeiro foco, pode-se pensar que artesania e beleza não são mais considerados critérios fundamentais da arte (mesmo que ocasionalmente possam ser encontradas em alguns trabalhos). Este fato não é nada recente. Nos primeiros anos do século 20, as obras de Duchamp já haviam rejeitado esses critérios e abalaram fortemente a noção de arte. Por uma ação perturbadora, ao expor seus readymades, Duchamp colocou em crise o próprio sistema de arte, a experiência formal das obras, o valor da elaboração técnica dos trabalhos, além dos critérios de gosto instituídos, as relações entre o original e a reprodução das obras. Enfim, subvertendo a noção tradicional de arte, é inegável que sua postura tenha se tornado paradigmática quando se fala em arte contemporânea, em especial a partir de 1960, quando se acirraram as discussões sobre o artístico. Assim, o reconhecimento dessas obras como sendo de “arte contemporânea” não diz mais respeito especificamente às suas qualidades físicas ou ao prazer sensível, mesmo que estes possam estar presentes em algumas obras. Por outro lado, a arte ganha sobejamemente em outros âmbitos e em novas contribuições, e penso perder-se muitíssimo se não estivermos abertos a usufruir dos outros valiosos vértices para os quais esta arte aponta – às ideias que a constituem, ao que ela enuncia de forma multifocal sobre a vida, o homem, as culturas e a história dos nossos tempos. Também sobre a própria arte em um ato autorreflexivo, e sobre seu funcionamento como arte em meio a essa incerta trama artística que se alastra pelo mundo.

2. Não posso concordar que toda arte contemporânea seja embuste, empulhação ou uma astuciosa invenção do mercado. As obras de arte possuem a especificidade de devolver ao mundo, das mais variadas formas, a própria percepção sobre este. E nesse processo, os artistas optam, em suas práticas hoje, muitas vezes por caminhos muito diversos, altamente experimentais, plurais e interrogativos sobre sua circunscrição artística, trazendo com isso o alargamento dos limites da arte. O mercado é parte do sistema artístico e seria ingenuidade nossa ver o afastamento da criação dos artistas de um mercado que a faz circular, expor e mesmo ampliar, mesmo que inseridos em interesses contraditórios.

3. Não vale tudo na arte contemporânea. Mas sabe-se também que ela vive a crise de sua legitimação, um problema encontrado nos discursos elaborados sobre ela. Esses não são claros e explícitos em relação às distinções entre as obras, ao questionarem as novas configurações e limites da própria arte. Esse fato teve como uma de suas causas a dissolução das certezas e critérios explícitos universais no embate com as obras, mas esse é um fato que ao mesmo tempo estimula a reflexão sobre a arte e o aguçamento de sua percepção. O princípio de discriminação das obras hoje é outro; ele transforma-se e vê-se carente de novas abordagens, conhecimentos e explicitações. Por isso, possivelmente seja essa uma das razões do surgimento de confusões nas abordagens críticas da arte e em seu entendimento pelo público, diante das outras perspectivas que as práticas dos artistas apontam atualmente.

4. É claro que há distinções de qualidade entre as obras de arte contemporânea, disso jamais se poderia duvidar. No entanto percebe-se a ausência de manifestações mais explícitas e fundamentadas sobre a arte, apoiadas em leituras históricas e em conhecimentos artísticos. Geralmente, tudo se passa no mais absoluto silêncio, sem as saudáveis trocas ponderadas com conhecimento. Não basta proliferarem as opiniões, essas serão sempre subjetivas e pessoais; afloram fáceis, como impressões espontâneas sobre os fatos. Observa-se que alguns artistas trabalham com resultados complexos, os que apontam a diferentes experiências; remetem a muitos ângulos de ideias e abordagens, em continuidade de suas pesquisas e explorações de suas poéticas. Outros optam pela obviedade, pelos resultados fáceis ou descritivos do mundo. São escolhas, mas penso ser de extrema importância o incentivo ao exercício aprofundado e crítico da arte por parte da recepção, a ser desenvolvido com profundidade, sistematização e informações atualizadas na formação dos diferentes públicos.

5. Sim, já me senti assim, quem não? Mas lembro que, sempre que possível, busquei recursos para este entendimento: retornei às exposições e revi o já visto. Descobri dados históricos sobre as obras ou tipo de produção, sobre os artistas ou grupos, sobre suas inserções no meio artístico, seu pensamento artístico e suas relações com outros artistas, sobre o que existe de materiais publicados, em especial sobre seus depoimentos. Sabe-se que a arte contemporânea é fundamentalmente centrada nos aspectos cognitivos que a constituem e que exigem, por sua vez, informações específicas para se efetivar uma experiência mais rica da arte. No Renascimento, a arte já era considerada um campo de saber e, como tal, requer até hoje que se enriqueça a reflexão sobre ela, como qualquer outra área que exige conhecimento.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Temporada de Projetos 2010

Paço das Artes divulga lista de selecionados

Foi divulgada ontem pelo Paço das Artes a lista dos dez artistas escolhidos para a "Temporada de Projetos" do ano que vem.

Ana Elisa Egreja, Estela Sokol, Geraldo Zamproni, Nino Cais, Pedro Varela, Rafael Campos Rocha, Rick Castro, Rodrigo Bivar e Tiago Judas estarão na seleção -feita pelos curadores Angélica de Moraes, Cauê Alves, Daniela Bousso, Paula Alzugaray e Priscila Arantes.

Algodão entre os pincéis

Artistas, galeristas e organizadores de eventos como a Bienal entraram em alerta máximo depois que o Brasil, autorizado pela OMC (Organização Mundial do Comércio), decidiu retaliar os EUA por causa do subsídio que os americanos dão aos produtores de algodão. É que, na lista de produtos importados dos EUA que vão ser sobretaxados pelo governo brasileiro, foram incluídos "quadros, pinturas e desenhos". Galeristas dizem que a medida vai "inviabilizar" o trânsito de obras de arte entre os dois países. O Ministério da Cultura já foi acionado para ajudar a detonar a lista junto ao Itamaraty.

EM CASA
"Essa medida vai penalizar galerias e artistas e não vai afetar a economia dos EUA", diz Afonso Luz, do MinC. Ele afirma que vários pintores brasileiros fazem quadros nos EUA e vendem aqui. Dá como exemplo Vik Muniz. E afirma que galerias nacionais que representam americanos vão sofrer. "O impacto será sobre brasileiros, e não sobre americanos."

IMPOSSÍVEL
Alessandra d'Aloia, da galeria Fortes Vilaça e presidente da Associação Brasileira de Arte Contemporânea, é mais radical e diz que a retaliação inviabiliza o comércio de arte entre os dois países. "Todas as vezes que levamos um artista brasileiro para os EUA, a galeria de lá pede que a gente traga alguém deles para o Brasil." Segundo ela, taxas mais fretes atuais já equivalem a cerca de 60%. "Qualquer aumento torna a importação impossível." Protestos já foram enviados ao Itamaraty.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bienal se encerra com recorde de público

Na sétima edição, que se encerrou às 21h de ontem, a Bienal do Mercosul atraiu um público estimado de 306 mil pessoas. O número é superior ao das edições anteriores, considerando-se que este ano o período de abertura ao público foi menor que em 2007. A cifra, divulgada ontem pelos organizadores, não leva em conta o público que participou das performances, os 12 projetos de artistas em programas de residência em nove regiões do Estado e o público que circulou por 10 obras temporárias em espaços públicos de Porto Alegre.

Nos 39 dias em que as exposições estiveram abertas ao público, a média diária foi de 7.849 visitantes.

– Mais uma vez, a identidade da Bienal com a cidade se consolida. A cada realização, notamos a integração da população com o evento – disse o presidente da 7ª Bienal, Mauro Knijnik.

Crítica/Miguel Bakun e Hélio Oiticica


Instituição cria confusão conceitual

por fábio Cypriano da Folha

É bastante esquizofrênica a dupla de exposições em cartaz no Instituto de Arte Contemporânea (IAC): "Natureza e Destino", Sobre a Obra de Miguel Bakun (1909-1963), com curadoria de Eliane Prolik, e "Da Estrutura ao Tempo", sobre Hélio Oiticica (1937-1980), com curadoria de Cauê Alves.

Sem dúvida são duas individuais, com curadores distintos, mas que, ao serem reunidas no mesmo período e na mesma instituição, dão a (falsa) impressão de apresentar algo em comum. Já é fato na cidade que museus tenham designações incongruentes com seus acervos; afinal, o melhor do Museu de Arte Moderna de São Paulo é sua coleção de arte contemporânea, e o melhor do Museu de Arte Contemporânea da USP é seu acervo moderno.

Exatamente por isso o IAC poderia afastar-se dessa confusão. Dedicado a artistas que transitaram do moderno para o contemporâneo, como Sérgio Camargo, Amilcar de Castro, Willys de Castro e Mira Schendel, o IAC tem sido um dos poucos espaços da cidade a apresentar uma produção que, entre os anos 1950 e 1970, representou uma virada fundamental na arte brasileira.

Nesse sentido, a mostra com os Metaesquemas e os Relevos Espaciais de Oiticica mostra coerência com a casa, pois aborda o mesmo período e temática dos artistas que justificaram a criação do instituto.

Contudo, a originalidade do paranaense Bakun reside basicamente em pinturas de paisagens de sua terra natal, com uma temática regionalista e figurativa, que nada tem a ver com Camargo, os Castros e Schendel, denotando uma confusão conceitual da instituição.

Ao menos, no que tange à sala dedicada a Oiticica, o curador problematiza algo que tem muito a ver após o incêndio que destruiu parte do acervo do artista, no qual justamente os Metaesquemas teriam sido grandes vítimas, mas acabaram sendo preservados em sua maioria.

"Não há porque levar a sério minha produção pré-59", escreveu Oiticica, em 1972, desprezando justamente os Metaesquemas, feitos em 1957 e 1958. Atentar à preocupação fundamental da obra de Oiticica é fugir do objeto, mas usando-o para provocar uma reflexão, como faz Alves, é provocar um debate necessário.

SERVIÇO


NATUREZA E DESTINO MIGUEL BAKUN / DA ESTRUTURA AO TEMPO HÉLIO OITICICA

Onde : IAC (r. Maria Antonia, 242, tel. 0/XX/ 11 3255-2009)
Quando : ter. a sáb, das 10h às 18h; dom., das 12h às 17h; até 28/2
Quanto: entrada franca
Avaliação: regular

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Chelpa Ferro em filme do Videobrasil

Documentário feito por Carlos Nader apresenta visão particular sobre o grupo


Camila Molina

Acusma, título da obra que o grupo Chelpa Ferro criou no ano passado, significa uma espécie de alucinação sonora. Instalado agora no Sesc Paulista, o trabalho, inédito em São Paulo - já foi apresentado em Belo Horizonte e no Rio -, é formado por 30 vasos de cerâmica diferentes ligados por fios e com alto-falantes de onde saem sons - composições mescladas à atuação de cinco cantores entoando variações de melodias feitas a partir do solfejar de números (1, 2, 3.....). O som é como sempre afirmam os integrantes do Chelpa, Barrão, Sergio Mekler e Luiz Zerbini, "matéria como outra qualquer" para as criações do grupo e em Acusma ele toma todo o espaço expositivo, por ora mais delicadamente, por ora, não, criando uma atmosfera de "transe", diz Mekler.


A exibição dessa obra do grupo, com uma das atuações de mais destaque hoje no cenário brasileiro, vem a marcar o lançamento, hoje, de documentário sobre o Chelpa Ferro realizado pelo diretor Carlos Nader para a série Videobrasil Coleção de Autores. No Sesc Paulista, o público poderá ter contato com as duas criações até janeiro.

