terça-feira, 3 de março de 2009

COM O PÉ NO MUNDO - Havana/Veneza

Na contramão de artistas que se queixam de morar numa capital “provinciana” e afastada do eixo Rio-São Paulo, o alagoano Delson Uchôa enxerga essa condição como um aspecto positivo

por janaina Ávila da Gazeta de Alagoas

Em março de 2007, quando realizou a exposição Pintura Habitada, na Pinacoteca Universitária, em Maceió, o artista plástico alagoano Delson Uchôa celebrava a atualização pictórica que havia alcançado “morando” dentro da pintura. Hoje, mais do que nunca, Uchôa está embriagado do ofício de pintor. Além da realização do artista, parte dessa imersão absoluta tem dado bons frutos em relação à projeção de sua obra e, claro, à valorização no mercado. Agora, o alagoano dá um passo essencial a todo artista que alcança reconhecimento internacional: é um dos brasileiros selecionados para participar da 53ª Bienal de Veneza, que acontece em junho. Antes, a partir do dia 27 deste mês, quatro obras de Delson Uchôa serão vistas na 10ª Bienal de Havana, em Cuba, da qual participam 200 artistas de cerca de 40 países.
Gazeta – O fotógrafo paraense Luiz Braga, que também foi selecionado para a Bienal de Veneza, disse que é “off” por morar em Belém, mas que havia escolhido esse caminho. Essa é também sua opção?
Delson Uchôa – A princípio, meu retorno a Maceió foi decidido em função da melhoria da qualidade de vida que aqui eu poderia fornecer a meus filhos, mas logo em seguida percebi os lucros em reunir meu acervo em um só lugar. Perceber que já tinha um corpo, mudou minha orientação no sentido de que existo como obra e como tal devo ser pensado. Foi aí que comecei minha autofagia: tinha material suficiente para me alimentar de mim mesmo e, nessa direção, me afastei do grande risco de ser tragado pela torrente globalizada, troquei o bulevar pelas trilhas do meu nato, quero a universalização com meu sotaque. A partir desse momento, morar em Maceió já era estratégico. Entrei em clausura acompanhado da pintura e propus a convivência e conivência, e o criado não está além do testemunho desse embate. Ao barulho da asfixia da pintura no final do século, da pergunta que não se fazia calar: como continuar pintando? Onde está a pintura contemporânea? Respondi pintando.

EM VENEZA, O VALOR À PINTURA
Há dois eventos de arte que são referência no mundo: a Bienal de Veneza, na Itália, e a Documenta de Kassel, na Alemanha. Os outros, por mais importantes que sejam dentro de seus contextos locais, não se comparam às duas mostras europeias. Curadores, galerias, críticos e artistas se voltam para o que acontece lá e são esses acontecimentos que “pautam” o rumo dos fatos que se sucedem: visibilidade do artista, valorização da obra e, é claro, a crítica, cuja atuação influi sobre tudo.
Este ano, quando a Bienal de Veneza chega a 53ª edição, seu prestígio continua imbatível. Com o título Fazer Mundos, propõe-se a destacar o processo de produção de uma obra de arte (ao invés da obra já concluída) e a promover o intercâmbio de informações entre artistas de diferentes trajetórias.

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