O caso de Caroline Pivetta da Mota, a Caroline `Sustos`, presa em flagrante por ter pichado e depredado o Pavilhão da Bienal de São Paulo junto a um grupo de cerca de 40 jovens, em 27/10/08, durante a exposição da Bienal, está dando o que falar.
Em 13/12/08, a partir das 19h30, no Atelier La Tintota, em São Paulo (SP), um grupo de “artivistas” se reúnem para uma manifestação em defesa de Caroline. Para a iniciativa, Artur Matuck (artista plástico, escritor e professor da Universidade de São Paulo), escreveu um manifesto, reproduzido abaixo na íntegra:
"Caros artivistas do Brasil e do mundo,
Vocês estão informados de um dos resultados da Bienal Internacional de São Paulo que se encerrou hoje? Uma mulher autodenominada pichadora está presa, ameaçada de permanecer encarcerada por até três anos. Caroline `Sustos` foi uma das integrantes do grupo de pichadores que invadiu a mostra. As paredes foram pichadas e repintadas e a mostra não foi prejudicada.
Independente da discussão estética, se a pichação é ou não arte, se se justifica ou não, a atuação deste grupo ao invadir o prédio da Bienal com um grupo de pichadores, foi também um ato expressivo, foi inequivocamente uma manifestação cultural que poderia, deveria ser discutida, avaliada, rejeitada e mesmo eventualmente contida. Que tenha como resultado a detenção de uma mulher apresenta-se como lamentável e inaceitável para as instituições públicas de São Paulo.
Especialmente, a Bienal de São Paulo não deve participar de um ato repressivo que resulte na detenção de Caroline `Sustos` (como assina seus autos de prisão) em suma, em mais uma pessoa encarcerada por motivos muito discutíveis.
Pode-se sim considerar, ao contrario, que a proposta do curador Ivo Mesquita em manter um andar da exposição vazio, para um exercício de reflexão sobre todas as Bienais do mundo, como afirmou, foi devidamente respondida por este grupo de pichadores. Esta resposta representa uma pulsão de uma cidade !
A história tem demonstrado que inúmeras vezes os críticos, curadores e historiadores equivocam-se diante de manifestações artísticas inusitadas. A Bienal de São Paulo teria muito a ganhar se o andar vazio tivesse sido, após esta invasão, voluntariamente oferecido aos pichadores e grafiteiros de São Paulo que aliás projetaram sua arte internacionalmente. O fato da pichação não ser validada e legitimada pode também representar uma ausência de reflexão de críticos e historiadores diante de um fenômeno contemporâneo que escapa de nossos paradigmas habituais.
A abertura da Bienal teria sido um gesto inédito de reconhecimento por uma instituição artística, de uma forma expressiva que se espalhou por toda a cidade e não pode ser simplesmente ignorada. Uma discussão ampla e bem informada sobre o fenômeno cultural da pichação é relevante desde que na medida em que não é validado enquanto expressão artística pode ser considerado como vandalismo e justificar repressão.
Diante de todo o exposto, proponho que seja organizado um protesto, seja presencial seja virtual, por todos os meios possíveis, convocando `artivistas` sejam brasileiros sejam internacionais no sentido de convocarmos nossas energias para que esta mulher seja liberada o quanto antes.
Aqueles dentre nós que possam acessar jornalistas, advogados, promotores de justiça, políticos, professores, estudantes, todos que puderem de algum modo interferir a favor, reenviarem esta mensagem e solicitar solidariedade.
Aqueles que puderem traduzir este protesto para outras línguas e enviar para grupos de discussão e instituições estrangeiras favor engajarem-se o quanto antes.
Divulguem este protesto, disseminem esta idéia para que Caroline seja libertada o quanto antes e para que as instituições artísticas e culturais brasileiras não se tornem cúmplices neste cerceamento da liberdade e da expressão”.
- Artur Matuck (artista plástico, escritor e professor da Universidade de São Paulo).
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