sábado, 7 de novembro de 2009

SUPERFLEX



Superflex se rebela contra o capitalismo

por Júlio Cavani


Os dinamarqueses do grupo Superflex estão entre os mais famosos ativistas políticos no atual cenário da arte contemporânea internacional. Depois de participarem de algumas das principais bienais do mundo, eles mostram seu trabalho no Recife pela primeira vez a partir desta segunda-feira(09/11), na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundação Joaquim Nabuco do Derby.


Vídeo Carro em chamas, que faz parte da exposição dos artistas dinamarqueses, mostra ícone do consumismo em cena repleta de tensão.

As contradições da sociedade capitalista são o principal alvo dos trabalhos do Superflex, mas com uma nova abordagem sem maniqueísmos esquerdistas. Eles já chegaram a ter obras censuradas porque atingiram o orgulho de grandes marcas multinacionais. Na Fundação Joaquim Nabuco, são projetados dois vídeos dos artistas, em cartaz em períodos diferentes. O primeiro é Carro em chamas, que é lançado nesta segunda, às 19h, e continua em exibição até 29 de novembro. O segundo, a partir de 1º de dezembro, é McDonald's inundada, inédito no Brasil.

Carro em chamas mostra exatamente o que o título diz. Durante 11 minutos, um automóvel pega fogo até ser totalmente carbonizado. No lugar de monótona, a cena é carregada de tensão e beleza plástica, pois a filmagem tem fotografia de cinema e mostra os efeitos do calor e o movimento do fogo em detalhes. A imagem, que faz uma referência direta aos protestos ocorridos em Paris há três anos, funciona como uma catarse contra os mecanismos de exclusão social, simbolizada pela destruição de um dos maiores ícones do consumismo.

McDonald's inundada (20 minutos) também tem um título bastante literal. Em um estúdio, os artistas construíram uma réplica do ambiente interno de uma lanchonete e depois alagaram o local com o uso de mangueiras. Aos poucos, a água preenche o ambiente até o teto. O filme, também cuidadosamente fotografado, oferece a sensação de que as forças da natureza se rebelaram contra esse templo internacional da alimentação comercial padronizada. Temas como aquecimento global, manipulação de individualidades e saúde pública podem ser indiretamente associados à obra.

Em 2004, na Bienal de São Paulo, o Superflex teve um trabalho censurado. A obra consistia na distribuição de latas de um refrigerante fabricado por pequenos produtores de guaraná do amazonas, que foram engolidos pelo velado monopólio das grandes companhias de bebida nacionais. Fundado em 1993, o grupo é formado por Reuter Christiansen, Jakob Fenger e Rasmus Nielsen.

Uma programação com cinco debates, acompanha o período da mostra, que é a primeira de um programa de dez exposições em torno do tema Política da arte. Entre os convidados estão Jochen Volz (co-curador da Bienal de Veneza em 2009 e diretor do Centro de Arte Contemporânea Inhotim) e o crítico Luiz Camilo Osório (curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro).

Museus correm para expor Oiticica



SP ganha mostra com "Metaesquemas" e relevos que é aberta hoje; Inhotim terá pavilhão exclusivo para artista carioca



"Cosmococas" serão exibidas em três instituições dos EUA; após incêndio, custos de exposição paulistana dobram 



Mario Gioia e Silas Marti da Folha de S. Paulo





Depois do incêndio de 30% do acervo de Hélio Oiticica que estava na casa do irmão, César Oiticica, no Rio, museus e instituições aceleram mostras e espaços dedicados ao artista carioca, no Brasil e no exterior. Em São Paulo, hoje, o IAC (Instituto de Arte Contemporânea) inaugura a exposição "Da Estrutura ao Tempo", que exibe 18 trabalhos de Oiticica (1937-1980) do início de carreira, de 1956 ao começo da década seguinte.


Após o incêndio ocorrido no último dia 16, a mostra ganhou mais interesse e teve os custos duplicados. "A segurança, que já era maior que o normal, foi reforçada. O seguro também aumentou", conta Roberto Bertani, diretor do IAC.


As obras emprestadas por cinco colecionadores de São Paulo e do Rio também estão com o valor dobrado. Em média, cada um dos 14 "Metaesquemas" presentes no IAC vale US$ 300 mil (cerca de R$ 516 mil). Cada um dos quatro relevos que completam "Da Estrutura..." é avaliado em US$ 700 mil (R$ 1,2 milhão).


O curador da exposição, Cauê Alves, fez o recorte no começo da carreira de Oiticica por avaliar que as leituras sobre essa fase se repetem. 
"É um período muito importante na trajetória do Hélio e que tem sido visto como antecipador da obra mais sensorial dele, quando ele abandona o plano, quase como se a trajetória dele tivesse uma evolução linear", afirma Alves. "Mas ele poderia ter trilhado outros caminhos. A rigor, os "Metaesquemas" se aproximam muito da produção de outros construtivos, como Barsotti e Amilcar de Castro.

Pavilhão exclusivo


Na esteira de mostras de Oiticica pós-incêndio, o Instituto Inhotim pretende inaugurar no ano que vem um pavilhão para abrigar cinco das nove "Cosmococas" produzidas pelo artista, com o cineasta Neville d'Almeida, nos anos 70.


Só uma das instalações, "CC5 Hendrix War", está montada hoje no museu de Brumadinho, na Grande BH. Com a construção do novo pavilhão, as outras quatro obras da série, que já integravam o acervo do Inhotim, poderão ser vistas juntas pela primeira vez desde 2005, quando foram expostas no Rio e em Buenos Aires. 
"Esse projeto já existia antes do incêndio, mas agora se torna mais urgente", afirma Rodrigo Moura, um dos curadores do centro mineiro. "Toda a situação de como mostrar a obra do Hélio mudou muito."


No trabalho já montado, Oiticica faz uma homenagem ao músico Jimi Hendrix. As demais obras da série são instalações com projeções de slides, espécie de fusão entre artes plásticas e cinema, dedicadas a outras figuras centrais na história da arte, como Luis Buñuel, Yoko Ono e John Cage. "Nossa filosofia era homenagear pessoas de grande transgressão", lembra Neville d'Almeida, que fez a série com Oiticica entre março e agosto de 1973, no apartamento onde o artista vivia em Nova York.


"Hendrix, por exemplo, fez uma transgressão tão violenta, tão absoluta que o vice-presidente na época disse que ele era um veneno para a juventude americana." 
Esse veneno aparece no branco da cocaína usada nas fotografias da série. Contornos dos rostos de Hendrix e Monroe, por exemplo, são traçados por cima dos retratos com carreiras da droga. As "Cosmococas" formam parte expressiva da filosofia de Oiticica e seu chamado programa ambiental. "É uma obra matricial de como artistas vão pensar o papel do espectador dentro da imagem em movimento", diz Moura.


Três obras da série serão exibidas no exterior. Uma delas, a que homenageia Buñuel, pode ser vista agora no museu Yerba Buena, em San Francisco. Em fevereiro de 2010, viaja para o Hunter College, em Nova York, e segue em setembro de 2010 para o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles.

DA ESTRUTURA AO TEMPO

Quando: abertura hoje, às 11h (convidados); de ter. a sáb., das 10h às 18h, e dom., das 12h às 17h; até 28/2
Onde: IAC (r. Maria Antonia, 242, tel. 0/xx/11/3255-2009); livre
Quanto: entrada franca