por Fábio Cypriano da Folha de S.Paulo
Mesmo sendo eleito nesta quinta, o empresário Heitor Martins só deve tomar posse após um período de transição de no máximo dois meses, para a captação de R$ 1,8 milhão, de acordo com a carta enviada ontem, pelo candidato, aos conselheiros da Fundação Bienal. A eleição do presidente depende da aprovação do conselho, que se reúne a portas fechadas e define as regras da votação, por exemplo, se será por unanimidade ou maioria simples. Não há quórum mínimo.
"Vamos trabalhar já, mas fazer uma transição que não seja uma ruptura", disse Martins à Folha, cercado de obras de artistas contemporâneos como Lygia Clark, Tunga e Jac Leirner, além de modernos como Volpi e Pancetti, todos de sua coleção. Entre as propostas do candidato, aliás, está reforçar a presença da arte brasileira na Bienal. Leia a seguir.
Folha - O que levou o sr. a ser candidato a presidência da Bienal?
Heitor Martins - Foi uma combinação de fatores. Tenho uma grande afinidade com o tema, desde criança me entusiasmei com artes plásticas. Quando universitário, tive um pôster da mostra "Tradição e Ruptura" [realizada na Bienal, em 1984] no quarto. Eu visitava as bienais, depois passei a colecionar e, quando morei na Argentina, fiz um curso livre na Faculdade de Belas Artes. Poucas instituições culturais no Brasil têm 60 anos, como a Bienal, e a sua importância, na divulgação da arte, é evidente, comparável somente ao MoMA [Nova York], à Bienal de Veneza, à Documenta de Kassel, ao Centro Pompidou [Paris]. Contribuir com uma entidade que tem essa história é um chamado ao qual não se pode recusar.
Folha - Quem o convidou para ser candidato?
Martins - Foi o Jorge Wilhem, que conheci por conta da Fundação Nemirovsky, com a qual eu contribuí. Ele me indicou há uns três meses, mas, quando surgiu a candidatura do Andrea Matarazzo [secretário da Coordenação de Subprefeituras de São Paulo], eu achei que ele tinha condições. Com a desistência dele, fui procurado também pelo Julio Landmann [conselheiro da Bienal] e aceitei.
Folha - E o sr. procurou se inteirar da situação financeira da Bienal?
Martins - A questão da situação da Bienal ganhou dimensão exagerada. Objetivamente ela é simples. O déficit da Bienal passada se transformou num endividamento de R$ 4 milhões, que não é um valor tão absurdo. A questão para mim foi entender isso e montar uma boa equipe que possa superar esse problema e colocar a Bienal nos trilhos novamente.
Folha - É isso que o sr. faz em sua empresa de consultoria?
Martins - Trabalho numa empresa de consultoria estratégica, que tem como clientes empresas que querem crescer. Para mim, a questão na Bienal é isso, não olhar para o passado, mas acertar os recursos para ela voltar a florescer. Posso dizer que 80% do tempo que já gastamos é em pensar como levar a Bienal para frente, qual equipe, como organizar, que tipo de aspiração.
Folha - O sr. leu o relatório do Ivo Mesquita para pensar sua proposta?
Martins - Sim. O que temos tido como questão central é a ideia de "refazer" e, é claro, isso só pode ser em cima das bienais anteriores. Nos últimos anos se abriu um debate sobre o papel das bienais e como elas devem ser geridas, mas a segunda questão deve estar baseada na primeira. Vamos repensar a Bienal, na gestão, nos recursos, na relação com o governo, a sociedade. Nossa gestão é dar continuidade ao debate. A última Bienal, no entanto, teve um debate mais intelectual, e o que queremos é que esse debate seja plástico. Também queremos que a arte brasileira tenha uma presença ainda maior, e que se pense na produção internacional tendo a produção nacional como referência.
Folha - Mas isso não é um debate para o curador?
Martins - Sim. E como nossa agenda está apertada, já que não queremos prorrogar a Bienal para 2011, mas mantê-la em 2010 -afinal, esse é o objetivo da instituição e, se ela não o cumpre, perde o sentido-, nós vamos indicar uma equipe de curadores logo. Mas não queremos curadores que já trabalharam na Bienal de São Paulo, queremos um novo olhar.
Folha - E quanto à Bienal de Veneza, a Bienal de São Paulo deve continuar indicando os representantes do pavilhão brasileiro?
Martins - Creio que sim. Nossa diretoria gostaria de manter essa tradição e, por isso, estamos integrando essa representação em nosso projeto. Já que queremos abordar a arte brasileira como referência no contexto internacional, Veneza é um ponto estratégico, e gostaríamos que os curadores que organizarem São Paulo indicassem a representação de Veneza já na própria proposta.
Folha - Qual será seu maior desafio, na sua opinião?
Martins - Temos três objetivos: resolver a situação financeira, viabilizar a 29ª Bienal em 2010 e preparar as bases para um projeto continuado. A Bienal tem um efeito fênix, a cada novo presidente ela morre e tem que recomeçar. Queremos uma fórmula de estabilidade, fortalecendo o modelo de gestão, que precisa quer uma relação estreita com a sociedade. Vamos trazer uma agenda positiva, e creio que, com isso, os recursos virão, mas é preciso entusiasmar a sociedade.
