Fotografia de Nan Goldin - Trabalho da norte-americana enfoca amizades, amores, solidão e fragilidade
A natureza política da arte volta ao centro do debate na 29ª Bienal de São Paulo, em setembro. Não aquela arte panfletária, dos significados unidimensionais, mas uma arte capaz de mudar o jeito como vemos e refletimos sobre a sociedade - sendo irrelevante, portanto, se ela trata de conflitos ou não e a forma como articula seu discurso.
Nisso, a nova mostra, renascida após a crise da Bienal do Vazio, é de certa forma uma antítese à exposição de 2006, cujo tema era Como Viver Junto. Aquela bienal buscou juntar ideias e procedimentos conectados de alguma forma com a arte produzida no mundo nos anos 70 - como a performance, o discurso ativista e o debate de temas "urgentes", como meio ambiente e neocolonialismo.
O Estado teve acesso com exclusividade a uma lista dos artistas mais importantes já definidos para a jornada (a lista completa só deve ser anunciada oficialmente em fevereiro). O choque de significado da exposição do curador-chefe Moacir dos Anjos é um leque amplo. Começa com a arte ativista do chinês Ai Weiwei, de 53 anos, nascido num campo de trabalhos forçados por ser filho de um "inimigo" da revolução cultural (o poeta Ai Qing). Espraia-se pelas jornadas fotográficas nos seios das comunidades gays e transexuais, filtradas pelo olhar da americana Nan Goldin, de 57 anos.
Outros nomes: a palestina Emily Jacir, de 40 anos, nascida em Bagdá, que junta fotografia, vídeo e performance; o britânico Jeremy Deller, ganhador de um prêmio Turner; a alemã Isa Genzken, que também trabalha com diversos suportes; o belga Francis Alys, que vai do texto à animação; o português Artur Barrio; e o paraibano Antonio Dias e a carioca Alice Miceli.
Uma estrela confirmada é o inglês Steve McQueen, de 41 anos (que representou a Inglaterra na Bienal de Veneza do ano passado), que vem com seus filmes em preto e branco influenciados pela nouvelle vague e por Andy Warhol, e nos quais ele é geralmente um protagonista.
Cildo Meireles, nome fundamental da arte contemporânea, volta à mostra. Em 2006, o artista plástico Cildo Meireles tinha ameaçado deixar a Bienal de São Paulo caso o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira continuasse no conselho da fundação Bienal. Ferreira foi afastado, mas já não havia tempo para Meireles enviar uma obra. Na época, ele estava com o plano de fazer a instalação Homeless Home (já montada na Bienal da Turquia, em 2003, e cuja origem era um desenho de 1968).
Homeless Home, prevista para ser montada no centro das cidades, volta a ser o foco em São Paulo. Recentemente, Cildo, comparando seu desenho de décadas atrás aos de hoje, observou que o que antes era "sofrimento, crônica social, política e catarse" cedeu lugar à "poesia", mas ressalta que muitas das preocupações que aborda nos "não-desenhos" já apareciam nos desenhos.
Outro nome essencial das grandes exposições nacionais é Nuno Ramos, que volta às mostras de arte após ganhar o Prêmio Portugal Telecom de Literatura com a obra Ó. Ramos tenciona mostrar, no vão central do prédio da Bienal, uma versão expandida de um trabalho com urubus que apresentou no Centro Cultural Banco do Brasil do Distrito Federal. Aquele trabalho do CCBB era intitulado Bandeira Branca, e consistia em uma instalação com três urubus entre caixas acústicas de vidro e três túmulos de areia socada cobertos com pedras negras (homenagem a Goeldi).
A 29ª Bienal está marcada para ocorrer entre 21 de setembro e 12 de dezembro. Além de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, curadores-chefes, haverá curadores convidados. Eles são a espanhola Rina Carvajal, do Miami Art Museum; o sul-africano Sarat Maharaj, que vive em Londres, onde é professor na Universidade Goldsmiths, e também nas universidade de Lund e Malmo, na Suécia; como assistentes, o angolano Fernando Alvim, que dirige A Trienal de Arte de Luanda; a japonesa Yuko Hasegawa, do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio; e a espanhola Chus Martinez, curadora-chefe do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. O presidente da instituição, Heitor Martins, estimou o custo da mostra em cerca de R$ 30 milhões.
Confirmados
Ai Weiwei, artista chinês
Alice Miceli, artista carioca
Antonio Dias, artista paraibano
Artur Barrio, artista português
Cildo Meireles, artista carioca
Emily Jacir, artista iraquiana
Flavio de Carvalho, artista carioca da geração modernista
Francis Alys, artista belga
Isa Genzken, artista alemã
Jeremy Deller, artista britânico
Livio Tragtenberg, compositor e músico paulistano
Nan Goldin, artista norte-americana
Nuno Ramos, artista paulistano
Steve McQueen, artista britânico
por Jotabê Medeiros do Estadão
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