Como afirma Sergio Mekler, quando a diretora do Videobrasil, Solange Farkas, convidou Nader (criador de Pan-cinema Permanente sobre o poeta Waly Salomão), para fazer o filme, o Chelpa Ferro, criado no Rio em 1995, não queria aquele esquema habitual de documentário que tem como linha condutora entrevistas com os artistas. "A gente é avesso a falar e explicar nossos trabalhos. Entregamos ao Nader o nosso arquivo de imagens, tudo o que gravamos em ensaios e montagens para ele montar o documentário", conta ainda Mekler. Acrescido a esse material, o diretor também acompanhou, em 2008, o Chelpa durante os preparativos da exposição Jungle Jam, no Museu de Arte Moderna da Bahia, e da obra Totoro, exibida no ano passado na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, incluindo, assim, imagens próprias ao filme.

O resultado do documentário, sexta obra da coleção do Videobrasil, é um filme diferente, em que a costura das passagens pelas obras e pelas falas dos artistas integrantes do grupo não segue uma linearidade. Antes de aparecer, por exemplo, a barulhenta performance que o Chelpa fez na abertura da 25ª Bienal de São Paulo (2002) - por todo o pavilhão do Ibirapuera ecoou os sons da destruição rítmica de um Maverick, está a viagem dos artistas a Veneza, quando representaram o Brasil na 51ª bienal italiana. Ainda como parte do filme há uma entrevista com o curador Moacir dos Anjos sobre o grupo.

SERVIÇO

CHELPA FERRO
Quando: abertura hoje, às 20h (convidados);
ter. a sex., 13h às 21h; sáb. e dom., 11h às 20h; até 31/1
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 3179 3700); livre
Quanto: entrada franca

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Morre Jeanne-Claude, conhecida pelas megainstalações ao ar livre

Jeanne-Claude - esposa do artista plástico Christo faleceu aos 74 anos em Nova York. Casal é conhecido mundialmente por megainstalações ao ar livre, como projeto no Central Park de Nova York ou "empacotamento" do Reichstag em Berlim.

A artista plástica Jeanne-Claude, que se tornou conhecida com seus projetos gigantescos ao ar livre, morreu aos 74 anos de idade nesta quinta-feira (19/11) em Nova York. A esposa do também artista plástico Christo foi vítima de um aneurisma cerebral, informou o site do casal.

Christo e Jeanne-Claude conheceram-se em Paris

Numa declaração publicada na página, Christo se disse profundamente triste pela perda da esposa, parceira e colega. Ele anunciou ainda sentir-se firmemente comprometido com a promessa que ambos se fizeram há muitos anos: "A arte de Christo e Jeanne-Claude vai prosseguir".

Wrapped Reichstag, Berlin 1971-95

O casal tornou-se conhecido na Alemanha com o espetacular "empacotamento" do prédio do Reichstag em Berlim em 1995. Também a famosa ponte Neuf, sobre o rio Sena, em Paris, foi "empacotada" de forma artística pelo casal.

Obras cada vez mais excêntricas

Outros projetos extraordinários foram a megainstalação "The Gates" no Central Park de Nova York, em 2005, com 7.500 "portais" com panos de cor laranja; os três mil guarda-sóis armados na Califórnia e no Japão, ou as ilhas inteiras circundadas na Flórida com um plástico rosa flutuante.

Christo The Gates, Project for Central Park, New York City Drawing 2002, in two parts 38 X 244 cm. and 106,6 X 244 cm. (15" X 96" and 42" X 96") Pencil, charcoal, pastel, wax crayon, aerial photograph, fabric sample and hand-drawn technical data.

Milhões de pessoas de todo o mundo visitaram as instalações do casal. Ele trabalhavam em dois novos projetos: a cobertura de mais de dez quilômetros de extensão do rio Arkansas, nos Estados Unidos, e o empilhamento de 400 mil barris de petróleo nos Emirados Árabes Unidos, formando uma estrutura semelhante a uma pirâmide.

Christo and Jeanne-Claude The Wall - 13,000 Oil Barrels Gasometer, Oberhausen, Germany 1999

"Christo sente-se compelido a concluir os trabalhos em andamento, como Jeanne-Claude teria gostado", disse o fotógrafo das obras do casal, Wolfgang Volz.
Jeanne-Claude nasceu em 15 de junho de 1935 como Jeanne-Claude Denat de Guillebon, em Casablanca, no Marrocos. Ela descendia de uma família de oficiais franceses. Seu marido, Christo, nasceu no mesmo dia na Bulgária. Ambos viviam juntos há 51 anos.

The Umbrellas, Japan - USA, 1984-91

Liberdade da obra e liberdade do corpo

Ele começou sua formação profissional como assistente de vôo, antes de encontrar seu caminho na arte. Jeanne-Claude conheceu Christo em 1958 em Paris, depois de encomendar ao artista um quadro da mãe dela. Em maio de 1960, nasceu o filho do casal, Cyril, e dois anos mais tarde Christo e Jeannne-Claude se casaram. Em 1964, a família se mudou para os EUA.

Christo Surrounded Islands, Project for Biscayne Bay, Greater Miami, Florida Drawing 1982 In two parts- 38 X 244 cm and 106,6 X 244 cm (15" X 96" and 42" X 96")

Pouco antes dos primeiros encontros, Christo havia "embrulhado" seu primeiro pote de tinta, envolvendo-o com resina e tela de linho. Em seguida, amarrou-o e tratou-o com cola, areia e tinta de automóvel. A partir daí, começou a se dedicar cada vez mais a esta forma de trabalho.

Christo and Jeanne-Claude Wrapped Trees, Fondation Beyeler and Berower Park, Riehen, Switzerland 1997-98

Desde 1994, o casal usa oficialmente os dois nomes juntos, com direitos iguais para as suas obras. Patrocinadores e contribuições de fundos públicos foram negados por ambos os artistas, que financiaram sua arte só com a venda dos esboços.

Christo and Jeanne-Claude Running Fence, Sonoma and Marin Counties, California 1972-76

"Nosso trabalho trata sempre de liberdade", disse certa vez Jeanne-Claude, completando: "Ela é a inimiga da posse e da durabilidade". Esta liberdade a artista também pretende manter após falecimento: segundo a agência de notícias DPA, seu corpo foi colocado à disposição da ciência.

