quarta-feira, 11 de março de 2009

Mira Schendel ganha mostras no MoMA de NY e em galerias de Londres e SP

Mira Schendel (Zurique/Suíça, 1919 - São Paulo/SP, 1988) e León Ferrari (Buenos Aires/Argentina, 1920) são o foco da mostra “Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel”, realizada no MoMA (Museum of Modern Art ; www.moma.org), em Nova York (EUA), de 05/04/09 a 15/06/09. Mira ganha também exposição na Stephen Friedman Gallery (www.stephenfriedman.com), em Londres (Inglaterra), de 30/05/09 a 11/07/09. E na paulistana Galeria Millan (www.galeriamillan.com.br), Mira ganha exibição de 30 obras, unicamente monotipias, trabalhos em óleo sobre papel-arroz que a artista fez entre os anos de 1964 e 1966. São obras que evidenciam a gestualidade e a espontaneidade do traço, composto por elementos como linhas, frases, palavras e arquiteturas. Fica em cartaz de 18/03/09, às 20h, a 25/04/09.
Artistas desistem de bolsa do Salão de PE

Matéria originalmente publicada no Diário de Pernambuco, em 02/03/09.

Em sua 47ª edição, o Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, considerado o principal prêmio de arte contemporânea do Nordeste, com uma das maiores verbas do país, corre mais uma vez o risco de arranhar sua credibilidade, construída ao longo de mais de 50 anos, graças a atrasos na distribuição de verbas e cobranças de impostos excessivos.
Marcos Costa e Carlos Mascarenhas, dupla de artistas que foi selecionada com o projeto “Ópera Crua”, anunciaram por meio de uma carta entregue à imprensa que vão recusar a premiação e devolver para o governo do Estado o dinheiro recebido até agora.
O regulamento do 47º Salão foi divulgado em junho de 2008 e o resultado da seleção foi anunciado em outubro, com “Ópera Crua” entre os selecionados. Costa e Mascarenhas, junto com outros artistas, receberiam dez bolsas mensais de R$ 1,5 mil (totalizando R$ 15 mil) para desenvolver o projeto ao longo de dez meses. Segundo o edital, eles teriam que começar a trabalhar em novembro e concluir tudo em agosto de 2009. As parcelas, porém, só começaram a ser pagas no fim de dezembro, com um desconto de cerca de 30% do total.
O pagamento da primeira parcela não ocorreu em novembro. Os artistas só começaram a receber no fim de dezembro, quando ganharam os dois meses retroativos, já com o desconto de 30%. Em janeiro e fevereiro, as bolsas também não foram distribuídas. Até agora, os artistas dizem que não receberam nenhuma justificativa oficial e que também não foram comunicados sobre o motivo dos atrasos.
Burocracia - O atraso no pagamento das bolsas aos artistas deve ser resolvido na primeira semana de março. Essa é a promessa feita pela coordenadora-geral do Salão, Luciana Padilha. "A expectativa é que, até o fim da semana, os pagamentos de janeiro, fevereiro e março sejam efetuados e, a partir daí, a gente não tenha mais atrasos", explica Luciana. Ainda de acordo com a coordenadora, o atraso inicial no pagamento das bolsas - quando os valores referentes a novembro e dezembro foram pagos no fim de dezembro - foram ocasionados por questões "burocráticas". "Agora, esse novo atraso aconteceu porque, até o dia 15 de janeiro, o governo está empenhado na prestação de contas e não faz os pagamentos", complementa.
Esta semana também os artistas devem ter uma resposta com relação aos descontos no valor da bolsa, que chegam a 30%. "O desconto foi previsto no edital, mas nós não especificamos de quanto seria. É o valor referente ao imposto de renda, já que o edital se enquadrou na categoria de prêmio. Mas o jurídico está fazendo um estudo para ver se esse desconto pode ser, de alguma forma, reduzido", esclarece Luciana Padilha.
O cronograma do Salão não deve sofrer muitas alterações por conta dos problemas financeiros. A idéia é conversar com os artistas que se sintam prejudicados para tentar solucionar o problema. "Pode até acontecer um atraso, mas de poucos dias. Vamos tentar resolver de outra forma. O nosso interesse mesmo é que todos desenvolvam seus trabalhos da melhor forma e poder proporcionar pesquisas, fomentar as artes plásticas, ter um salão nacional em Pernambuco, que tenha troca de informações entre os artistas", finaliza a coordenadora.
Inconformismo - "Não temos como nos comprometer se não houver uma regularidade da fonte pagadora", reclama Marcos Costa. "Se aceitarmos trabalhar desta forma, vamos estar sendo incoerentes com o próprio mérito do prêmio. Não temos como garantir a qualidade", explica o artista, que precisaria alugar equipamentos e contratar técnicos e assistentes para produzir “Ópera Crua”, mas fica impedido de se planejar por causa dos atrasos.
"A gente não quer fazer mal feito para depois botar a culpa no Salão. Preferimos não fazer", raciocina Carlos Mascarenhas. "Dinheiro público merece ser gasto com responsabilidade", complementa Marcos Costa, que não quer assumir um compromisso sem receber condições suficientes para cumprir os prazos.
Na carta, intitulada “Tributo das artes ou tributo às artes?”, os artistas dizem que receberam um "tratamento amador" e uma "completa ausência de justificativa em relação ao atraso na liberação das mensalidades referentes ao financiamento dos projetos". Eles dizem ainda que "a natureza desses tributos, vale ressaltar, até então, não está devidamente discriminada e esclarecida".

