Quarta edição do projeto reúne 45 obras selecionadas entre mais de 1.600 inscritos, quase todas marcadas pela sutileza
Maria Hirszman do Estadão
Com uma edição bastante enxuta, em que predomina grande multiplicidade de enfoques, suportes e tendências, será inaugurada hoje a 4ª exposição do projeto Rumos Visuais, do Itaú Cultural. Como ocorre desde sua implementação, há uma década, o evento conta com participação mais expressiva do Sudeste, com forte presença de artistas residentes em São Paulo e no Rio. Mas há também representantes de outros nove Estados entre os 45 artistas selecionados pela equipe curatorial, a partir de um esforço de mapeamento desenvolvido por um amplo time formada não apenas por um curador-geral, Paulo Sergio Duarte, mas também por quatro curadores e oito curadores-assistentes. Neste biênio, houve número recorde de inscrições (mais de 1.600), tornando extremamente difícil o processo de seleção, sobretudo na fase final.
Apesar da dificuldade crescente em sintetizar os rumos atuais dessa produção e do desejo de abertura expresso pela própria generalidade do título Trilhas do Desejo, adotado pela mostra, é possível notar ao longo da exposição a persistência de algumas linhas mestras, como o entrecruzamento de linguagens, a inexistência de uma hierarquia entre os diferentes suportes e grande preocupação com a beleza plástica da obra. Característica curiosa, destacada por Paulo Sergio Duarte, é, por exemplo, o desaparecimento do mundo rural nos trabalhos inscritos.
Também não se nota esboço de nenhuma ação poética crítica, de cunho político. Há, sim, em várias obras, a presença de questões de caráter regional ou de reelaboração de elementos cotidianos, de memória e vivências (em sua maioria urbana), mas sempre pautadas por grande sutileza. A tal ponto que Duarte tenderia a chamar a mostra de O Espetáculo e a Delicadeza. Ele faz questão de destacar que usa espetáculo não no sentido pejorativo do termo, mas como forma de definir o caráter sedutor, belo, dos trabalhos. Exemplos de trabalhos que se enquadram nesse binômio são os apresentados por Amanda Mei (SP) e Daniel Herthel (MG).
A opção por reduzir o número de artistas também contribui para essa maior sensação de leveza, tornando o espaço menos comprimido do que nas edições anteriores. O projeto museográfico criado por Pedro Mendes da Rocha não estabelece linhas divisórias. Vídeos, performances, pinturas e esculturas convivem nos três andares do prédio, se é que ainda é possível usar essas categorias de linguagem para falar das obras. Letícia Ramos (RS) faz uma videoinstalação a partir de fotos distorcidas e repetitivas feitas no Largo de Pinheiros; Rafael Alonso (RJ) cria obras de grande efeito pictórico usando elásticos ou fitas adesivas; Laila Terra (SP) propõe uma experiência multisensorial com sua escultura sonora.
Talvez o único piso em que haja uma vertente mais clara seja o primeiro andar, no qual se nota certa presença de questões pictóricas, cromáticas, mesmo que o suporte muitas vezes não tenha nada a ver com a tradicional superfície bidimensional. Lá estão, por exemplo, os baldes suspensos de Nino Cais ou o espaço de cor criado por Aline Shintani (ambos de SP).
Além de Trilhas do Desejo, a 4ª edição Rumos prevê eventos paralelos, como a organização de seminário entre 12 e 14 de março (que poderá ser acompanhado pelo site www.itaucultural.org.br), a realização de mostras itinerantes com recortes de obras selecionadas pelos curadores e ainda a parceria com diferentes instituições culturais do Brasil e do exterior, que receberão 4 dos 45 selecionados para períodos de residência. O júri responsável pela seleção dos artistas deve divulgar na próxima semana o nome dos contemplados com as bolsas de estudo.
Serviço
Rumos Artes Visuais 2008/ 2009. Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, tel. 2168-1776. 3.ª a 6.ª, 10 h/21 h; sáb., dom., 10 h/ 19 h. Grátis. Até 10/5
Preste Atenção
Este ano a mostra expandiu-se para fora do prédio do Itaú. Dois dos trabalhos mais interessantes estão numa casa alugada na R. Tomás Carvalhal, 273. Galeria Boliche, do mineiro Tiago de Carvalho, reúne obras de intensidade poética a partir de narrativas recolhidas no bairro; e a instalação do pernambucano Kilian Glassner, que pintou uma surpreendente paisagem no terraço do segundo andar da casa, para depois demolir parte do espaço, cria interessante relação com o entorno urbano.
Algumas obras conseguem potência poética com a manipulação e o encantamento de materiais aparentemente comuns. Preste atenção nas paisagens de arquitetura modernista de Yana Tamayo (DF) fotografando utensílios de plástico ou nas oníricas nuvens que Marcelo Moscheta, também com individual na Galeria Leme, sobrepondo caixas transparentes do chocolate que abrigam tufos de algodão.
Há certo caráter lúdico, infantil, em algumas obras, como a batalha naval interativa e agigantada, proposta por Laerte Ramos (SP), e a Revista Pretinho Básico, reedição das bonecas de papel acompanhadas de vestidos recortados. No caso da versão distribuída por Marina de Botas (SP), a boneca veste uma réplica do vestido que a artista usará em performance nesta noite. M.H.
Maria Hirszman do Estadão
Com uma edição bastante enxuta, em que predomina grande multiplicidade de enfoques, suportes e tendências, será inaugurada hoje a 4ª exposição do projeto Rumos Visuais, do Itaú Cultural. Como ocorre desde sua implementação, há uma década, o evento conta com participação mais expressiva do Sudeste, com forte presença de artistas residentes em São Paulo e no Rio. Mas há também representantes de outros nove Estados entre os 45 artistas selecionados pela equipe curatorial, a partir de um esforço de mapeamento desenvolvido por um amplo time formada não apenas por um curador-geral, Paulo Sergio Duarte, mas também por quatro curadores e oito curadores-assistentes. Neste biênio, houve número recorde de inscrições (mais de 1.600), tornando extremamente difícil o processo de seleção, sobretudo na fase final.
Apesar da dificuldade crescente em sintetizar os rumos atuais dessa produção e do desejo de abertura expresso pela própria generalidade do título Trilhas do Desejo, adotado pela mostra, é possível notar ao longo da exposição a persistência de algumas linhas mestras, como o entrecruzamento de linguagens, a inexistência de uma hierarquia entre os diferentes suportes e grande preocupação com a beleza plástica da obra. Característica curiosa, destacada por Paulo Sergio Duarte, é, por exemplo, o desaparecimento do mundo rural nos trabalhos inscritos.
Também não se nota esboço de nenhuma ação poética crítica, de cunho político. Há, sim, em várias obras, a presença de questões de caráter regional ou de reelaboração de elementos cotidianos, de memória e vivências (em sua maioria urbana), mas sempre pautadas por grande sutileza. A tal ponto que Duarte tenderia a chamar a mostra de O Espetáculo e a Delicadeza. Ele faz questão de destacar que usa espetáculo não no sentido pejorativo do termo, mas como forma de definir o caráter sedutor, belo, dos trabalhos. Exemplos de trabalhos que se enquadram nesse binômio são os apresentados por Amanda Mei (SP) e Daniel Herthel (MG).
A opção por reduzir o número de artistas também contribui para essa maior sensação de leveza, tornando o espaço menos comprimido do que nas edições anteriores. O projeto museográfico criado por Pedro Mendes da Rocha não estabelece linhas divisórias. Vídeos, performances, pinturas e esculturas convivem nos três andares do prédio, se é que ainda é possível usar essas categorias de linguagem para falar das obras. Letícia Ramos (RS) faz uma videoinstalação a partir de fotos distorcidas e repetitivas feitas no Largo de Pinheiros; Rafael Alonso (RJ) cria obras de grande efeito pictórico usando elásticos ou fitas adesivas; Laila Terra (SP) propõe uma experiência multisensorial com sua escultura sonora.
Talvez o único piso em que haja uma vertente mais clara seja o primeiro andar, no qual se nota certa presença de questões pictóricas, cromáticas, mesmo que o suporte muitas vezes não tenha nada a ver com a tradicional superfície bidimensional. Lá estão, por exemplo, os baldes suspensos de Nino Cais ou o espaço de cor criado por Aline Shintani (ambos de SP).
Além de Trilhas do Desejo, a 4ª edição Rumos prevê eventos paralelos, como a organização de seminário entre 12 e 14 de março (que poderá ser acompanhado pelo site www.itaucultural.org.br), a realização de mostras itinerantes com recortes de obras selecionadas pelos curadores e ainda a parceria com diferentes instituições culturais do Brasil e do exterior, que receberão 4 dos 45 selecionados para períodos de residência. O júri responsável pela seleção dos artistas deve divulgar na próxima semana o nome dos contemplados com as bolsas de estudo.
Serviço
Rumos Artes Visuais 2008/ 2009. Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, tel. 2168-1776. 3.ª a 6.ª, 10 h/21 h; sáb., dom., 10 h/ 19 h. Grátis. Até 10/5
Preste Atenção
Este ano a mostra expandiu-se para fora do prédio do Itaú. Dois dos trabalhos mais interessantes estão numa casa alugada na R. Tomás Carvalhal, 273. Galeria Boliche, do mineiro Tiago de Carvalho, reúne obras de intensidade poética a partir de narrativas recolhidas no bairro; e a instalação do pernambucano Kilian Glassner, que pintou uma surpreendente paisagem no terraço do segundo andar da casa, para depois demolir parte do espaço, cria interessante relação com o entorno urbano.
Algumas obras conseguem potência poética com a manipulação e o encantamento de materiais aparentemente comuns. Preste atenção nas paisagens de arquitetura modernista de Yana Tamayo (DF) fotografando utensílios de plástico ou nas oníricas nuvens que Marcelo Moscheta, também com individual na Galeria Leme, sobrepondo caixas transparentes do chocolate que abrigam tufos de algodão.
Há certo caráter lúdico, infantil, em algumas obras, como a batalha naval interativa e agigantada, proposta por Laerte Ramos (SP), e a Revista Pretinho Básico, reedição das bonecas de papel acompanhadas de vestidos recortados. No caso da versão distribuída por Marina de Botas (SP), a boneca veste uma réplica do vestido que a artista usará em performance nesta noite. M.H.
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