Christo and Jeanne-Claude The Wall, Wrapped Roman Wall Via Veneto and Villa Borghese, Rome, Italy

Christo and Jeanne-Claude The Pont Neuf Wrapped, Paris 1975-85


Christo and Jeanne-Claude Vallley Curtain, Rifle, Colorado, 1970-72


http://www.christojeanneclaude.net


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Metaesquema


fonte: O Globo



Oiticica é leiloado por US$ 122,5 mil atingindo o dobro da estimativa inicial na Christie's


Um metaesquema, trabalho da fase concretista do artista plástico Hélio Oiticica, foi vendido na terça-feira por US$ 122,5 mil, no leilão de arte contemporânea da Christie's. A obra de 1957 atingiu o dobro da estimativa inicial, que era de US$ 60 mil. O preço máximo esperado era de US$ 80 mil. Todos os metaesquemas que pertencem ao Projeto Hélio Oiticica foram preservados no incêndio que destruiu parte da obra do artista, no mês passado.

Também foi vendida uma pintura da brasileira Mira Schendel, em têmpora e folha de ouro sobre madeira, por US$ 74 mil - correspondendo às estimativas, que também variavam entre US$ 60 mil e US$ 80 mil. Mais quatro obras de Mira Schendel estariam em outro leilão de arte latino-americana ontem, incluindo ainda trabalhos dos brasileiros Tunga, Beatriz Milhazes, Roberto Magalhães, Manabu Mabe, Aldemir Martins e Raimundo de Oliveira.

A Christie's vendeu 89% dos lotes, faturando quase US$ 14,7 milhões, 90% do estimado. A venda mais valiosa foi da escultura em bronze "Mulher fumando", do colombiano Fernando Botero, arrematada por US$ 1,14 milhão. Botero também atingiu seu recorde por uma obra em papel, com uma aquarela vendida a US$ 614,5 mil - mais que o dobro de seu último recorde em obras em papel, de US$ 301 mil.

A Sotheby's também está fazendo um leilão de arte latino-americana esta quarta-feira, no qual uma das grandes atrações era uma escultura do brasileiro Sergio Camargo, estimada entre US$ 350 mil e US$ 450 mil. Uma tela de Diego Rivera e uma escultura de Botero também eram destaques.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Crítica


Dupla cria "cosmética da pobreza" Na tentativa de levar ruas ao museu, Osgêmeos tornam a miséria um produto de consumo e caem no entretenimento

por Fabio Cypriano


A transposição do grafite para galerias e museus é um debate que ocorre desde a década de 70. A mostra "Vertigem", da dupla paulistana Osgêmeos, em cartaz na Faap até dezembro, poderia ser observada como mais um capítulo dessa história.

A dupla já incorreu na institucionalização, em São Paulo, quando, em 2006, organizou "O Peixe que Comia Estrelas Cadentes", na Fortes Vilaça.

Daquela vez, os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo transformaram seus personagens em seres tridimensionais para que o visitante fosse envolvido no universo onírico da dupla. Contudo, a "instalação", que mais parecia a atração de um parque de diversões, situava-se no campo do entretenimento e não agregou nada ao debate de como levar um trabalho transgressor feito na rua para o cubo branco de uma galeria de arte.

Agora, os Pandolfo tentam uma nova fórmula: levar a própria rua para o museu, ou melhor, seus habitantes. Um elemento fundamental no grafite é seu diálogo com o espaço urbano, marcado pela poluição visual e sonora das cidades, transformando-o e a ele agregando, em alguns casos, carga poética, como n'Osgêmeos, ou política, como em tantos outros pixadores e grafiteiros. Era óbvio em "O Peixe que Comia Estrelas Cadentes" que o diálogo com a rua fazia falta.

Em "Vertigem", essa deficiência buscou ser compensada por fotos e vídeos de moradores de rua em situações miseráveis, o que é, sem dúvida, uma tentativa de manter o lírico diálogo entre os grafites e o entorno.

O problema é que, enquanto na rua essa tensão é autêntica, dentro de um espaço museológico as imagens desses miseráveis são mera ilustração e, pior, apropriação rasa de um estado de indigência típico das metrópoles latino-americanas. Ivana Bentes denomina uma operação parecida no cinema nacional como "cosmética da fome".

Pois Osgêmeos realizam com "Vertigem" uma "cosmética da pobreza", já que tornam a miséria um produto de consumo fácil, caindo, novamente, no campo do entretenimento.

E a questão não está no uso de elementos populares. É sabido que Hélio Oiticica buscava se inspirar na favela para pensar seu trabalho, mas sua meta não era criar uma chique representação da pobreza, como se vê nas fotos em "backlight" dos Pandolfo. No debate sobre a transposição da arte de rua para o museu, "Vertigem" não tem nada a declarar.

SERIÇO

VERTIGEM - Osgêmeos
Onde: Faap (r. Alagoas, 903, tel. 0/ xx/11/3662-7198, SP)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 20h; sáb. e dom., das 10h às 17h; até 13/12
Quanto: entrada franca
Avaliação: ruim

Tunga surpreende com exibição de série de aquarelas

Artista mostra cerca de 30 trabalhos dos últimos cinco anos, entre os quais garrafas "decoradas" com cristais, aço e urina


Obra, que usa elementos de sexo e escatologia, é reunida em livro-catálogo com aproximadamente 60 imagens e texto do autor 





Sem título , 2005 - aquarela sobre papel de algodão - 45 x 31 cm

Para um artista que habituou o público a esperar por performances cinematográficas, instalações de grande porte e objetos complexos, Tunga inaugura amanhã, na galeria Millan, em São Paulo, uma exposição supreendente.

