segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vencedor do Pritzker, Paulo Mendes da Rocha constrói em Vitória


Silas Martí da Folha de S.Paulo


Não têm hora os trabalhos do mar. Paulo Mendes da Rocha sabe disso e quer o contraste entre o "desfile monumental" de navios e sua construção no cais do porto de Vitória.

Perspectiva de museu de arte moderna que será construído no cais do porto de Vitória

Numa espécie de moldura concreta da paisagem marítima, o vencedor do Pritzker projeta o que será o museu de arte moderna da capital capixaba e um teatro operístico, complexo batizado de Cais das Artes pelo governo do Espírito Santo.

Orçado em R$ 120 milhões, bancados pelo Estado, começa a sair do papel em novembro deste ano e deve ser concluído em meados de 2011, com a promessa de inserir Vitória no circuito nacional das grandes exposições e espetáculos.

Em escala menor, também tem certo valor afetivo para Mendes da Rocha, que nasceu em Vitória, mas nunca projetou na cidade. Seu avô trabalhou na construção do aterro onde hoje fica o parque Moscoso.

É o que ele chama de "inexorável confronto entre as terras e o mar" das cidades costeiras. Da mesma forma que o aterro que seu avô ajudou a construir, Mendes da Rocha faz um projeto ambicioso numa zona de "territórios ganhados do mar".

"É uma esplanada em frente ao mar, no canal de entrada do porto de Vitória", descreve. "A cidade fica espetacular nesse ponto, um confronto entre os navios belíssimos, iluminados, moventes e as construções."

Mendes da Rocha tenta manter a transparência da paisagem erguendo o pavilhão sobre pilares, num projeto que lembra o Museu de Arte Moderna do Rio, construído no aterro do Flamengo por Afonso Reidy nos anos 50. "É uma sucessão de espaços nesse engenho horizontal, suspenso do chão."

Brutalismo à beira-mar

Lá dentro, são cinco salões de exposição articulados entre rampas transparentes, com vista para a esplanada lá fora. Dessa forma, as áreas entre um espaço expositivo e outro devem ganhar uma iluminação natural vinda de baixo para cima, uma grande caixa vazada, que se mistura à praça exterior.

Essa fusão de espaços internos e externos marca quase todos os projetos do arquiteto, de linhagem modernista. Lembra, nos traços ortogonais e também pelo esquema de andares intercalados, as construções de Vilanova Artigas, que desenhou o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

Numa transposição do estilo brutalista para a beira do Atlântico, Mendes da Rocha faz um teatro de 1.300 lugares debruçado sobre o mar. Colado ao chão, por causa do fosso da orquestra, é uma estrutura que começa na esplanada, mas tem dois de seus pilares de sustentação fincados direto na água.

"Não é extravagante fazer a fundação no mar", diz Mendes da Rocha, sobre um dos pontos mais impressionantes do projeto. Segundo o arquiteto, o lençol freático no terreno é tão alto que os pilares teriam de atingir a mesma profundidade tanto na esplanada quanto no mar.

Atrás da plateia, janelas dão vista para o outro lado do canal de Vitória, onde está a cidade de Vila Velha e o convento de Nossa Senhora da Penha, 300 metros sobre o nível da água -o lado de lá da moldura concreta de Mendes da Rocha.

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