Fábio Cypriano da Folha de S. Paulo
Quando ainda se vive o choque pela perda de um dos mais importantes acervos de arte do país, com o incêndio das obras de Hélio Oiticica (1937 1940), no Rio de Janeiro, a capital gaúcha torna-se modelo mais evidente na preservação do patrimônio de um artista com a FIC (Fundação Iberê Camargo).
Inaugurada em maio do ano passado, a sede da instituição, um museu projetado pelo festejado arquiteto português Álvaro Siza, de frente para o rio Guaíba, em Porto Alegre, é um exemplo frente à tragédia ora em curso. Os oito mil metros quadrados da construção elegante em concreto branco custaram R$ 40 milhões, 40% pagos por patrocínio direto e 60% financiados pela Lei Rouanet.
Além de três andares com salas expositivas, o museu possui uma reserva técnica que consegue abrigar todo o acervo da FIC: 4.000 obras de Iberê Camargo (1914-1994), em condições de preservação internacionais. Durante a Bienal do Mercosul, estão em cartaz duas mostras na FIC: "Iberê Camargo, uma Experiência da Pintura" e "Dentro do Traço, Mesmo".
A primeira segue a tradição do local de sempre ter ao menos uma exposição com obras do acervo da instituição, respeitando-se, afinal, seu objetivo primeiro. Com curadoria de Virginia Alta, a exposição apresenta uma síntese da carreira de Camargo, desde suas primeiras influências até suas obras mais misteriosas, do fim de sua carreira.
Gravuras
Já "Dentro do Traço, Mesmo", organizada por Teixeira Coelho, curador do Museu de Arte de São Paulo, reúne obras de um trabalho exemplar da FIC, seu ateliê de gravura. Iberê Camargo trabalhou grande parte de sua vida com gravura e possuía um ateliê em sua casa que, desde sua morte, recebeu a visita de dezenas de artistas, o que acabou sendo estabelecido como um programa de residências, em 1999, com supervisão de Eduardo Haesbaert.
Com isso, a instituição acabou compondo uma coleção significativa de gravuras, não só com artistas que se destacam nesse suporte, como outros que pela primeira vez o experimentam.
Assim, a mostra em cartaz reúne nomes desde o próprio Álvaro Siza, que criou o edifício sede, para onde hoje foi deslocado o ateliê, como Amilcar de Castro, um mestre da gravura, ou ainda o fotógrafo Miguel Rio Branco e os consagrados artistas argentinos Leon Ferrari e Jorge Macchi.
SERVIÇO
IBERÊ CAMARGO, UMA EXPERIÊNCIA DA PINTURA
Na Fundação Iberê Camargo (av. Padre Cacique, 2.000, Porto Alegre, tel. 0/xx/ 51/3247-8000); de ter. a sex., das 10h às 19h, sáb. e dom., das 11h às 19h; até 31/8; entrada franca
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