A narrativa tumultuária dá lugar à atmosfera de serenidade sugerida por uma série de mais de 30 aquarelas, em tons claros e diluídos, em formato de 30 cm x 40 cm. 
São pequenas cenas que podem despertar, ao primeiro olhar, reminiscências da infância, livros de fábulas e ilustrações encantadas. A repetição, em várias delas, de uma palmeira poderá ser associada à obra da modernista Tarsila do Amaral -e o autor concordará.


De perto, porém, não são tão normais. A serenidade se não é enganosa, não é plena: o observador logo identificará conflito e perceberá que a suavidade dos tons envolve situações de sexo e escatologia.


São, afinal, trabalhos de Tunga, um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira e internacional, que desde a década de 70 concebe uma poética perturbadora, marcada pela ousadia, pela potência das formas e pela capacidade de nos transportar à terra dos mitos, dos sonhos e pesadelos.


"A arte é uma continuação do processo de reflexão, que vai se desbloqueando e te pondo em contato com outros universos", diz o artista, que realizou as aquarelas ao longo de cinco anos e chamou-as de "phanografias" ("phanos", do grego, significa luminoso).


A origem das "phanografias" é relatada num livro-catálogo que reúne a série completa de imagens -cerca de 60. Um texto de Tunga nos fala, em tom fabuloso, de uma garrafa de cristal, posta sobre sua mesa de trabalho, que ele se pôs a decorar de modo bizarro, utilizando coisas como correntinhas e fragmentos de ímã, até torná-la uma espécie de talismã.


Certo dia, premido pela vontade de urinar, decidiu fazê-lo na garrafa. Tomado por uma força autoral estranha, que parecia não ser sua, supreendeu-se com o fato de o objeto ter adquirido ares de acabado, "se configurando como uma lamparina" a refletir "luz agradável de tom amarelado".


Ao expor a tais reflexos o papel úmido de uma aquarela sobre a qual trabalhava, o artista teria verificado que uma forma fora impressa. Sua garrafa transformara-se num "phanoscópio de projeção".


Há algo de borgiano nessa história, que trapaceia com realidade e ficção, mas isso também faz parte da poética de Tunga. Fato é que ao lado das aquarelas, ele também expõe três garrafas, como as que descreve no texto -"decoradas" com âmbar, cristal de rocha, aço, urina e outros materiais.


Elas estarão acondicionadas em caixas cujas portas laterais podem ser retiradas ou substituídas por espelhos.

SERVIÇO

QUASE AURORA - TUNGA
Quando: abertura amanhã, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 11h às 17h; até 19/12
Onde: galeria Millan (r. Fradique Coutinho, 1.360, tel. 3031-6007); livre

Marcos Augusto Gonçalves da Folha de S. Paulo

Opinião sobre o Grafitte: tem nosso apoio


Movimento ainda se confunde com vandalismo


Folha de S. Paulo

Enquanto a produção de artistas que se alternam entre rua, galerias e museus conquistou o circuito cultural, um outro movimento urbano, virulento e transgressor, segue seu percurso à margem e é habitué das páginas policiais.

Acusada de vandalismo -rubrica que um dia assombrou o próprio grafite-, a pichação, também chamada de "pixo", é um fenômeno típico de São Paulo que busca reconhecimento como manifestação artística por meio de ações orquestradas e controversas.

Depois de rabiscar o Centro Universitário Belas Artes, a galeria Choque Cultural e as paredes da Bienal de São Paulo, o mesmo grupo de pichadores promete uma espécie de represália aos grafites "domesticados". "Tem gente ganhando cachê pra fazer trabalho em espaço público. Pode fazer, mas vai estar sujeito a ser "atropelado'", avisa Djan Ivson, 25, pichador que participou das ações.

"Atropelar", na gíria das ruas, quer dizer, simplesmente, pichar por cima. "A rua é de quem chegar. Não tem essa. Já questionamos o meio acadêmico e o circuito das artes. Essa onda do grafite legalizado é uma revolta antiga dos pichadores", diz. "Pra onde foi a transgressão?"

Ivson espalha pela cidade a sua marca, Cripta, e teve seus "pixos" expostos na Fundação Cartier, em Paris, na mostra "Nascido nas Ruas", em julho. "Em Paris, foi a primeira vez que fui tratado como artista."

Incompreendida? Maldita? O "pixo" desperta mais fúria que complacência. Para Miguel Chaia, crítico e cientista social, a pichação é, acima de tudo, uma expressão significativa. "É uma forma bonita que cria um enigma com as letras e recompõe a necessidade de interpretação", define. (FM)

CCSP: Mostra reúne artistas emergentes


Fotografia e pintura são as linhas mestras de exposição que está em cartaz no Centro Cultural São Paulo até março 

Nomes com trajetória já consolidada, como Daniel Senise e Rochelle Costi, apresentam trabalhos feitos especialmente para o prédio 


"Estrada 5', tela da jovem artista Ana Prata que integra mostra no CCSP; sua obra também visita bucólicos cenários domésticos




O descontrole e o cruzamento de linguagens dão o tom da 3ª Mostra do Programa de Exposições 2009 do Centro Cultural São Paulo. O tradicional projeto voltado à exibição de novos artistas tem o melhor recorte do ano na seleção de oito nomes, em cartaz até 14/3.



A qualidade das mostras individuais dos emergentes também ganha o forte apoio de três artistas de carreira mais extensa -Daniel Senise, Rochelle Costi e Ricardo Basbaum-, que foram convidados para apresentar obras feitas especialmente para o prédio.


A fotografia é a base da pintura de Ana Prata, 28, mas não a limita. "Minhas telas têm uma perspectiva errada, os encaixes não são perfeitos. A pintura absorve algo do aleatório, do acaso", conta ela, que, em grandes quadros, retrata desde um acidente numa estrada até ambientes domésticos onde nada parece acontecer.

A jovem artista mineira tem expostas tais telas ao lado de peça do carioca Daniel Senise, 54, prestigiado pintor brasileiro da geração 80.



Mas Senise apresenta um projeto tridimensional. A escultura "Eva", de Victor Brecheret, vai ser completamente escondida por dezenas de tijolos feitos de papel reciclado.


