Fábio Cypriano da Folha de S.Paulo
No próximo dia 15, o circuito internacional do mundo das artes migra para Londres, onde ocorre a feira de arte Frieze, considerada uma das três mais importantes do planeta, junto com Art Basel, na Suíça, e Art Basel - Miami Beach, nos EUA.
Com 150 expositores, cinco deles brasileiros (Fortes Vilaça, Casa Triângulo, Gentil Carioca, Luisa Strina e Vermelho), o que se vê nelas, segundo a crítica americana Rosalind Krauss é, simplesmente, uma "fraude".
"Eu acredito que a arte promovida nas feiras de arte internacionais é fraudulenta", escreveu à Folha Krauss, que irá abrir, no próximo dia 25, o 3º Simpósio de Arte Contemporânea do Paço das Artes. Ela ministrará a palestra "Reconfigurações no Sistema da Arte Contemporânea". Ainda há vagas para o simpósio.
Há exatos 30 anos, Krauss, 67, publicava um dos mais célebres ensaios sobre arte contemporânea, "A Escultura no Campo Expandido", na revista "October", que ajudara a fundar, em 1976, após ter se firmado como crítica na "Artforum".
No texto, a autora apontava para uma nova forma de realização escultórica para além dos parâmetros modernistas, ruptura histórica que teria sido feita por artistas como Robert Morris, Robert Smithson, Richard Serra, Walter De Maria e Bruce Nauman, entre outros.
No Brasil, a autora, que é professora da Universidade Columbia, em Nova York, desde 1992, tem publicado os livros "O Fotográfico", "Caminhos da Escultura Moderna" e "Papéis de Picasso".
Sua produção mais recente, contudo, de 2004, a antologia "Art Since 1900" (arte desde 1900), realizada em conjunto com Hal Foster, Yve-Alain Bois e Benjamin Buchloh, ainda não foi traduzida. Ao rever a história da arte no século 20, o livro tem o feito inédito de acrescentar os brasileiros Hélio Oiticica e Lygia Clark como protagonistas da cena artística.
Curiosamente, no entanto, Krauss não considera familiar a produção nacional: "Estou ansiosa com minha visita como uma oportunidade em conhecê-la", relatou ela.
Na troca de e-mails com a reportagem, Krauss, que também atua como curadora, contou que a influência do mercado na produção contemporânea será o tema central de sua conferência. Condena as feiras, pois "são puro espetáculo, envolvendo o observador com uma atmosfera sedutora sem demandar atenção ou trabalho por parte do visitante para analisar a habilidade que um trabalho tem em criar significados".
As críticas da norte-americana não se restringem às feiras mas também às "instalações", como são chamadas obras imersivas, onde o público participa de forma coletiva, defendidas pela estética relacional, conceito criado pelo curador francês Nicolas Bourriaud.
"Ao se mover da experiência privada de um trabalho para uma coletiva, a estética relacional simplesmente segue a análise de Marshall MacLuhan em "A Galáxia de Gutenberg", que descreve a superação da privacidade na leitura de um livro pela atividade coletiva de se assistir televisão, o que nós podemos chamar de espetáculo."
A espetacularização da arte, torna-se assim um dos temas que Krauss irá abordar no simpósio. No entanto, a crítica parafraseia Catherine David, curadora da 10ª Documenta, em Kassel, na Alemanha, para afirmar ainda que não crê "na pureza ou na oposição ontológica entre arte e mídia".
"Catherine disse que busca organizar mostras como se fossem filmes, e que quem ainda acredita no "cubo branco" é ingênuo ou estúpido", destaca Krauss. O "cubo branco" é uma expressão desenvolvida pelo crítico Brian O'Dogherty para a galeria, comercial ou de um museu, representar a garantia da autonomia de uma obra de arte, ou seja, sua total separação do mundo fora dele.
Finalmente, como alternativas oferecidas pela arte no início do século 21, Krauss conta que irá abordar o trabalho de artistas como o alemão nascido na República Tcheca Harun Farocki, o norte-americano Christian Marclay e o sul-africano William Kentridge, todos eles vinculados de certa forma ao cinema, e a francesa Sophie Calle, que recentemente mostrou sua instalação "Cuide de Você" em São Paulo.
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