Em Paraisópolis, o grupo foi apedrejado por vigilantes do local e parado por ato contrário a projeto de reurbanização
Estrangeiros se assustam, mas acertam para amanhã reunião com a prefeitura e com os moradores para o esclarecimento do projeto
Vinícius Q. Galvão da Folha de S. Paulo
Com uma câmera na mão, o diretor da Bienal de Arquitetura de Roterdã (Holanda), George Brugmans, não tinha ideia na cabeça do que esperava por ele e pelo grupo de curadores na visita à favela de Paraisópolis, cujo projeto de reurbanização será exibido na mostra.
Numa incursão pelos becos de terra batida e esgoto a céu aberto, homens que faziam vigília nas lajes atiraram pedras, gritaram para que os estrangeiros saíssem dali e disseram que eles não podiam tirar foto. A favela, na divisa das zonas sul e oeste, já foi alvo de ações da polícia em razão do tráfico.
O grupo foi retirado às pressas por assessores da prefeitura, que falavam nervosos ao celular e pediam a presença da polícia, que não apareceu.
"Não importa. Trabalho com revolucionários na Venezuela que puxam a pistola. Já sequestraram um colega de trabalho", disse o arquiteto americano Alfredo Brillembourg, do laboratório de favelas da Universidade Columbia (Nova York).
Ladeira de barro acima, onde o comboio que levava os estrangeiros estava parado, um grupo de cerca de 50 moradores vestidos de preto fechou a saída dos carros. Eles protestavam contra o projeto de reurbanização levado pelos curadores para a bienal na Holanda -a proposta já removeu mil famílias para a construção de um CEU, de uma Fatec e de 1.900 apartamentos.
Dos 60 mil moradores de Paraisópolis, uns 12% serão removidos de onde estão, diz a prefeitura. Eles recebem ajuda de custo de R$ 300 para aluguel durante a construção dos novos prédios onde irão viver.
Os estrangeiros ficaram assustados com o bloqueio. Sem falar português, o americano Brillembourg disse que desceria para conversar com os manifestantes, mas foi impedido por colegas. "Não tem de ter medo, são gente como nós, estão querendo proteger a comunidade", dizia na van.
Àquela altura, os moradores pareciam ser mais e estar mais nervosos. Brillembourg insistiu, abriu a porta -a descontento dos outros- e desceu.
Em espanhol, disse: "Estamos entre amigos. Essa favela é maravilhosa, já vim várias vezes. Em Caracas é pior".
Os moradores puxavam o coro: "Queremos moradia!". "O que você faz aqui é uma lavagem psicológica, vá falar com a prefeitura", disse o subcurador Rainer Hehl a uma das líderes.
Alguns moradores se queixam de que, onde havia barracos, a prefeitura plantou grama. Outros dizem que os alojamentos não têm segurança -uma mulher morreu num incêndio, que a prefeitura diz ter sido iniciado pela própria vítima.
No final, uma reunião ficou acertada para amanhã com o grupo estrangeiro e a prefeitura para esclarecimentos do projeto. Algum tempo depois, ainda nos becos de Paraisópolis, Brugmans, o diretor da bienal, já tranquilo, tomava uma cerveja com os colegas e dizia: "Não entendi nada daquilo".
Estrangeiros se assustam, mas acertam para amanhã reunião com a prefeitura e com os moradores para o esclarecimento do projeto
Vinícius Q. Galvão da Folha de S. Paulo
Com uma câmera na mão, o diretor da Bienal de Arquitetura de Roterdã (Holanda), George Brugmans, não tinha ideia na cabeça do que esperava por ele e pelo grupo de curadores na visita à favela de Paraisópolis, cujo projeto de reurbanização será exibido na mostra.
Numa incursão pelos becos de terra batida e esgoto a céu aberto, homens que faziam vigília nas lajes atiraram pedras, gritaram para que os estrangeiros saíssem dali e disseram que eles não podiam tirar foto. A favela, na divisa das zonas sul e oeste, já foi alvo de ações da polícia em razão do tráfico.
O grupo foi retirado às pressas por assessores da prefeitura, que falavam nervosos ao celular e pediam a presença da polícia, que não apareceu.
"Não importa. Trabalho com revolucionários na Venezuela que puxam a pistola. Já sequestraram um colega de trabalho", disse o arquiteto americano Alfredo Brillembourg, do laboratório de favelas da Universidade Columbia (Nova York).
Ladeira de barro acima, onde o comboio que levava os estrangeiros estava parado, um grupo de cerca de 50 moradores vestidos de preto fechou a saída dos carros. Eles protestavam contra o projeto de reurbanização levado pelos curadores para a bienal na Holanda -a proposta já removeu mil famílias para a construção de um CEU, de uma Fatec e de 1.900 apartamentos.
Dos 60 mil moradores de Paraisópolis, uns 12% serão removidos de onde estão, diz a prefeitura. Eles recebem ajuda de custo de R$ 300 para aluguel durante a construção dos novos prédios onde irão viver.
Os estrangeiros ficaram assustados com o bloqueio. Sem falar português, o americano Brillembourg disse que desceria para conversar com os manifestantes, mas foi impedido por colegas. "Não tem de ter medo, são gente como nós, estão querendo proteger a comunidade", dizia na van.
Àquela altura, os moradores pareciam ser mais e estar mais nervosos. Brillembourg insistiu, abriu a porta -a descontento dos outros- e desceu.
Em espanhol, disse: "Estamos entre amigos. Essa favela é maravilhosa, já vim várias vezes. Em Caracas é pior".
Os moradores puxavam o coro: "Queremos moradia!". "O que você faz aqui é uma lavagem psicológica, vá falar com a prefeitura", disse o subcurador Rainer Hehl a uma das líderes.
Alguns moradores se queixam de que, onde havia barracos, a prefeitura plantou grama. Outros dizem que os alojamentos não têm segurança -uma mulher morreu num incêndio, que a prefeitura diz ter sido iniciado pela própria vítima.
No final, uma reunião ficou acertada para amanhã com o grupo estrangeiro e a prefeitura para esclarecimentos do projeto. Algum tempo depois, ainda nos becos de Paraisópolis, Brugmans, o diretor da bienal, já tranquilo, tomava uma cerveja com os colegas e dizia: "Não entendi nada daquilo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário