quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Promotoria deve rever veto à nova diretoria da Bienal

Folha de S. Paulo

Após indeferir a posse de Heitor Martins à frente da Fundação Bienal de São Paulo, o curador de fundações do Ministério Público Estadual (MPE), Airton Grazzioli, pode encontrar uma forma de manter o presidente recém-eleito no seu cargo.
Ontem, em reunião com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, Grazzioli propôs a realização de uma nova reunião para resolver o impasse.
"A Bienal é o único evento cultural globalizado de sucesso do país. Senti-me na necessidade de ir à reunião para apoiar a nova diretoria", disse Ferreira à Folha.
"Estamos buscando uma saída que não afronte o estatuto da Bienal, nem as leis, e mantenha o projeto cultural", disse Grazzioli.

Leda Catunda ganha retrospectiva


Exposição na Estação Pinacoteca reúne 60 obras da artista, uma das musas da pintura da década de 80


Fábio Cypriano da Folha de S. paulo

Nos anos 80, celebrados como o período do retorno à pintura, a artista Leda Catunda era uma das grandes musas. Quase 30 anos depois, ela ganha a primeira retrospectiva de sua carreira, com cerca de 60 obras na Estação Pinacoteca.
Outros artistas daquele período já expuseram recentemente no mesmo local, mas Leda revela-se a única a seguir uma linha coerente desde o início, sem sofrer grandes alterações em seu processo criativo, como ocorreu com os demais.
"Acho que a linha perceptível em minha carreira é a apropriação ligada a assuntos do cotidiano, construindo uma espécie de visualidade do cotidiano", disse a artista, anteontem, na montagem da exposição.
Em 1983, Leda apropriava-se de toalhas com personagens de desenhos animados, como em "Vedação em Quadrinhos", a obra mais antiga da exposição, quando a artista ainda cursava artes plásticas na Faap. Em seus trabalhos atuais, quadrinhos seguem sendo utilizados, mas agora são os personagens eróticos de Carlos Zéfiro que fazem parte de suas obras, revelando como o universo pop está sempre presente.
Outra característica importante é o que ela mesma denomina "poética da maciez", já que seus trabalhos sempre utilizam materiais que remetem ao conforto, como em formas orgânicas tridimensionais com tecidos como veludo.
A mostra ocupa três grandes salas do quarto andar da Estação, mas outras obras foram distribuídas pelo local, como "A Cachoeira", sua famosa instalação na Bienal de São Paulo de 1985, composta por tecidos diversos, instalada em meio à coleção Nemirovsky, no 2º andar.

SERVIÇO
LEDA CATUNDA: 1983-2008
Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, tel. 0/xx/11/ 3337-0185)
Quando: hoje, das 11h às 14h; ter. a dom., das 10h às 18h; até 18/ 10
Quanto: R$ 6; grátis aos sábados


Crítica: Sophie Calle por Fábio Cypriano

Sophie Calle sintetiza elementos da arte

Em mostra no Sesc Pompeia, francesa aborda fim de relação e utiliza múltiplos meios, expressões e procedimentos

Fábio Cypriano da Folha de S. Paulo

Quando, nos anos 1960 e 1970, artistas passaram a misturar arte e vida em performances, seja trancando-se por cinco dias num armário da faculdade, como Chris Burden, em 1971, seja masturbando-se embaixo do tablado em uma galeria, como Vito Acconci em "Seedbed" (cama de semente), de 1972, havia a busca pela veracidade na recusa pela representação. Assim, naquela época, os artistas da performance substituíam a ficção pela experiência.

Essa tradição da performance pode enganar aqueles que visitam a mostra "Cuide de Você", da artista francesa Sophie Calle, em cartaz no Sesc Pompeia, criada originalmente para ocupar o pavilhão francês na Bienal de Veneza, em 2007. "Cuide de Você" são as últimas palavras de um e-mail enviado pelo então namorado de Calle, o escritor Grégoire Bouillier, terminando a relação com a artista. Calle, como para se vingar da maneira abrupta como foi comunicada do fim do romance, convocou 104 mulheres, duas marionetes e uma papagaia para interpretar a carta, cada uma segundo sua especialidade: uma advogada, do ponto de vista jurídico; uma linguista, do ponto de vista gramatical, e assim sucessivamente. A exposição, em sua versão paulistana, traz 83 desses testemunhos, como o da papagaia Brenda, que come o papel com o e-mail e fala o mote da exposição, "cuide de você", ou da vidente que interpreta a mensagem em cartas do tarô: "Essas são as palavras de um homem infeliz, por causa do Eremita". Esses dois exemplos são suficientes para exemplificar o tom sarcástico da exposição, que poderia ser vista apenas como um manifesto feminista, afinal somente mulheres interpretam a mensagem do ex-amante. No entanto, ao contrário das performances que se afastavam da representação, a trajetória de Calle aponta que a artista costuma jogar com os limites entre real e ficção, como quando pediu à sua mãe que contratasse um detetive para segui-la (em 1981, com "Perseguição"). Ora, sabendo que seria perseguida, a própria artista poderia conduzir o investigador. No entanto, o que interessava aí era revelar um processo, apresentando tanto os registros fotográficos feitos pelo detetive em confronto com suas próprias anotações. "Cuide de Você", portanto, pode ser vista como uma grande encenação a partir de um fim de caso. Vingança, revanche? Será o e-mail verdadeiro? De fato, isso tudo pouco importa, já que ao final a mostra acaba por reunir alguns dos principais elementos da arte contemporânea de forma invisível, e aí está seu grande mérito. Seja pela multiplicidade de meios (fotografia, vídeo, texto), expressões (dança, teatro, performance) e procedimento (apropriação, colaboração), Calle criou uma das mais representativas instalações atuais. A artista dá a impressão de estar apenas abordando um tema, quando no final, o tema é uma excelente estratégia para seduzir o visitante no universo da arte contemporânea.

SERVIÇO

CUIDE DE VOCÊ

Quando: de ter. a sáb., das 10h às 21h; dom. e feriados, das 10h às 20h; até 7/9 Onde: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)

Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo

Presidente do conselho da Bienal renuncia

Fábio Cypriano da Folha de S. Paulo

O presidente do Conselho Administrativo da Fundação Bienal de São Paulo, Miguel Pereira, renunciou ontem ao cargo, em carta enviada aos conselheiros da instituição.
O motivo é o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que era negociado entre a Bienal e o Ministério Público Estadual (MPE). Entre os itens, estava prevista a renúncia de Pereira.
"Considero abusivas e falsas algumas teses do Ministério Público e, por isso, prefiro renunciar", disse Pereira à Folha. A vice-presidente do Conselho, Elizabeth Machado, deve assumir.
Pereira diz que o MPE foi "condescendente" com Manuel Francisco Pires da Costa, presidente por três mandatos da Bienal: "Há dois pesos e duas medidas". "Não é verdade, a curadoria tem política institucional independente da peculiaridade de uma ou outra entidade", diz o curador de Fundações do MPE, Airton Grazzioli.
A carta diz que o TAC em negociação prevê que Martins, eleito presidente da Fundação, não seja responsável por fiscalizar o contrato da mulher, Fernanda Feitosa, que aluga o pavilhão da Bienal para a Feira SP Arte, e sim uma comissão independente.