O papel originário é todo composto de folders e convites de exposições, descartados e agora com outro fim.


"É como se a ideia de arte se transformasse em matéria. Essa conversão tem a ver com a minha pintura", avalia o artista.


O hibridismo de meios também está presente nas 25 caixas que Rochelle Costi, 48, espalhou pelo centro cultural, mescla de instalação e fotografia, que retratam a "iconografia" das áreas técnicas do centro cultural, como a gráfica e a serralheria. "É como se um mundo subterrâneo de imagens emergisse", diz ela.


E a fotografia é a linguagem escolhida por Sofia Borges, 25, que retrata um "ambiente evasivo" pontuado por uma luz estourada e que revela um espaço algo próximo de ateliê. E, numa das paredes, há uma tela. É de autoria de Rafael Carneiro, 24, e está presente na mostra.

SERVIÇO

3ª MOSTRA DO PROGRAMA DE EXPOSIÇÕES 2009
Quando: de ter. a sex., das 10h às 20h, e sáb. e dom., das 10h às 18h; até 14/3 Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3397-4002)
Quanto: entrada franca

Mario Gioia da Folha de S. Paulo 



Fogo apressa digitalização do acervo de Leonilson

Fogo apressa digitalização do acervo de Leonilson
Incêndio de obras de Oiticica, em outubro, ressaltou importância de cópia virtual


Além de iniciativa on-line, trabalhos serão exibidos em sala especial na Pinacoteca;

Krajcberg e Volpi também terão trabalhos na internet 



Fabio Cypriano

O incêndio de parte do legado de Hélio Oiticica, no mês passado, foi o estopim para a digitalização do acervo de outros artistas brasileiros. Nos primeiros momentos da catástrofe, em outubro, quando a família de Oiticica estimava a perda em 90%, o único alívio era saber que praticamente todos os documentos estavam ao menos preservados virtualmente.


"Isso abriu nossos olhos e nos fez dar atenção para algo que nós mesmos já havíamos feito e deveria, então, ser ampliado", afirma Eduardo Saron, superintendente do instituto Itaú Cultural (IC), responsável pelo acervo virtual.
Assim, num primeiro momento, ficou decidido que três artistas deveriam passar por processo semelhante àquele por que passaram os arquivos de Oiticica: Leonilson (1957-1993), Frans Krajcberg, 88, e Alfredo Volpi (1896-1988).


"Começamos a digitalizar as obras de Leonilson há muito anos, totalizando umas 1.500, e depois paramos. Agora, acertamos com a família o término da digitalização das demais 2.000 obras, 40 cadernos e agendas do artista", conta Saron. Segundo ele, o material deve estar disponível até junho do próximo ano no site do IC (www.itaucultural.org.br), inclusive os cadernos, que poderão ser manuseados virtualmente.


Por conta do incêndio do acervo de Oiticica, aliás, a obra de Leonilson ganhou um porto seguro também fisicamente. Segundo Ana Lenice Dias Fonseca da Silva, irmã do artista, já está definido o comodato [empréstimo] à Pinacoteca. "Fomos informados na última semana de que o comodato foi aprovado pelo conselho da instituição, agora entramos numa fase de acertos finais."


O comodato, confirmado por Marcelo Secaf, presidente da Associação Amigos da Pinacoteca, conforme proposto pelo Projeto Leonilson, será feito inicialmente por um período de dez anos, com uma doação agora e outra em cinco anos.


Na primeira vez, serão doados os 108 desenhos de Leonilson feitos para a coluna de Barbara Gancia, na Folha, entre 1991 e 1993, e outros dois bordados, como são chamados os trabalhos da fase final do artista. "Achamos que seria muito importante essa série de desenhos não ser desmembrada", conta Dias Fonseca.
Uma das contrapartidas da Pinacoteca será, além de abrir uma sala com obras do artista, organizar o "catologue raisonné" (com todas as obras) de Leonilson. "Com a digitalização do Itaú, isso será muito mais simples", afirma Secaf.



Krajcberg e Volpi


Já no caso de Franz Krajcberg, não serão disponibilizadas no site apenas suas obras mais tradicionais. De acordo com o instituto, serão digitalizados também mais de cem filmes -sendo que alguns deles o próprio Krajcberg não via há mais de 40 anos. "Estamos negociando com ele como isso vai para a internet", diz Saron.


Finalmente, o modernista Volpi deve ganhar o "catologue raisonné": "Fomos procurados pelo [marchand] Paulo Kuczynski e estamos organizando o catálogo, que deve ficar pronto em 2011", afirma o superintendente do instituto.

Anunciada equipe de curadores da 29.ª Bienal de SP

Equipe de cinco curadores estrangeiros vão ajudar na concepção da mostra cujo tema é 'Arte e Política'

Camila Molina, de O Estado de S. Paulo

Como estratégia para driblar o curto prazo que se tem para a realização da 29.ª Bienal de São Paulo - menos de um ano, já que está marcada para ocorrer em 2010, entre 21 de setembro e 12 de dezembro, a diretoria da instituição anunciou na tarde desta segunda, 16, a equipe de cinco curadores estrangeiros que ajudarão no processo de concepção da mostra e na escolha de artistas participantes.

Além de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, curadores-chefes da exposição, anunciados anteriormente, ainda vão compor o time: como convidados, a espanhola Rina Carvajal, do Miami Art Museum; o sul-africano Sarat Maharaj, que vive em Londres, onde é professor na Universidade Goldsmiths, e também na Universidade de Lund e na Academia de Artes de Malmo, ambas na Suécia; como assistentes, o angolano Fernando Alvim, que dirige A Trienal de Arte de Luanda; a japonesa Yuko Hasegawa, do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio; e a espanhola Chus Martinez, curadora-chefe do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona.

No anúncio, feito na Fundação Bienal de São Paulo, o presidente da instituição, Heitor Martins, afirmou que na semana passada o Ministério da Cultura aprovou os orçamentos tanto do pré-projeto (de R$1,6 milhão) quanto do projeto da 29.ª Bienal (de R$ 29,3 milhões) para captação de recursos por meio da Lei Rouanet.

