quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Fotógrafa Loretta Lux conta como a pintura influencia seus retratos

Mario Gioia da Folha de S.Paulo

Uma romântica em tempos digitais. Assim pode ser definida a artista alemã Loretta Lux, um dos principais nomes da fotografia em âmbito mundial e que é a principal estrela do Paraty em Foco.

Autorretrato da alemã Loretta Lux; fotógrafa é um dos destaques do Paraty em Foco

Espécie de "Flip da fotografia", o evento começa no dia 23 e se baseia em palestras e workshops de nomes de destaque da área. Neste ano, além de Lux, podem ser destacadas a presença da argentina Alessandra Sanguinetti e de coletivos de vários países, como o paulistano Garapa (mais informações podem ser encontradas no site www.paratyemfoco.com).

Em entrevista à Folha, Lux se aproxima mais da pintura para explicar a sua obra, incensada no circuito de artes internacional --ela ganhou em 2005 o Infinity Award for Art, um dos prêmios mais importantes na área, e suas imagens estão em museus como o Guggenheim, em Nova York, e o Reina Sofía, em Madri.

"Vejo-me como pintora que usa a câmera como ferramenta. Penso como pintora quando estruturo minhas composições, organizando formas e cores ao encenar a fotografia e trabalhar na tela do computador", conta ela.

"Meu processo de trabalho é muito mais próximo da pintura do que da fotografia, já que é bastante demorado e eu às vezes produzo apenas de três a cinco imagens por ano."

Os retratos hiperrealistas de crianças, marca principal de seus trabalhos, se relacionam ao ideário romântico que Lux carrega desde a sua formação. "Defino-os como retratos imaginários, porque não são de fato sobre as crianças que fotografei. Para mim, uma obra de arte precisa transcender o seu tema. As crianças em minhas imagens servem como metáfora para a inocência e o paraíso perdido da infância", diz ela.

Mas anuncia uma mudança de foco. "Minha série sobre crianças acabou. Logo começarei a explorar outros temas."

Lux nasceu em Dresden, na antiga Alemanha Oriental, e se graduou em artes em Munique. Desde pequena, era fascinada pelos mestres da pintura.

"Meu avô costumava emoldurar reproduções de retratos históricos de crianças para me dar como presente de aniversário. Lembro de ter em meu quarto reproduções da "Infanta Maria" e do "Príncipe Baltasar", de Velázquez, bem como outras imagens de infantes por Bronzino, Reynold, Gainsbourough e Goya."

Quando estudava artes, foi decisivamente influenciada por pintores do romantismo alemão, como Caspar David Friedrich e Philipp Runge.

"Tenho grande interesse pelos românticos. Eles se sentiam desiludidos diante da sociedade materialista e do início da industrialização. Rejeitavam o iluminismo e em lugar dele enfatizavam a intuição e o sentimento, exaltando a natureza."

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