A obra de Hélio Oiticica vai virar cinema. Durante os próximos dois anos, a equipe de gravação da Guerrilha Filmes, comandada por César Oiticica Filho, sobrinho de Hélio, percorrerá diversos museus em todo o planeta filmando obras e recuperando material inédito do artista performático morto em 1980. Para a realização do longa-metragem, com o título provisório de "Hélio Oiticica - Delirium Ambulatorium" e que deve ficar pronto em 2010, César esteve no mês passado no Centro de Arte Contemporânea Inhotim. Ele veio filmar a obra "Magic Square nº 5 - De Luxe (1978)", inaugurada no ano passado no museu. "A ideia de fazer o documentário surgiu quando eu estava organizando a exposição ‘Quasi-Cinemas’, em 2001", conta César Filho. "No meio da turnê, que foi para Nova York, Londres e Colônia, encontrei uma série de 12 rolos em Super-8.
Vi então que eram vários filmes do Hélio que, até aquele momento, não constavam de seu catálogo. Pensávamos que ele tinha feito um único filme, o ‘Agripina é Roma-Manhattan’, de 1972." César conta que, também em 2001, reeditando alguns "héliotapes", se deu conta da riqueza de um grande material em áudio, onde o artista falava de seu trabalho e que até hoje era ignorado. "Nesses héliotapes, ele entrevista, é entrevistado, ou às vezes manda uma carta para amigos como o Waly Salomão e Augusto de Campos. Percebi então que esse material já era o filme", revela. Além dos 12 rolos em Super-8 e os "héliotapes", uma entrevista dada pelo artista ao jornal "Folha de S.Paulo" no final dos anos 70, no qual participou o compositor Jards Macalé, completa o material que servirá como uma espécie de roteiro para o filme.
O rolo sumido. Mas será mesmo uma entrevista dada por Hélio, em 1969 para a BBC de Londres, que poderá mudar os rumos do filme de César. O rolo com o tape da fita, desaparecido há 40 anos, é procurado como uma verdadeira relíquia pela produção do filme na Inglaterra. "Na época ele estava fazendo uma exposição individual na galeria Whitechapel em Londres e que foi organizada pelo crítico de arte Guy Brett. Sei que foi uma matéria grande, de aproximadamente 20 minutos. Mas onde este rolo foi parar? Este é o problema", explica. César acredita que seu filme possibilitará que muito mais gente tome contato com a obra de Hélio. Para ele, é fundamental que o público tenha acesso ao discurso do artista. "Colocar a versão do Hélio sobre os fatos é muito importante. Nos dias de hoje, o discurso do curador ganhou uma dimensão tão grande dentro das artes plásticas que o que você vê são geralmente exposições de curadores. Acho importante que se dê voz ao artista", finaliz.
História
1968 foi o ano em que a bandeira "Seja Marginal, seja Herói", de Oiticica, foi exibida no show de Caetano Veloso na boate Sucata, no Rio
"Você não é o maior cineasta brasileiro?
Ivan Cardoso é o cineasta que mais filmou Hélio em vida. O mestre do terrir produziu dois filmes sobre o artista: "HO", de 1979, e "Heliorama", de 2004. "Hélio sempre foi muito especial para mim. Ele tinha grande admiração pelo meu trabalho", confessa Cardoso. "Volta e meia ele brincava comigo: ‘Você não é o maior cineasta brasileiro?’", Cardoso não esconde o orgulho de ter sido escolhido por Hélio para dirigir um filme sobre sua obra. "O Oiticica era amigo de vários cineastas importantes, mas quem ele escolheu para fazer um documentário sobre a sua trajetória fui eu". (JPB)
Vi então que eram vários filmes do Hélio que, até aquele momento, não constavam de seu catálogo. Pensávamos que ele tinha feito um único filme, o ‘Agripina é Roma-Manhattan’, de 1972." César conta que, também em 2001, reeditando alguns "héliotapes", se deu conta da riqueza de um grande material em áudio, onde o artista falava de seu trabalho e que até hoje era ignorado. "Nesses héliotapes, ele entrevista, é entrevistado, ou às vezes manda uma carta para amigos como o Waly Salomão e Augusto de Campos. Percebi então que esse material já era o filme", revela. Além dos 12 rolos em Super-8 e os "héliotapes", uma entrevista dada pelo artista ao jornal "Folha de S.Paulo" no final dos anos 70, no qual participou o compositor Jards Macalé, completa o material que servirá como uma espécie de roteiro para o filme.
O rolo sumido. Mas será mesmo uma entrevista dada por Hélio, em 1969 para a BBC de Londres, que poderá mudar os rumos do filme de César. O rolo com o tape da fita, desaparecido há 40 anos, é procurado como uma verdadeira relíquia pela produção do filme na Inglaterra. "Na época ele estava fazendo uma exposição individual na galeria Whitechapel em Londres e que foi organizada pelo crítico de arte Guy Brett. Sei que foi uma matéria grande, de aproximadamente 20 minutos. Mas onde este rolo foi parar? Este é o problema", explica. César acredita que seu filme possibilitará que muito mais gente tome contato com a obra de Hélio. Para ele, é fundamental que o público tenha acesso ao discurso do artista. "Colocar a versão do Hélio sobre os fatos é muito importante. Nos dias de hoje, o discurso do curador ganhou uma dimensão tão grande dentro das artes plásticas que o que você vê são geralmente exposições de curadores. Acho importante que se dê voz ao artista", finaliz.
História
1968 foi o ano em que a bandeira "Seja Marginal, seja Herói", de Oiticica, foi exibida no show de Caetano Veloso na boate Sucata, no Rio
"Você não é o maior cineasta brasileiro?
Ivan Cardoso é o cineasta que mais filmou Hélio em vida. O mestre do terrir produziu dois filmes sobre o artista: "HO", de 1979, e "Heliorama", de 2004. "Hélio sempre foi muito especial para mim. Ele tinha grande admiração pelo meu trabalho", confessa Cardoso. "Volta e meia ele brincava comigo: ‘Você não é o maior cineasta brasileiro?’", Cardoso não esconde o orgulho de ter sido escolhido por Hélio para dirigir um filme sobre sua obra. "O Oiticica era amigo de vários cineastas importantes, mas quem ele escolheu para fazer um documentário sobre a sua trajetória fui eu". (JPB)