Crítica/"Pedro Weingärtner"
Pinacoteca relembra pintura de gaúcho Mostra faz panorama de Weingärtner, cuja arte é descritiva e moralizadora
Obras do artista, do início do século 20, são resumo do que a pintura poderia ter sido se os movimentos de vanguarda não surgissem
por Tadeu Chiarelli
Em 10 de dezembro de 1910 foi inaugurada a terceira exposição do gaúcho Pedro Weingärtner em São Paulo. Apresentando pinturas com temáticas variadas, a mostra atraiu muitos visitantes, tendo vendido, no final, 50 das 52 obras expostas.
Se isso não basta para aferir a importância do pintor para São Paulo, lembro uma nota de "O Estado de S. Paulo" do dia 28 daquele mês, exortando o governo estadual a comprar o tríptico "A Fazedora de Anjos" para a Pinacoteca: "Deixá-lo sair de S. Paulo seria erro imperdoável (...) poucos trabalhos se prestarão tão bem a figurar como este numa galeria pública: educa pela arte superior com que é feito e educa pela elevada moral que o inspirou".
Desde 1911 pertencente à Pinacoteca, "A Fazedora de Anjos" sintetiza duas questões importantes para a pintura do início do século 20: primeiro, reforça o caráter descritivo da pintura da época que, acossada pela fotografia e pelo cinema, transborda o mimetismo característico da pintura ocidental para o servilismo copista; segundo, une a essa exacerbação da mímese a função exemplar que a arte sentia-se obrigada a exercer, apesar da falência dessa condição a partir das transformações do século 19.
Entre anedótica e moralista, "A Fazedora de Anjos" manteve-se durante cem anos como uma das obras mais admiradas da Pinacoteca justamente por ser um resumo do que, para o público, a pintura poderia ter sido se os influxos das vertentes artísticas que vieram depois não desviassem seu rumo. E, para parte desse público do museu, a obra de Weingärtner e toda a compreensão do que a arte deveria ou poderia ter sido ficou resumida àquela pintura.
É por isso que a retrospectiva que a Pinacoteca inaugurou sobre o artista deve ser visitada. Ela apresenta um panorama da sua pintura, possibilitando conhecer esse artista que constituiu sua obra nos padrões de um gosto eclético, crente de que a arte devia ser descritiva e, ao mesmo tempo, moralizadora. E, dentro dessa dicotomia, Weingärtner é mestre.
Parte de suas pinturas possui uma "moral da história", deliciosa para o público atual, menos "inocente". Ter trabalhado para atender ao gosto simples dos burgueses ricos e ignorantes não o impediu, no entanto, de provar que era qualificado também fora dos padrões que elegeu para alcançar o sucesso. "Paisagem com Árvores", por exemplo, atesta a desenvoltura com que manejava os pincéis na interpretação do aparente. Por essas e outras, o público paulista deve, cem anos depois, prestigiar de novo Weingärtner, visitando uma das exposições mais importantes do ano.
PEDRO WEINGÄRTNER: UM ARTISTA ENTRE O VELHO E NOVO MUNDO
Quando: de ter. a dom., 10h às 18h; até 9.8
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, tel. 3324-1000)
Quanto: R$ 6, grátis aos sábados
Avaliação: Ótimo
TADEU CHIARELLI é diretor do departamento de Artes Plásticas da ECA-USP
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