Martins ainda disse que do montante total a instituição já tem R$ 13,25 milhões (R$ 12,5 milhões por patrocínio do Banco Itaú e outras empresas e ainda R$ 750 mil livres). "Fechamos um ciclo que iniciamos em abril (quando ele foi convidado a se candidatar a presidente da entidade), em que afirmamos categoricamente que íamos tentar fazer a Bienal em 2010", disse o empresário Heitor Martins, sócio-diretor da empresa internacional de consultoria McKinsey.

A mostra terá como tema principal a relação entre Arte e Política - 26 artistas já estão confirmados, sendo que apenas dois deles foram divulgados, Cildo Meireles e Arthur Barrio, nomes de uma geração com trajetória iniciada nos anos 1960. "Eles vão apresentar obras inéditas na exposição", afirmou Moacir dos Anjos, completando que "vários artistas" vão produzir trabalhos novos para a Bienal. "Convidamos os curadores como interlocutores que nos ajudassem na realização de uma Bienal internacional. Eles são outras vozes em lugares distintos, outras percepções para trabalharmos a plataforma Arte e Política", afirmou Moacir dos Anjos.

Ainda como parte da "rede", fazem parte da equipe da 29.ª Bienal a artista Stella Barbieri (responsável pelo projeto educativo); a arquiteta Marta Bogéa (expografia); André Stolarski (design e produção gráfica); Jacopo Crivelli Visconti (trabalhou para a entidade na gestão passada de Manoel Pires da Costa e agora retorna com a função de fazer a relação institucional da Bienal com instituições estrangeiras); e de Helmut Batista, diretor do projeto Capacete (vai ser o curador do programa de residências da exposição).

Na coletiva de imprensa foi perguntado o que de contemporânea terá a 29.ª Bienal, que tem em sua equipe tanto curadores quanto outros profissionais que já participaram de edições da exposição - Rina Carvajal, por exemplo, esteve na curadoria da 24.ª Bienal; ou mesmo o anúncio de artistas como Meireles e Barrio, nomes constantes das grandes mostras e do circuito.

"Vai ser uma Bienal com uma leitura contundente e com olhar crítico para refletir sobre o mundo de hoje", afirmou Rina - Moacir disse que muitos artistas da lista de participantes serão jovens criadores. "Este é um projeto de refundação da Fundação Bienal de São Paulo e o papel da arte brasileira é outro, já que o Brasil está entrando no mapa de maneira diferente. Os países emergentes já emergiram", disse o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, membro da diretoria da Bienal de São Paulo como representante do Ministério da Cultura.

sábado, 14 de novembro de 2009

Curadoria: Bienal de SP 2010


A Fundação Bienal de SP anuncia nesta segunda-feira o nome dos curadores estrangeiros da 29ª mostra, em 2010: serão o sul-africano Sarat Maharaj, que foi cocurador da Documenta 11, em 2002 (Kassel, Alemanha), e Rina Carvajal, curadora-adjunta do Miami Art Museum que já trabalhou na Bienal de São Paulo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Intervenção no Copan


Mauricio Adinolfi
realiza intervenção artística no Edifício Copan


Marco da arquitetura moderna em São Paulo abre espaço para projeto do artista, que apresenta instalações e colagens em madeira no foyer e galeria dos blocos C e D.

Mostra “Sobre mar, madeiras e outros animais” tem entrada gratuita e fica aberta de 17 de novembro e 17 de dezembro na Avenida Ipiranga, 200.

Décio Hernandez Di Giorgi
Adelante Comunicação Cultural
dgiorgi@uol.com.br
MSN: deciogiorgi@yahoo.com.br
Tels.: (55 11) 3589 6212 / 8255 3338

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Adriana Varejão parte rumo a paisagens marítimas



Mario Gioia da Folha de S.Paulo

Formas circulares, paisagens marítimas, figuras do imaginário popular. Na série de pinturas apresentada a partir de hoje na galeria Fortes Vilaça, a artista carioca Adriana Varejão passa a trabalhar com diversos elementos novos.

'Pérola Imperfeita', uma das pinturas da série inédita da artista carioca Adriana Varejão

"Chega de quadrados", brinca ela, pintora surgida no final dos anos 80 e um dos nomes mais conhecidos da arte brasileira no exterior. Varejão, 45, teve a última individual em São Paulo em novembro de 2005, justamente exibindo a série "Saunas", marcada pela reprodução de azulejos.

A exceção na mostra são duas grandes telas "craqueladas". "Vejo essas duas peças como desenhos. Quis colocá-las na entrada como uma espécie de introdução à minha produção mais nova."

A nova série começou a ser criada quando Varejão conheceu a produção em cerâmica do artista português Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), feita na cidade de Caldas da Rainha, em Leiria, centro de Portugal.

"Tive um impacto muito forte. Quis começar a trabalhar com esse material, mas foi um processo cheio de idas e vindas, que durou seis meses."

A artista decidiu fazer as obras em fibra de vidro, "mas à moda da cerâmica". Começou a pintar cenas quase mitológicas na superfície côncava das peças, a maioria com elementos marítimos, como estrelas-do-mar, anêmonas e conchas.
"As figuras que aparecem nas pinturas têm mais a ver com o imaginário popular do que os registros históricos que eu costumava usar", diz Varejão.

Para a artista, as pinturas se contrapõem à produção de tom mais asséptico da cena de arte contemporânea.
"Queria algo oposto ao minimalista, aos projetos rigorosos e elaborados. Essa pintura não tem nada a ver com algo que é feito aqui. Isso me agrada bastante", avalia Varejão.

