quarta-feira, 1 de abril de 2009

Bienal de Veneza terá obras de Lygia Pape

Fonte: Folha de SP

A organização da Bienal de Veneza divulgou os artistas que vão participar da 53ª edição da mostra, uma das mais importantes do mundo em artes plásticas. O evento é aberto em 4 de junho, para convidados, e segue até 22 de novembro.
Lygia Pape (1927-2004) é o novo nome brasileiro presente na exposição principal. Öyvind Fahlström (1928-1976), nascido em SP mas radicado na Suécia, também está na seleção. De artistas radicados no Brasil, a seção principal de Veneza inclui obras de Cildo Meireles, Sara Ramo e Renata Lucas. Entre os outros nomes de destaque presentes na mostra, estão a francesa Dominique Gonzalez-Foerster, o italiano Alessandro Pessoli e a americana Miranda July.

Narração é trunfo de documentário

por Fábio Cypriano da Folha SP
Atração do É Tudo Verdade, "Cildo", de Gustavo Moura, apresenta trajetória de artista por meio de suas destacadas obras

"Desvio para o Vermelho", instalação de Cildo Meireles que pertence ao acervo do Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG)

Existe uma tendência na produção de documentários sobre arte e artistas contemporâneos que muitas vezes usa as obras desses artistas como mera escada para ressaltar a visão ou mesmo a opinião de seu diretor, uma espécie de sequestro "bem-intencionado". Felizmente, esse não é o caso de "Cildo", de Gustavo Moura, que hoje é exibido pela primeira vez em São Paulo. No documentário, existe um imenso respeito e admiração por Cildo Meireles, o artista-tema do filme, que se revela por meio de suas longas falas, muito mais significativas que as demais participações. Quem já conviveu um pouco com Cildo sabe que o artista é um grande contador de histórias, um narrador nos moldes a que Walter Benjamin se referiu em seu antológico texto que aborda esse assunto. "A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores", escreveu Benjamin, em 1936. Por isso, não deixa de ser reveladora a maneira como Cildo sempre conta uma história, ao longo do filme, para explicar sua forma de criação. A memória de ter visto de sua janela, quando criança, um andarilho que durante a noite montou uma casa perfeita em miniatura e que pela manhã abandonou tudo, por exemplo, é apresentada pelo artista como um fato emocionante e que o teria motivado a escolher a formação em artes plásticas. Em alguns casos, vê-se até o artista recontando algumas de suas histórias, uma forma de reforçar essa vertente narrativa. É por meio dela, afinal, que se compreende melhor a experiência que Cildo propõe em cada uma de suas obras -várias delas, ao menos dez- muito bem apresentadas ao longo do documentário. Entre elas, estão desde aquelas vistas em 2006 na Estação Pinacoteca, em São Paulo -como "Babel", "Marulho" e "Cruzeiro do Sul"-, até "Desvio para o Vermelho" -uma de suas obras mais conhecidas, do acervo do Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG). Outras não são tão famosas, como "Liverbeatlespool", uma instalação sonora com música dos Beatles. Também é significativo o trecho utilizado de um outro filme sobre Cildo, dirigido por Wilson Coutinho (1947-2003), em 1979, no qual é explicada, de forma hilária, a obra "Inserções em Circuitos Ideológicos". Cildo é sem dúvida um dos protagonistas da cena contemporânea nacional, como atesta a grande repercussão que obteve sua individual na Tate Modern, em Londres -encerrada em janeiro passado-, onde, aliás, estreou "Cildo". Com o documentário, sua obra, tão pouco vista frente à precariedade dos museus brasileiros, ganha nova visibilidade.

CILDO
Direção: Gustavo Moura
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 15h, no Cinesesc; sex., às 13h, no CCBB
Classificação: não indicado a menores de 14 anos Avaliação: ótimo