Superflex se rebela contra o capitalismo
por Júlio Cavani
Os dinamarqueses do grupo Superflex estão entre os mais famosos ativistas políticos no atual cenário da arte contemporânea internacional. Depois de participarem de algumas das principais bienais do mundo, eles mostram seu trabalho no Recife pela primeira vez a partir desta segunda-feira(09/11), na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundação Joaquim Nabuco do Derby.
Vídeo Carro em chamas, que faz parte da exposição dos artistas dinamarqueses, mostra ícone do consumismo em cena repleta de tensão.
As contradições da sociedade capitalista são o principal alvo dos trabalhos do Superflex, mas com uma nova abordagem sem maniqueísmos esquerdistas. Eles já chegaram a ter obras censuradas porque atingiram o orgulho de grandes marcas multinacionais. Na Fundação Joaquim Nabuco, são projetados dois vídeos dos artistas, em cartaz em períodos diferentes. O primeiro é Carro em chamas, que é lançado nesta segunda, às 19h, e continua em exibição até 29 de novembro. O segundo, a partir de 1º de dezembro, é McDonald's inundada, inédito no Brasil.
Carro em chamas mostra exatamente o que o título diz. Durante 11 minutos, um automóvel pega fogo até ser totalmente carbonizado. No lugar de monótona, a cena é carregada de tensão e beleza plástica, pois a filmagem tem fotografia de cinema e mostra os efeitos do calor e o movimento do fogo em detalhes. A imagem, que faz uma referência direta aos protestos ocorridos em Paris há três anos, funciona como uma catarse contra os mecanismos de exclusão social, simbolizada pela destruição de um dos maiores ícones do consumismo.
McDonald's inundada (20 minutos) também tem um título bastante literal. Em um estúdio, os artistas construíram uma réplica do ambiente interno de uma lanchonete e depois alagaram o local com o uso de mangueiras. Aos poucos, a água preenche o ambiente até o teto. O filme, também cuidadosamente fotografado, oferece a sensação de que as forças da natureza se rebelaram contra esse templo internacional da alimentação comercial padronizada. Temas como aquecimento global, manipulação de individualidades e saúde pública podem ser indiretamente associados à obra.
Em 2004, na Bienal de São Paulo, o Superflex teve um trabalho censurado. A obra consistia na distribuição de latas de um refrigerante fabricado por pequenos produtores de guaraná do amazonas, que foram engolidos pelo velado monopólio das grandes companhias de bebida nacionais. Fundado em 1993, o grupo é formado por Reuter Christiansen, Jakob Fenger e Rasmus Nielsen.
Uma programação com cinco debates, acompanha o período da mostra, que é a primeira de um programa de dez exposições em torno do tema Política da arte. Entre os convidados estão Jochen Volz (co-curador da Bienal de Veneza em 2009 e diretor do Centro de Arte Contemporânea Inhotim) e o crítico Luiz Camilo Osório (curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro).
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