SERVIÇO

ADRIANA VAREJÃO
Quando: abertura hoje, às 19h; de ter. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 10h às 17h; até 22/12
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 0/xx/11/3072-7066); livre

Quanto: entrada franca

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Nuno Ramos vence prêmio Portugal Telecom

da Folha

Três brasileiros conquistaram o prêmio Portugal Telecom de Literatura, anunciado ontem, em São Paulo. O livro de contos "Ó" (ed. Iluminuras), de Nuno Ramos, foi o grande vencedor da noite. Ele levará R$ 100 mil reais.
 Autores portugueses consagrados, como António Lobo Antunes, também concorriam.
 Em segundo lugar ficou "Acenos e Afagos" (ed. Record), de João Gilberto Noll, que levou R$ 30 mil.
"A Arte de Produzir Efeito sem Causa" (ed. Companhia das Letras), de Lourenço Mutarelli, foi escolhido em terceiro lugar e vai receber R$ 15 mil.
"Eu não sou escritor, sou artista plástico. Se pudesse significar algo para a literatura, eu gostaria que fosse a tentativa de estimular a literatura mais experimental", disse Ramos

MAM do Rio recebe exposição do artista Carlos Vergara



O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro abre ao público carioca no dia 13 de novembro a exposição Carlos Vergara: A dimensão gráfica – uma outra energia silenciosa. A mostra traz um conjunto de mais de 200 trabalhos realizados pelo artista dos anos 1960 até hoje, onde a linguagem gráfica é o fio condutor.
A exposição tem curadoria do colecionador George Kornis, que por mais de um ano pesquisou os arquivos do ateliê do artista, com intuito de reunir os trabalhos produzidos por Carlos Vergara que tornasse visível ao público a linguagem gráfica que perpassa sua produção, há quase 50 anos.
George Kornis destaca que a produção de Vergara se expressa por diversas linguagens, e esta exposição no MAM pretende dar visibilidade à linguagem gráfica, presente em toda a sua trajetória, de diversas maneiras: monotipias, gravuras, desenhos, 3D, fotografias, filmes.
– Vergara não é somente um pintor, como ele costuma ser apresentado –, comenta Kornis. –Sempre me incomodou que na boa e vasta bibliografia sobre ele há uma fixação em torno de sua obra pictórica –, diz.
A mostra terá trabalhos nunca mostrados, além de obras inéditas no Rio, como a instalação que fez para a Capela do Morumbi, em São Paulo, em 1992, ou o conjunto completo de monotipias da série Gávea. O célebre painel de desenhos de 20 metros de comprimento, feito para a Bienal de Veneza, em 1980, também estará na mostra do MAM.
As 200 obras são provenientes do ateliê do artista e de coleções privadas, como a de, Gilberto Chateaubriand e do próprio George Kornis, além de outros acervos. Para se chegar a esse universo, o curador pesquisou por mais de um ano o Acervo Carlos Vergara, para mapear a produção do artista.
– O acervo está muito bem organizado, então foi possível visualizar, em toda sua extensão, as múltiplas linguagens e os interesses que atravessam sua trajetória.

Serviço:


Exposição: “Carlos Vergara: a dimensão gráfica – uma outra energia silenciosa”

Visitação: 13 de novembro de 2009 a 14 de março de 2010

De terça a sexta, das 12h às 18h
Sábado, domingo e feriado, das 12h às 19h

Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85
Parque do Flamengo

sábado, 7 de novembro de 2009

SUPERFLEX



Superflex se rebela contra o capitalismo

por Júlio Cavani


Os dinamarqueses do grupo Superflex estão entre os mais famosos ativistas políticos no atual cenário da arte contemporânea internacional. Depois de participarem de algumas das principais bienais do mundo, eles mostram seu trabalho no Recife pela primeira vez a partir desta segunda-feira(09/11), na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundação Joaquim Nabuco do Derby.


Vídeo Carro em chamas, que faz parte da exposição dos artistas dinamarqueses, mostra ícone do consumismo em cena repleta de tensão.

As contradições da sociedade capitalista são o principal alvo dos trabalhos do Superflex, mas com uma nova abordagem sem maniqueísmos esquerdistas. Eles já chegaram a ter obras censuradas porque atingiram o orgulho de grandes marcas multinacionais. Na Fundação Joaquim Nabuco, são projetados dois vídeos dos artistas, em cartaz em períodos diferentes. O primeiro é Carro em chamas, que é lançado nesta segunda, às 19h, e continua em exibição até 29 de novembro. O segundo, a partir de 1º de dezembro, é McDonald's inundada, inédito no Brasil.

Carro em chamas mostra exatamente o que o título diz. Durante 11 minutos, um automóvel pega fogo até ser totalmente carbonizado. No lugar de monótona, a cena é carregada de tensão e beleza plástica, pois a filmagem tem fotografia de cinema e mostra os efeitos do calor e o movimento do fogo em detalhes. A imagem, que faz uma referência direta aos protestos ocorridos em Paris há três anos, funciona como uma catarse contra os mecanismos de exclusão social, simbolizada pela destruição de um dos maiores ícones do consumismo.

McDonald's inundada (20 minutos) também tem um título bastante literal. Em um estúdio, os artistas construíram uma réplica do ambiente interno de uma lanchonete e depois alagaram o local com o uso de mangueiras. Aos poucos, a água preenche o ambiente até o teto. O filme, também cuidadosamente fotografado, oferece a sensação de que as forças da natureza se rebelaram contra esse templo internacional da alimentação comercial padronizada. Temas como aquecimento global, manipulação de individualidades e saúde pública podem ser indiretamente associados à obra.

Em 2004, na Bienal de São Paulo, o Superflex teve um trabalho censurado. A obra consistia na distribuição de latas de um refrigerante fabricado por pequenos produtores de guaraná do amazonas, que foram engolidos pelo velado monopólio das grandes companhias de bebida nacionais. Fundado em 1993, o grupo é formado por Reuter Christiansen, Jakob Fenger e Rasmus Nielsen.

Uma programação com cinco debates, acompanha o período da mostra, que é a primeira de um programa de dez exposições em torno do tema Política da arte. Entre os convidados estão Jochen Volz (co-curador da Bienal de Veneza em 2009 e diretor do Centro de Arte Contemporânea Inhotim) e o crítico Luiz Camilo Osório (curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro).