15/12/2008
SILAS MARTÍ
da Folha de S.Paulo
Os artistas Cildo Meireles, Renata Lucas e Sara Ramo serão os principais nomes brasileiros na mostra internacional da próxima Bienal de Veneza, que começa em junho do ano que vem. Escolhidos pelo co-curador da mostra, Jochen Volz, alemão radicado em Belo Horizonte, são três dos artistas mais respeitados da arte contemporânea no país.
"A trajetória deles têm a ver com um questionamento que nos interessa para a exposição", disse Volz, que divide com o sueco Daniel Birnbaum a curadoria da Bienal de Veneza. A próxima edição da mostra italiana, "Fazer Mundos", tem como idéia central destacar o processo de produção de uma obra de arte, no lugar do trabalho concluído, e o diálogo entre artistas jovens e experientes.
Cildo, 59, que já participou de duas edições da Bienal de São Paulo e da Documenta de Kassel, além da Bienal de Veneza de 2003, representa a geração de nomes consagrados da arte brasileira, enquanto Renata, 37, e Sara, 33, espanhola radicada na capital mineira, são jovens elogiadas pela crítica e valorizadas pelo mercado.
Depois de se retirar da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, como protesto à reeleição de Edemar Cid Ferreira para conselho da Fundação Bienal, Cildo abriu em outubro deste ano uma aguardada exposição individual na Tate, em Londres. Artista que despontou nos anos 70, considerado por Volz "um dos nomes mais importantes no cenário mundial hoje", é conhecido por questionar o valor simbólico da arte, além de seu papel como mercadoria.
São dele a série "Inserções em Circuitos Ideológicos", em que fez circular garrafas de Coca-Cola e cédulas de dinheiro com inscrições de protesto contra o regime militar, e a escultura "Babel", em que empilhou rádios numa estrutura em forma de torre, num grande coro de freqüências dissonantes.
Embora acredite que o modelo das grandes mostras "não dá mais conta do recado", Cildo está disposto a encarar mais uma Bienal de Veneza.
"De todas as bienais, acho que Veneza é a que menos teria condições de mudar, porque foi a primeira delas", disse Cildo à Folha. "Em última análise, são os artistas e seus trabalhos que definem uma exposição mais do que o peso institucional do lugar onde é feita."
"Não gosto de Veneza"
Mas, se Cildo não depende do lugar para criar suas instalações e performances, Veneza preocupa Renata Lucas. Conhecida pela destruição e construção de espaços arquitetônicos, intervenções que dão novas funções a lugares já habitados, ela derrubou paredes de galerias, cobriu fachadas com tijolos, duplicou calçadas e postes e revestiu com chapas de compensado grandes cruzamentos de cidades como o Rio.
"Tudo em Veneza é tombado, há mil restrições, e eu vou ter de trabalhar com elas", adianta ela à Folha. "É uma cidade estranha, parece que tudo está de costas para você, as fachadas das casas são voltadas para os canais, que são, na verdade, as ruas. Não gosto de Veneza."
Renata, aliás, diminui até a fama da mostra. "Eu não sei por que tem tanto glamour em torno de Veneza, já que na verdade eles não proporcionam basicamente nada para uma artista além de publicidade."
É a mesma artista que plantou árvores e plantas tropicais nos jardins de paisagismo simétrico da Tate Modern, em Londres, no ano passado, numa mostra que consolidou o braço internacional de sua carreira. No Brasil, Renata participou em 2006 da 27ª Bienal de SP, a exposição que Cildo Meireles se recusou a integrar.
Pequenos mundos
Em contraponto ao aspecto monumental das intervenções de Lucas, Sara Ramo entra na mostra com uma visão mais poética de um mundo particular. Suas obras em vídeo e fotografia põem em xeque a realidade com um lirismo às avessas, cheio de melancolia.
"Ela desenvolve pequenos mundos imaginários com uma linguagem muito mais pessoal, um sentido poético", diz Volz.
Vencedora da bolsa Pampulha e depois do prêmio Marcantonio Vilaça, Sara também esteve na Bienal do Mercosul de 2007 e foi um dos nomes mais fortes da última Paralela, encerrada neste mês em SP.
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