Projeto de arte revitaliza abrigo para moradores de rua
fonte: dw-world.de
A artista, que trabalhou numa instituição de apoio à população de rua enquanto estudava na capital alemã, chegou através de seu dia-a-dia à idéia de desenvolver o projeto: "Achei que era um cinismo muito grande ver pessoas vivendo na rua e não fazer nada. Foi quando pensei em utilizar a arte para realizar alguma coisa", conta ela.
A implementação bem-sucedida do projeto em Moscou convenceu os responsáveis por um programa de atendimento a desabrigados de Berlim. Eles deram a Kilali a incumbência de revitalizar um abrigo no bairro de Schöneweide, na parte leste da cidade. O tratamento do local durou dois anos, financiado basicamente por doações.
Como num hotel
A Casa Schöneweide fica num cruzamento movimentado, em frente a uma estação de trem. De fora, só a intensidade da cor amarela da fachada destaca o prédio antigo dos outros da redondeza. Quem entra ali, acredita estar chegando a um hotel: lustres imponentes, piso italiano, altas colunas dividindo os ambientes.
Logo depois da porta, há duas poltronas de couro, onde já se pode observar a presença dos freqüentadores do local, que diferem muito de hóspedes costumeiros de um hotel. Trata-se de desabrigados, pedintes e moradores de rua, muitos deles dependentes de drogas e álcool.
A idéia de colocar ali lustres de cristal e sofás vermelhos, por exemplo, poderia ter sido tirada de uma revista de decoração. Interessantes são também os quadros com molduras douradas nas paredes, com obras de arte de apenas uma cor: superfícies amarelas, vermelhas ou verdes. Essas obras são parte do conceito de renovação visual do local desenvolvido por Miriam Kilali.
"Certo exagero"
Nem todos os moradores do albergue compreendem a idéia que está por trás do projeto. A maioria reage de forma positiva às mudanças, embora alguns reclamem de um "certo exagero".
A decoração (lustres, colunas e cores) foi "imposta" pela artista. Já o mobiliário dos quartos, basicamente em branco, foi uma escolha dos moradores. A mesma liberdade eles tiveram em relação às fotos que estão dependuradas nas paredes – em sua maioria reproduções fotográficas de paisagens, feitas pela própria artista nos EUA.
Relação pessoal com o ambiente
Wolfgang Binder, que vive na Casa Schöneweide desde 2001, é um dos moradores satisfeitos com o ambiente mais amável e claro de seu quarto, onde estão dependuradas fotos de caminhões na paisagem norte-americana. Binder nunca esteve nos EUA e provavelmente nunca poderá viajar até lá, embora tenha uma irmã vivendo no país.
Para Miriam Kilali, o importante é fazer com que os moradores criem algum tipo de relação pessoal com o lugar onde vivem, passando a ver o albergue como a própria casa, mesmo que provisória.
Bálsamo para a alma
Às críticas de que os lustres imponentes seriam um exagero num abrigo para moradores de rua, a artista responde com o argumento de que um ambiente belo é sempre "um bálsamo para a alma", ou seja, de suma importância para as pessoas que vivem à margem da sociedade.
"Quero que as pessoas, quando entrem aqui, não tenham a sensação de que o lugar é um albergue para alcóolatras e ex-desabrigados, mas que admirem o ambiente. Para também darem aos moradores a sensação de que eles merecem todo o respeito e dignidade", conclui a artista.
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