segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Rirkrit Tiravanija - Demonstration Drawings

THE DRAWING CENTER
35 Wooster Street New York,
NY 10013

12 SET - 06 NOV 2008


fonte: artnet.net

O “grito” do mundo
Contrariamente às instalações que o trouxeram à luz do mundo da arte, e que o consagraram em 2004 com o Prémio Hugo Boss, envolvendo “happenings” sociais - onde normalmente aplicou os seus dotes culinários, Rikrit Tiravanija apresenta no Drawing Center, em Nova Iorque, um trabalho diferente.
O artista torna-se comissário (ou manter-se-à artista?) juntando cerca de 200 trabalhos em desenho.
Estes desenhos, semelhantes a muitas imagens que podemos encontrar a ilustrar a imprensa diária ou do mesmo tipo que vamos vendo nos serviços informativos televisivos, foram capturados em papel e desenhados a lápis por tailandeses anónimos - a quem Tiravanija pediu para fazerem parte do seu projecto.
“Demonstration Drawings” apresenta-se assim dispersa pelas paredes da galeria principal do Drawing Center, ainda que de uma forma agregada – tal como as cenas, das quais se apropriou. São imagens de pequena dimensão, que se encontram dispostas sem nenhum foco em particular. O que as une é sim o facto de se tratarem de imagens de manifestações: uma das faces mediáticas das consequências da globalização – sinal dos conflitos, carregando uma visão/consciencialização colectiva sobre o mundo actual.
São as vozes que protestam, que discordam ou alertam para as políticas do mundo supostamente democráticas e que deveriam respeitar o desejo de uma maioria. A reflexão que resulta destes desenhos põe em causa a própria noção de democracia, e que se manifesta por esta agregação do crescendo de vozes que protestam: como se as vozes discordantes do mundo, que são constantemente “recicladas” nos média (recorrendo aos bancos de imagem ou de vídeo – como num acto de apropriação), estivessem todas contidas no espaço da galeria.
Entre os vários desenhos destacam-se as manifestações que se deram recentemente na Tailândia e em Burma (actualmente União de Myanmar) e que relembram episódios dramáticos, tais como a morte em directo de um fotojornalista japonês – amplamente divulgada pelas cadeias televisivas ou cenas onde forças policiais ou militares descarregam granadas de gás lacrimogéneo, água em alta pressão, ou mesmo bastonadas e detenções.
O trabalho é assim bastante político pela forma como foram escolhidas as imagens. Retratando acontecimentos da actualidade recente, podem considerar-se ainda bastante actuais, pois a sua fresca memória, que é constantemente reciclada pelos média, não os coloca num plano que se possam considerar históricos.
Para além do mencionado acontecimento, os desenhadores comissionados por Tiravanija retratam também as manifestações que ocorreram um pouco pelo mundo inteiro, contra a guerra no Iraque desencadeada pelos EUA, como forma de manutenção da paz mundial – relembrando as alterações sofridas pelo mundo após 11 de Setembro de 2001. Ao mesmo tempo, são mostrados desenhos do “outro lado”: homens armados, claramente muçulmanos, manifestam-se contra os EUA – alguns segurando cartazes de apoio ao presidente Ahmadinejad, denunciando as novas tensões geopolíticas.
Vêem-se tambem desenhos de manifestantes israelitas que se revoltam contra a sua retirada dos colonatos onde habitavam, ainda dentro de um registo próximo do anteriormente referido.E existem também os “clássicos” desenhos das manifestações sindicais – que reanimam a memória em volta das supostas extintas lutas de classes.
Ainda que não propositadamente, e apesar da familiaridade das imagens retratadas, a crise económica que recentemente tanto tem levantado preocupações volta encontrar significado nestas vozes discordantes. Os desenhos não estão assim tão longe da realidade actual, não sendo contudo na maioria dos casos completamente hiper-realistas.
Tiravanija volta assim a aplicar a sua “arte social”. Nesta ocasião, dando voz a anónimos que por sua vez usam a sua oportunidade para dar voz aos “gritos” do mundo.


Pedro dos Reis



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