Leia abaixo a íntegra da carta dos artistas.

“Tributo das artes ou tributo às artes?” - Carta-Manifesto escrita a quatro mãos por Carlos Mascarenhas e Marcos Costa.
Novidade alguma quanto à incrível capacidade do ser humano em adaptar-se às circunstâncias mais escabrosas e inóspitas nos chamaria à atenção se, contudo, as ondas de insatisfações e sintomas decorrentes de um tal contexto, não se perdessem e se desgastassem sem atingirem devidamente as motivações que geram o estado inaceitável das coisas.
Talvez, por isso mesmo, a qualidade da produção nem sempre é objeto privilegiado. Felizmente, essa postura não atinge a totalidade da classe artística, pois, é sabido que, por outro lado, existem os que prezam, não só pela qualidade da própria obra como, igualmente, pelos expedientes nos quais se envolvem para expor seus trabalhos.
Os descontentamentos advindos deste 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco são profusamente expressos através dos e-mails que circulam entre bolsistas contemplados. Invariavelmente, queixosos quanto ao tratamento amador e à completa ausência de justificação relativa ao abusivo atraso na liberação das mensalidades referentes ao financiamento dos projetos. Como se não bastasse todo esse descaso imobilizante, o artista ainda se depara com uma carga tributária que mutila em um terço o orçamento programado para a realização do trabalho, tal como fora contabilizado no cronograma original do projeto. A natureza desses tributos, vale ressaltar, até então, não está devidamente discriminada e esclarecida. Daí que, numa conjuntura mórbida e paralisante como essa, talvez seja o caso de se saber o que está realmente em questão: O Tributo das Artes ou Tributo às Artes?
Testemunhando assim, como se nos configura o atual quadro onde se denotam as distorções abusivas, sobretudo no que respeita ao trato com os artistas deste 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, a COMPARSA – Companhia de Arte & Saúde –, em nome dos seus respectivos criadores Marcos Costa e Carlos Mascarenhas, autores do “Ópera Crua”, projeto premiado na última seleção, vêm expressa e publicamente manifestar sua dissidência e afastamento do referido Salão, comprometendo-se, através desta carta-manifesto, em devolver na íntegra todo o subsídio financeiro até então disponibilizado pela Fundarpe – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco.
Museu Vale (Vila Velha/ES) realiza 4ª edição dos Seminários Internacionais

O Museu Vale, em Vila Velha (ES), apresenta a 4ª edição dos Seminários Internacionais entre 11/03/09 e 15/03/09. Com o tema “Criação e Crítica”, o evento tem o propósito de mostrar a relação entre o fazer artístico e o pensamento que o compreende. São encontros entre artistas e críticos. A coordenação está a cargo do filósofo Dr. Fernando Pessoa, professor de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo, e de Glória Ferreira, crítica de arte e curadora independente.

Programação:

11/03/09, credenciamento e abertura.
19h - Abertura do seminário com Mônica Zielinski (professora e coordenadora da catalogação da obra completa do pintor Iberê Camargo) e lançamento de livro.

12/03/09
15h - mesa-redonda 1 - José Damasceno (artista) e Tania Rivera (psicanalista e crítica de arte).
19h - mesa-redonda 2 – Jean-Claude Lebensztejn (crítico de arte - professor emérito de história da arte da Universidade Paris).
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13/03/09
- 15h – mesa-redonda 3 – Rodrigo Braga e Clarissa Diniz (artistas).
- 19h – mesa-redonda 4 - Ana Maria Machado (escritora) e Eduardo F. Coutinho (crítico literário).

14/03/09
- 11h – mesa-redonda 5 - Marilá Dardot (artista) e Luisa Duarte (crítica de arte).
- 15h – mesa-redonda 6 – Nelson Félix (artistas) e Glória Ferreira (crítica de arte e curadora).