Mesmo sendo eleito nesta quinta, o empresário Heitor Martins só deve tomar posse após um período de transição de no máximo dois meses, para a captação de R$ 1,8 milhão, de acordo com a carta enviada ontem, pelo candidato, aos conselheiros da Fundação Bienal. A eleição do presidente depende da aprovação do conselho, que se reúne a portas fechadas e define as regras da votação, por exemplo, se será por unanimidade ou maioria simples. Não há quórum mínimo.
"Vamos trabalhar já, mas fazer uma transição que não seja uma ruptura", disse Martins à Folha, cercado de obras de artistas contemporâneos como Lygia Clark, Tunga e Jac Leirner, além de modernos como Volpi e Pancetti, todos de sua coleção. Entre as propostas do candidato, aliás, está reforçar a presença da arte brasileira na Bienal. Leia a seguir.
Folha - O que levou o sr. a ser candidato a presidência da Bienal?
Heitor Martins - Foi uma combinação de fatores. Tenho uma grande afinidade com o tema, desde criança me entusiasmei com artes plásticas. Quando universitário, tive um pôster da mostra "Tradição e Ruptura" [realizada na Bienal, em 1984] no quarto. Eu visitava as bienais, depois passei a colecionar e, quando morei na Argentina, fiz um curso livre na Faculdade de Belas Artes. Poucas instituições culturais no Brasil têm 60 anos, como a Bienal, e a sua importância, na divulgação da arte, é evidente, comparável somente ao MoMA [Nova York], à Bienal de Veneza, à Documenta de Kassel, ao Centro Pompidou [Paris]. Contribuir com uma entidade que tem essa história é um chamado ao qual não se pode recusar.
Folha - Quem o convidou para ser candidato?
Martins - Foi o Jorge Wilhem, que conheci por conta da Fundação Nemirovsky, com a qual eu contribuí. Ele me indicou há uns três meses, mas, quando surgiu a candidatura do Andrea Matarazzo [secretário da Coordenação de Subprefeituras de São Paulo], eu achei que ele tinha condições. Com a desistência dele, fui procurado também pelo Julio Landmann [conselheiro da Bienal] e aceitei.
Folha - E o sr. procurou se inteirar da situação financeira da Bienal?
Martins - A questão da situação da Bienal ganhou dimensão exagerada. Objetivamente ela é simples. O déficit da Bienal passada se transformou num endividamento de R$ 4 milhões, que não é um valor tão absurdo. A questão para mim foi entender isso e montar uma boa equipe que possa superar esse problema e colocar a Bienal nos trilhos novamente.
Folha - É isso que o sr. faz em sua empresa de consultoria?
Martins - Trabalho numa empresa de consultoria estratégica, que tem como clientes empresas que querem crescer. Para mim, a questão na Bienal é isso, não olhar para o passado, mas acertar os recursos para ela voltar a florescer. Posso dizer que 80% do tempo que já gastamos é em pensar como levar a Bienal para frente, qual equipe, como organizar, que tipo de aspiração.
Folha - O sr. leu o relatório do Ivo Mesquita para pensar sua proposta?
Martins - Sim. O que temos tido como questão central é a ideia de "refazer" e, é claro, isso só pode ser em cima das bienais anteriores. Nos últimos anos se abriu um debate sobre o papel das bienais e como elas devem ser geridas, mas a segunda questão deve estar baseada na primeira. Vamos repensar a Bienal, na gestão, nos recursos, na relação com o governo, a sociedade. Nossa gestão é dar continuidade ao debate. A última Bienal, no entanto, teve um debate mais intelectual, e o que queremos é que esse debate seja plástico. Também queremos que a arte brasileira tenha uma presença ainda maior, e que se pense na produção internacional tendo a produção nacional como referência.
Folha - Mas isso não é um debate para o curador?
Martins - Sim. E como nossa agenda está apertada, já que não queremos prorrogar a Bienal para 2011, mas mantê-la em 2010 -afinal, esse é o objetivo da instituição e, se ela não o cumpre, perde o sentido-, nós vamos indicar uma equipe de curadores logo. Mas não queremos curadores que já trabalharam na Bienal de São Paulo, queremos um novo olhar.
Folha - E quanto à Bienal de Veneza, a Bienal de São Paulo deve continuar indicando os representantes do pavilhão brasileiro?
Martins - Creio que sim. Nossa diretoria gostaria de manter essa tradição e, por isso, estamos integrando essa representação em nosso projeto. Já que queremos abordar a arte brasileira como referência no contexto internacional, Veneza é um ponto estratégico, e gostaríamos que os curadores que organizarem São Paulo indicassem a representação de Veneza já na própria proposta.
Folha - Qual será seu maior desafio, na sua opinião?
Martins - Temos três objetivos: resolver a situação financeira, viabilizar a 29ª Bienal em 2010 e preparar as bases para um projeto continuado. A Bienal tem um efeito fênix, a cada novo presidente ela morre e tem que recomeçar. Queremos uma fórmula de estabilidade, fortalecendo o modelo de gestão, que precisa quer uma relação estreita com a sociedade. Vamos trazer uma agenda positiva, e creio que, com isso, os recursos virão, mas é preciso entusiasmar a sociedade.
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