por Silas Martí da Folha de S.Paulo
Engavetada por mais de uma década, vem a público uma tese polêmica, que analisa o teor espiritual e religioso da obra de Mira Schendel. Escrito em alemão nos anos 90, só agora sai, em português, "Mira Schendel - Do Espiritual à Corporeidade", de Geraldo Souza Dias, que chega às livrarias em abril.
"A controvérsia maior é quando se fala em espiritualidade", admite Souza Dias, 54. "Era uma tendência antes na crítica da arte deixar de fora tudo que pudesse trazer impurezas ao discurso mainstream", diz o autor, justificando a longa espera para a publicação do livro, reedição de sua tese de doutorado pela Cosac Naify.
Espécie de "biografia intelectual", o volume de mais de 300 páginas deve surpreender até estudiosos da obra da artista, pela pesquisa minuciosa que envolveu, incluindo a compilação de diários de Schendel e sua troca intensa de cartas com filósofos na Europa e brasileiros, como Haroldo de Campos.
"O cerne do trabalho é o diálogo dela com intelectuais", diz Souza Dias. "Eu fiz cópias de quase tudo, dos diários, dos rascunhos, da correspondência e fui atrás dos interlocutores."
Entre os mais importantes, estão os alemães Jean Gebser (1905-1973), com quem Schendel teria aguçado suas reflexões sobre a transparência, mote central de suas célebres monotipias, e Hermann Schmitz, que, segundo Souza Dias, influenciou a artista com sua teoria do "corpo vivo", ideia que tentava abolir a distinção clássica entre corpo e alma.
Um tanto obscuros, são eles os possíveis pontos de partida para as obsessões de Schendel.
Enquanto Gebser teorizava sobre a direção da escrita, tema caro à artista, o "corpo vivo" de Schmitz deu margem à produção de Schendel ligada à espiritualidade, como as citações bíblicas, as mandalas que desenhou e o flerte com composições do alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007) que fazem referências a Deus.
Descrita como "vulcão interrogativo" pela obsessão em destrinchar os meandros da vida espiritual, Schendel, com seus óculos fundo-de-garrafa, não seguia uma única religião, foi batizada pela mãe católica e criada pelo pai judeu.
Chegou mais tarde a presentear frades dominicanos com uma de suas poucas obras figurativas, uma pintura de duas flores brancas.
Lançamentos
Além da tese de Souza Dias, dois outros livros serão lançados. Na primeira parceria de uma editora brasileira com o MoMA, a Cosac Naify lança "León Ferrari and Mira Schendel: Tangled Alphabets", catálogo da exposição do museu nova-iorquino que sai junto com o início da mostra sobre os dois artistas, no dia 5 de abril.
Editado em inglês, o volume com textos de Luis Pérez-Oramas, Andrea Giunta, que escreve sobre Ferrari, e Rodrigo Naves, que fala sobre Schendel, também deve ser lançado em português pela mesma editora.
Também volta às livrarias "Mira Schendel", de Maria Eduarda Marques, livro-referência sobre a artista, até agora esgotado, da coleção "Espaços da Arte Brasileira", coordenada por Naves.
"A controvérsia maior é quando se fala em espiritualidade", admite Souza Dias, 54. "Era uma tendência antes na crítica da arte deixar de fora tudo que pudesse trazer impurezas ao discurso mainstream", diz o autor, justificando a longa espera para a publicação do livro, reedição de sua tese de doutorado pela Cosac Naify.
Espécie de "biografia intelectual", o volume de mais de 300 páginas deve surpreender até estudiosos da obra da artista, pela pesquisa minuciosa que envolveu, incluindo a compilação de diários de Schendel e sua troca intensa de cartas com filósofos na Europa e brasileiros, como Haroldo de Campos.
"O cerne do trabalho é o diálogo dela com intelectuais", diz Souza Dias. "Eu fiz cópias de quase tudo, dos diários, dos rascunhos, da correspondência e fui atrás dos interlocutores."
Entre os mais importantes, estão os alemães Jean Gebser (1905-1973), com quem Schendel teria aguçado suas reflexões sobre a transparência, mote central de suas célebres monotipias, e Hermann Schmitz, que, segundo Souza Dias, influenciou a artista com sua teoria do "corpo vivo", ideia que tentava abolir a distinção clássica entre corpo e alma.
Um tanto obscuros, são eles os possíveis pontos de partida para as obsessões de Schendel.
Enquanto Gebser teorizava sobre a direção da escrita, tema caro à artista, o "corpo vivo" de Schmitz deu margem à produção de Schendel ligada à espiritualidade, como as citações bíblicas, as mandalas que desenhou e o flerte com composições do alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007) que fazem referências a Deus.
Descrita como "vulcão interrogativo" pela obsessão em destrinchar os meandros da vida espiritual, Schendel, com seus óculos fundo-de-garrafa, não seguia uma única religião, foi batizada pela mãe católica e criada pelo pai judeu.
Chegou mais tarde a presentear frades dominicanos com uma de suas poucas obras figurativas, uma pintura de duas flores brancas.
Lançamentos
Além da tese de Souza Dias, dois outros livros serão lançados. Na primeira parceria de uma editora brasileira com o MoMA, a Cosac Naify lança "León Ferrari and Mira Schendel: Tangled Alphabets", catálogo da exposição do museu nova-iorquino que sai junto com o início da mostra sobre os dois artistas, no dia 5 de abril.
Editado em inglês, o volume com textos de Luis Pérez-Oramas, Andrea Giunta, que escreve sobre Ferrari, e Rodrigo Naves, que fala sobre Schendel, também deve ser lançado em português pela mesma editora.
Também volta às livrarias "Mira Schendel", de Maria Eduarda Marques, livro-referência sobre a artista, até agora esgotado, da coleção "Espaços da Arte Brasileira", coordenada por Naves.
Nenhum comentário:
Postar um comentário