15/03/09
- 11h – mesa-redonda 7 - Ricardo Basbaum e Waltercio Caldas (artistas).
- 15h – mesa-redonda 8 – Jacinto Lagueira (crítico de arte, professor de Estética na Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne) e Thierry De Duve (crítico de arte, historiador, filósofo da arte, professor da Universidade de Lille 3).

Vila Velha (ES): antiga Estação Pedro Nolasco, s/nº, Argolas, tel. (27) 3333-2484. www.museuvale.com e www.seminariosmv.org.br
Rumos é pautado pela delicadeza

Quarta edição do projeto reúne 45 obras selecionadas entre mais de 1.600 inscritos, quase todas marcadas pela sutileza

Maria Hirszman do Estadão

Com uma edição bastante enxuta, em que predomina grande multiplicidade de enfoques, suportes e tendências, será inaugurada hoje a 4ª exposição do projeto Rumos Visuais, do Itaú Cultural. Como ocorre desde sua implementação, há uma década, o evento conta com participação mais expressiva do Sudeste, com forte presença de artistas residentes em São Paulo e no Rio. Mas há também representantes de outros nove Estados entre os 45 artistas selecionados pela equipe curatorial, a partir de um esforço de mapeamento desenvolvido por um amplo time formada não apenas por um curador-geral, Paulo Sergio Duarte, mas também por quatro curadores e oito curadores-assistentes. Neste biênio, houve número recorde de inscrições (mais de 1.600), tornando extremamente difícil o processo de seleção, sobretudo na fase final.
Apesar da dificuldade crescente em sintetizar os rumos atuais dessa produção e do desejo de abertura expresso pela própria generalidade do título Trilhas do Desejo, adotado pela mostra, é possível notar ao longo da exposição a persistência de algumas linhas mestras, como o entrecruzamento de linguagens, a inexistência de uma hierarquia entre os diferentes suportes e grande preocupação com a beleza plástica da obra. Característica curiosa, destacada por Paulo Sergio Duarte, é, por exemplo, o desaparecimento do mundo rural nos trabalhos inscritos.
Também não se nota esboço de nenhuma ação poética crítica, de cunho político. Há, sim, em várias obras, a presença de questões de caráter regional ou de reelaboração de elementos cotidianos, de memória e vivências (em sua maioria urbana), mas sempre pautadas por grande sutileza. A tal ponto que Duarte tenderia a chamar a mostra de O Espetáculo e a Delicadeza. Ele faz questão de destacar que usa espetáculo não no sentido pejorativo do termo, mas como forma de definir o caráter sedutor, belo, dos trabalhos. Exemplos de trabalhos que se enquadram nesse binômio são os apresentados por Amanda Mei (SP) e Daniel Herthel (MG).
A opção por reduzir o número de artistas também contribui para essa maior sensação de leveza, tornando o espaço menos comprimido do que nas edições anteriores. O projeto museográfico criado por Pedro Mendes da Rocha não estabelece linhas divisórias. Vídeos, performances, pinturas e esculturas convivem nos três andares do prédio, se é que ainda é possível usar essas categorias de linguagem para falar das obras. Letícia Ramos (RS) faz uma videoinstalação a partir de fotos distorcidas e repetitivas feitas no Largo de Pinheiros; Rafael Alonso (RJ) cria obras de grande efeito pictórico usando elásticos ou fitas adesivas; Laila Terra (SP) propõe uma experiência multisensorial com sua escultura sonora.
Talvez o único piso em que haja uma vertente mais clara seja o primeiro andar, no qual se nota certa presença de questões pictóricas, cromáticas, mesmo que o suporte muitas vezes não tenha nada a ver com a tradicional superfície bidimensional. Lá estão, por exemplo, os baldes suspensos de Nino Cais ou o espaço de cor criado por Aline Shintani (ambos de SP).
Além de Trilhas do Desejo, a 4ª edição Rumos prevê eventos paralelos, como a organização de seminário entre 12 e 14 de março (que poderá ser acompanhado pelo site www.itaucultural.org.br), a realização de mostras itinerantes com recortes de obras selecionadas pelos curadores e ainda a parceria com diferentes instituições culturais do Brasil e do exterior, que receberão 4 dos 45 selecionados para períodos de residência. O júri responsável pela seleção dos artistas deve divulgar na próxima semana o nome dos contemplados com as bolsas de estudo.

