Curadores da polêmica? Bienal do Vazio? entregam à instituição um extenso relatório com sugestões, rumos e metas
Camila Molina
Foi entregue na tarde de quarta-feira ao presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Pires da Costa, e ao presidente de seu Conselho Administrativo, Miguel Alves Pereira, um extenso relatório, ao qual o Caderno 2 teve acesso. O texto está assinado pelos curadores da 28ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen. No mesmo dia, foi realizada na Bienal uma reunião do conselho fiscal para apresentação das contas de 2008.
Camila Molina
Foi entregue na tarde de quarta-feira ao presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Pires da Costa, e ao presidente de seu Conselho Administrativo, Miguel Alves Pereira, um extenso relatório, ao qual o Caderno 2 teve acesso. O texto está assinado pelos curadores da 28ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen. No mesmo dia, foi realizada na Bienal uma reunião do conselho fiscal para apresentação das contas de 2008.

Esse relatório foi concebido a partir da experiência dos curadores e do material de discussões promovidas pelos seminários durante a última bienal, que ficou conhecida como a Bienal do Vazio, por ter deixado desocupado todo o segundo andar do pavilhão de exposições.
Em breve, ainda sem data definida, haverá uma reunião com todos os conselheiros para a eleição do novo presidente da instituição. O nome cotado é Andrea Matarazzo, secretário de Coordenação das Subprefeituras do município de São Paulo. "É um excelente administrador, ele tem meu convite pessoal", afirmou Pires da Costa. Antes, foi convidado para o cargo o diplomata Rubens Barbosa. Segundo Pires da Costa, Barbosa não aceitou a candidatura porque não teria o apoio formal do poder público.
A entrega de um relatório detalhado sobre a 28ª Bienal estava prevista no projeto curatorial de Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen desde o início do evento, realizado entre 27 de outubro e 6 de dezembro. No relatório, o número de visitantes aparece como 162 mil pessoas.
PRINCIPAIS PONTOS DO DOCUMENTO
UMA DIVISÃO SEM SENTIDO: "No momento, é irrelevante se pode haver conselheiros vitalícios ou não. Antes, a questão é a composição do Conselho, como ele se articula para cumprir os objetivos da Fundação. Se os conselheiros não contribuem financeiramente para as operações da Fundação, conforme propunha o modelo de filantropia que criou o MAM e a Bienal nos anos 1950, então o que cabe ao Conselho é o gerenciamento dos trabalhos da instituição, a busca pela realização de seus objetivos. Assim, parece sem sentido a divisão entre Diretoria Executiva e a Presidência do Conselho."
MAIS EXPERIÊNCIA: "O que parece importante e procedente é uma nova composição do conselho, incluindo não apenas os amantes da arte e da cultura, mas também profissionais experientes como diretores de museus, curadores, artistas, galeristas, acadêmicos, que possam contribuir para um entendimento e uma presença mais orgânica da instituição na sociedade e no meio artístico brasileiro e internacional."
A FIGURA DO SUPERINTENDENTE: "O modelo de organograma que tem no topo um superintendente, no comando de setores e de profissionais para tarefas específicas como a curadoria, o planejamento e o desenvolvimento, a captação de recursos e marketing, produção, imprensa e RP, já foi adotado por gestões anteriores da Fundação. As 17.ª, 18.ª e 19.ª Bienais estão entre as poucas que, por exemplo, não apresentaram problemas de fluxo de caixa 60-90 dias antes da inauguração, graças ao planejamento do projeto."
A QUESTÃO DO ALUGUEL: "O uso do pavilhão para aluguel a feiras e eventos é o que parece garantir a folha de pagamento mensal de cerca de 30 funcionários, dedicados e colaboradores, que hoje trabalham na Fundação. Aparentemente, não há nenhum problema se for dentro de um processo criterioso, e também um meio de obter recursos para a exposição, arquivos históricos, benefícios ao prédio. Entretanto, esse procedimento parece ter gerado entre os funcionários (não todos, é claro) uma mentalidade que prioriza a feira, tomada como regra de organização, e a bienal como a exceção."
O DESGASTE DA IMAGEM: "A prática de realizar a mostra deixando dívidas para o próximo ano, a próxima bienal, não é boa para a imagem da Fundação, nem para o funcionamento de suas operações. Pior, algumas dívidas ficam sempre penduradas como, por exemplo, o prêmio recebido por Martin Puryear, em 1989, que até hoje não foi pago. O fato de a instituição se comprometer com projetos muito superiores à sua capacidade de captação de recursos parece evidente e é uma das causas de maior desgaste da imagem institucional da Fundação Bienal, afetando sua credibilidade como empregadora e pagadora."
PLANEJAR FINANCIAMENTOS: "Ao contrário de outras entidades que já trabalham a partir de estruturas profissionais e planejadas, dentro de programas definidos e regulares, a Fundação não tem quadros nem planejamento para esse setor, tão regulado e com dinâmica própria. Tampouco tem um cronograma adequado às suas atividades. Quando sai em busca de patrocínio para seus projetos, a Bienal sai em desvantagem, pois não pode oferecer um serviço regular ao patrocinador interessado. Faz isso apenas uma vez a cada dois anos. Por essa razão, ela muitas vezes recebe o que sobra de uma quantia anual definida pelas empresas."
MANTER A PERIODICIDADE: "De tempos em tempos surge a ideia de que a bienal deveria ser transformada em trienal ou quadrienal. O maior espacejamento entre as mostras não resolve questões financeiras e eventuais crises institucionais. Ao contrário, seria mais difícil ainda a captação de recursos. Apenas daria maior respiro entre o sufoco de duas exposições."