por Fabio Cypriano da Folha de S.Paulo
Depois da polêmica Bienal do Vazio, no ano passado, que deixou um andar do pavilhão no Ibirapuera sem produções artísticas, a controvérsia do mundo das artes plásticas nacionais deste ano promete ser o 31º Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), previsto para ser aberto no dia 10 de outubro.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, 43, a mostra bienal não terá artistas brasileiros, ao contrário do que indica seu título, mas estrangeiros que estabeleçam algum diálogo com a cultura local ou estejam vinculados a um tipo de produção que ele considere brasileira.
"Minha primeira ideia foi organizar um panorama de arte latino-americana, que acabou amadurecendo nessa ideia de arte brasileira feita por estrangeiros. Esse projeto também reflete minha percepção de que a programação das instituições na cidade é majoritariamente com brasileiros", disse Pedrosa à Folha, na sede do MAM.
Criado em 1969 e transformado em evento bienal em 1995, o Panorama visava até então apresentar uma leitura da produção brasileira contemporânea, tendo sido organizado por curadores como Ivo Mesquita, em 1995, ou o cubano Gerardo Mosquera, em 2003, que agregou três estrangeiros à mostra, entre 19 artistas.
A proposta de não incluir artistas brasileiros significaria que a produção nacional anda fraca? "Estou flexibilizando uma noção ossificada de 'arte brasileira', questionando-a. O 'brasileiro' nesse contexto deixa de ser nacionalista. Parece-me pertinente, pois o Brasil e a arte brasileira sempre foram muito abertos", diz Pedrosa.
Residências
Outra inovação será a realização de residências artísticas para estrangeiros, como ocorreu na 27ª Bienal de SP (2006), na qual Pedrosa foi cocurador.
Assim como daquela vez, a Faap irá acolher os artistas em um edifício na praça Patriarca. Esse tipo de procedimento, contudo, teve início antes na carreira do curador: "O projeto de residências é algo que primeiro desenvolvi com a Luisa Lambri, uma italiana que fez fotografias de arquitetura brasileira, em 2003. É um bom exemplo de 'arte brasileira', nesse sentido ampliado".
Pedrosa pretende selecionar cerca de 30 nomes para a mostra: "Meu objetivo é buscar artistas que estabeleçam uma relação mais profunda com a cultura brasileira, como o Superflex [da Dinamarca], que trabalhou com o guaraná Power, ou a [francesa] Dominique Gonzalez-Foerster, que já trabalhou com muitas referências nossas e vive no Rio".
Cerca de metade da seleção, ainda segundo Pedrosa, deve participar do programa com a Faap: "Nas residências, vamos convidar de dez a 15 artistas que potencialmente possam desenvolver uma relação com o país, não apenas para realizar uma obra para o Panorama mas para algo muito além disso. Trata-se assim de reunir artistas estrangeiros que já produzam 'arte brasileira' e oferecer possibilidades para que outros também o façam".
Mais que polêmica, a proposta de Pedrosa é ambiciosa: é possível definir como brasileiro um trabalho de arte contemporânea, independentemente de quem o realize? Essa foi, afinal, uma das questões fundamentais dos modernistas brasileiros, que nunca conseguiram chegar a uma conclusão.
Bienal em NY
Com caráter similar ao do Panorama, apesar de criada em 1932, a Bienal do Whitney --museu sediado em Nova York e dedicado à produção norte-americana-- há oito anos flexibilizou a restrição para que apenas artistas nascidos nos EUA fizessem parte da mostra.
Há dez anos, na revista "Poliéster", Pedrosa criticou a Bienal do Whitney por sua condição restritiva. Já na última edição, em 2008, por exemplo, participaram o suíço Olaf Breuning, o venezuelano Javier Téllez e o israelense Omer Fast, ainda que os primeiros dois vivam nos EUA.
Em edições anteriores, fizeram parte os brasileiros Vik Muniz e Karim Aïnouz.
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