Serviço

Rumos Artes Visuais 2008/ 2009. Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, tel. 2168-1776. 3.ª a 6.ª, 10 h/21 h; sáb., dom., 10 h/ 19 h. Grátis. Até 10/5

Preste Atenção

Este ano a mostra expandiu-se para fora do prédio do Itaú. Dois dos trabalhos mais interessantes estão numa casa alugada na R. Tomás Carvalhal, 273. Galeria Boliche, do mineiro Tiago de Carvalho, reúne obras de intensidade poética a partir de narrativas recolhidas no bairro; e a instalação do pernambucano Kilian Glassner, que pintou uma surpreendente paisagem no terraço do segundo andar da casa, para depois demolir parte do espaço, cria interessante relação com o entorno urbano.
Algumas obras conseguem potência poética com a manipulação e o encantamento de materiais aparentemente comuns. Preste atenção nas paisagens de arquitetura modernista de Yana Tamayo (DF) fotografando utensílios de plástico ou nas oníricas nuvens que Marcelo Moscheta, também com individual na Galeria Leme, sobrepondo caixas transparentes do chocolate que abrigam tufos de algodão.
Há certo caráter lúdico, infantil, em algumas obras, como a batalha naval interativa e agigantada, proposta por Laerte Ramos (SP), e a Revista Pretinho Básico, reedição das bonecas de papel acompanhadas de vestidos recortados. No caso da versão distribuída por Marina de Botas (SP), a boneca veste uma réplica do vestido que a artista usará em performance nesta noite. M.H.
Rumos mostra nova arte do país

Mapeamento de 45 artistas realizado pelo Itaú Cultural não encontra regionalismos e política explícita

Mostra, que tem abertura hoje para convidados, é fruto de trabalho coordenado pelo crítico Paulo Sergio Duarte


Mario Gioia da Folha de S. Paulo

Mapeamento da nova arte nacional, o projeto Rumos Artes Visuais tem aberta sua exposição hoje no Itaú Cultural celebrando o cruzamento de linguagens -pintura, fotografia, vídeo, gravura, escultura, instalação, desenho e performance- como uma das principais características das 72 obras dos 45 nomes da mostra.
Mas esse não é o único traço comum. O esvaziamento dos regionalismos e a ausência de trabalhos de teor explicitamente político são outros aspectos que surpreenderam a equipe curatorial.
"A arte militante de cunho político-social acabou, ao menos nesse nosso mapeamento", afirma Paulo Sergio Duarte, 62, crítico de arte radicado no Rio e coordenador do grupo. "Nem entre os trabalhos descartados havia esse viés", diz ele, que contou com a ajuda de quatro curadores de outros Estados -Alexandre Sequeira (PA), Christine Melo (SP), Marília Panitz (DF) e Paulo Reis (PR).
Nino Cais
Na entrada do último andar da exposição, o diálogo entre linguagens é destacado pelos curadores. Em uma das paredes, quatro fotografias da paulista Sofia Borges, 24, são influenciadas pela luz e pela composição da pintura. E, na frente delas, duas pinturas do paulista Rafael Carneiro se apropriam de imagens registradas por câmeras de um circuito interno de segurança.
"As fotos da Sofia têm uma luz barroca, guardam algo das pinturas dos séculos 16 e 17, de antigas naturezas-mortas", avalia Panitz, 50. "Já as pinturas do Rafael se apropriam dos frames do vídeo, são opacas." Borges concorda com a avaliação de Panitz. "Faço construções fotográficas.
Duplico figuras, faço sobreposições, coloco elementos. De certa forma, o meu método se apropria muito mais do "arbitrário" da pintura que do "instantâneo" da fotografia", diz a artista, um dos 16 nomes de São Paulo, o Estado com mais representantes no Rumos. Logo depois, vem o Rio, com seis, e o Pará, com cinco.
E é do Pará que são exibidos outros bons trabalhos da mostra, como o vídeo "Efêmera Paisagem", de Alberto Bitar, que, em quatro minutos, reconstrói o caminho de 70
km que o artista percorria com a sua família de Belém a Mosqueiro. "Poderia ter sido feito em qualquer lugar, tem uma velocidade próxima do mundo urbano", diz Sequeira, 47. "Por isso acreditamos que os regionalismos mais antigos foram suplantados. O artista usa um discurso que é forte em qualquer ambiente."
Uma noção de precariedade também parece aproximar as obras do paulistano Nino Cais, 39, que faz esculturas com baldes e objetos domésticos, e do gaúcho Ernani Chaves, que exibe tacos empilhados. "Busco o equilíbrio, mas há uma tensão permanente, pois as varas que sustentam o trabalho são frágeis. Um esbarrão mais forte, e desaba tudo", diz Cais.

RUMOS ARTES VISUAIS
Quando: abertura hoje (convidados), às 20h; de ter. a sex., das 10h às 21h, sáb. e dom., das 10h às 19h; até 10/5
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776); livre
Quanto: entrada franca