terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Artista Mônica Nador leva cores a bairro de Santo André

FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo 25/01/2009

"É ela quem faz desenho na casa dos outros", diz a menina com menos de cinco anos, camisa rosa e saia vermelha, apontando a artista Mônica Nador, que tem coordenado a pintura da fachada de casas no Jardim Santo André, em Santo André, cumprindo promessa que nada tem de religiosa: gastar tinta onde é necessário.

Projeto da artista plastica Mônica Nador, que pinta casas em bairros da periferia; o projeto está indo para o Jardim Santo André (SP)

Nos últimos três meses, a jovem moradora da região em processo de urbanização, que se tornou conhecida por ser onde ocorreu a tragédia do caso Eloá, viu cerca de 30 casas ganharem cores e padrões inéditos. A mudança é tão significativa que as ruas da região, ainda sem nome, passaram a ser chamadas com referências às pinturas realizadas. A rua do Jacaré, com uma pintura do animal, por exemplo, foi onde a garota apontou a artista.

Tigres, cachorros ou macacos, plantas e ainda objetos como bules, xícaras e fruteiras são elementos que agora fazem parte da fachada das moradias, feitos a partir de encontros com os próprios moradores.

"Mesmo que não sejam eles que pintem, sempre peço que ao menos eles escolham os desenhos [...] Mas também estabeleço alguns critérios: não pode ser logomarca, e é preciso ter alguma relação com a pessoa", conta Nador.

Artista que iniciou sua carreira nos anos 80, no momento em que se pregava o retorno à pintura, Nador, apesar do reconhecimento, decidiu, na década seguinte, que não iria mais usar pincéis dentro de museu. "Eu achava que estava gastando tinta onde não era necessário", costuma dizer.

Em 2004, após várias experiências em pintar casas junto com seus moradores, Nador fundou o Jardim Miriam Arte Clube (Jamac), instalando-se de forma fixa no bairro homônimo da região sul da capital. Rapidamente, veio o reconhecimento, com o grupo convidado para a Bienal de São Paulo de 2006, "Como Viver Junto".

Habitação e arte

Graças à sua atividade com o Jamac, Nador foi contatada por profissionais da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Governo do Estado de São Paulo (CDHU). "Estamos desenvolvendo um trabalho de urbanização de favelas e, ao concluirmos duas delas, percebemos que população precisava mais do que obras, mas de sentimento de pertencimento, de valorização da auto-estima, e que a arte poderia ajudar nisso", disse à Folha Viviane Frost, superintendente de ações de recuperação urbana da CDHU.

Na próxima semana, a especialista apresenta os resultados já alcançados no Jardim Santo André num congresso sobre urbanização e inclusão social na América Latina, na Universidade da Flórida (EUA).

O trabalho de Nador no Jardim Santo André é considerado piloto, mas deve se estender a todas as 3.000 moradias do local, segundo Lair Krähenbühl, secretário de Estado da Habitação e presidente do CDHU. "Criamos uma dotação orçamentária, o projeto São Paulo de Cara Nova, com R$ 50 milhões a serem gastos não só em pinturas, mas em melhorias estruturais como muro de arrimo", explica o secretário, que estima gasto de R$ 1 mil por moradia.

Em um local de tons escurecidos, as novas casas coloridas se sobressaem. Uma das que alcança maior destaque é a do casal Gilcilene Girardelli e Edielson Ferreira Bento. "Eles queriam usar o desenho de um cachorro com chapéu, mas achei que seria forçado e mostrei o desenho de uma criança, com quem trabalhei no Japão, no ano passado, e eles gostaram", conta Nador. "Nossos amigos e parentes nem reconhecem mais nossa casa, só espero que a japonesa não cobre direitos autorais", brinca Bento.

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