Quem é quem na Arte
Livro do crítico carioca Paulo Sérgio Duarte traz lista de 77 artistas que conquistaram o Brasil e o mundo com seu trabalho
por Antonio Gonçalves Filho do Estadão em 18/02/09
por Antonio Gonçalves Filho do Estadão em 18/02/09
Uma das inúmeras qualidades do crítico carioca Paulo Sérgio Duarte é sua franqueza. Quando alguém lhe faz uma pergunta à queima-roupa, responde de forma direta, sem rodeios. Pede-se uma lista de quem é quem na arte brasileira e ele começa a declinar nomes sem pausas cautelosas.
Duarte reconhece que poderia ter aplicado um filtro mais fino para selecionar os artistas que figuram em seu livro Arte Brasileira Contemporânea (Sílvia Roesler Edições de Arte/Opus Investimentos, 300 págs., R$ 150), espécie de "quem é quem" na arte contemporânea brasileira, mas preferiu apresentar ao leitor as obras que lhe foram mostradas recentemente, arriscando-se a um recorte arbitrário. Assim, de uma lista inicial de 300 nomes, entre artistas jovens ou veteranos de sua geração - Duarte tem 63 anos e longa carreira como diretor de importantes instituições como a Funarte - ele escolheu 77 artistas que testemunham o que a arte brasileira tem de melhor: sua diversidade.
Dessa lista não constam artistas seminais. Afinal, não se trata de um catálogo, mas apenas de um recorte - criterioso, evoque-se. Dificilmente outro crítico de renome viria a contestar o valor de seus eleitos: da turma que já ultrapassou a barreira dos 50 anos fazem parte, entre outros, Antonio Dias, Antonio Manuel, Arthur Barrio, Carlos Zilio, Carmela Gross, Cildo Meireles, Iole de Freitas, José Resende, Miguel Rio Branco, Nuno Ramos, Paulo Pasta e Tunga. Na turma que ainda não passou dos 40 estão a paulistana Laura Vinci e a paraibana Oriana Duarte. Na faixa dos 30 uma outra artista que cresce é a paulistana Tatiana Brass. Finalmente, entre os caçulas, que ainda estão nos 20, o mineiro Thiago Rocha Pitta é um dos mais promissores. Apesar da pouca idade, já tem um vídeo na coleção do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
O livro de Duarte vem acompanhado de um CD-ROM e um DVD, justamente por não se tratar de uma edição para especialistas. Como reconhece o crítico, seu texto "oscila entre um tom professoral e um passeio informal" pela arte contemporânea. No CD-ROM estão 15 entrevistas com teóricos, críticos e curadores. No DVD, dirigido pelo cineasta Murilo Salles, o leitor é convidado a visitar templos da arte contemporânea (como o Instituto Cultural Inhotim, em Minas Gerais, que abriga a coleção Bernardo Paz) e ainda ganha nos extras vídeos de artistas como Laura Erber (1979), Marcelo Cidade (1979), Thiago Rocha Pitta (1980) e Mariana Manhães (1977).
A pouca idade de alguns desses artistas não deve ser entendida como uma tentativa de o crítico se debruçar sobre a "arte atual". A perspectiva de Duarte é mesmo histórica. Fukuyama não tem a mínima chance em seu livro. "Eclipsar a história, até mesmo recalcá-la, pode ser interessante para o mercado, uma máquina que movimenta bilhões de dólares por ano, para o balaio pós-moderno, não para a arte", defende o crítico, que trabalha num campo teórico em que a arte é aceita como um conhecimento específico, sempre de natureza subjetiva. Sem a história, reforça Duarte, "não veremos a luz no fim do túnel". Assim, a tentativa de levar ao marco zero uma mostra internacional como a Bienal de São Paulo, como na última edição, que apresentou um andar inteiro vazio, é um atentado contra a história. "A Bienal sempre funcionou como um Ministério das Relações Exteriores da arte, apresentando a curadores e críticos estrangeiros o que de melhor se produz no Brasil", justifica. "É preciso desenvolver uma estratégia urgente de restauração da Bienal para que ela volte a ter a importância das mostras passadas." A última grande, segundo o crítico, foi realizada em 1998 pelo curador Paulo Herkenhoff, a Bienal da Antropofagia (24ª.). "Depois disso foi o declínio."
Curador da Bienal do Mercosul em 2005, Duarte comenta que a arte brasileira começou a conquistar espaço lá fora graças ao esforço individual dos próprios artistas, citando exemplos presentes nas catedrais da arte internacional - Cildo Meireles na Tate Modern, Tunga no Louvre, Waltércio Caldas em todas as bienais e Documentas - por conta do trânsito internacional desses nomes. Para um território estético dominado por pressão de agentes comerciais e curadores, o da arte contemporânea, a invenção ainda conta - e muito -, segundo Duarte, destacando a importância do experimentalismo no trabalho da paraibana Oriana Duarte, que vive e trabalha no Recife. "Em suas instalações e performances, ela inscreve no próprio corpo uma cartografia do mundo em trânsito em que vive." Duarte vê entre os mais jovens uma predominância das questões urbanas e existenciais, que suplantam a questão social. "As manifestações políticas estão dentro da cultura hip hop", diz, elogiando o artista paulistano Marcelo Cidade, de 30 anos, que faz performances, fotos e vídeos, sempre elegendo o ambiente urbano como foco de seu trabalho.
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