terça-feira, 14 de abril de 2009

Cineasta francês filma obscuridade de Iberê Camargo



por Fábio Cypriano da Folha de S. Paulo


Depois de trabalhar com nomes como a performer Marina Abramovic, a coreógrafa Meg Stuart e os artistas plásticos Jan Fabre e Michelangelo Pistoletto, todos bastante radicais em suas respectivas áreas, o cineasta francês Pierre Coulibeuf, nascido em 1949, prepara agora sua nova produção, que traz para a cena o pintor Iberê Camargo (1914-1994).

O filme em 35 mm, que também terá uma versão para uma instalação, será exibido em junho na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, que comissionou a obra de Coulibeuf.

"Vi toda a documentação sobre Iberê e, ao mesmo tempo, descobri o prédio de Siza, que muito me impressionou. Achei muito interessante o arquiteto fazer o edifício inspirado nele e, com isso, achei que tinha elementos significativos para um filme que relacionasse pintura e arquitetura", disse Coulibeuf à Folha.

No início do mês passado, foram realizadas as filmagens para a nova produção de Coulibeuf, na sede da Fundação Iberê Camargo, inaugurada há cerca de um ano, projeto do arquiteto português Álvaro Siza.

"A forma do prédio me levou a pensar na estrutura do filme, concebido como um labirinto percorrido por dois personagens ficcionais", disse o diretor. Os personagens são interpretados por um ator brasileiro, Mateus Walter, e uma bailarina portuguesa radicada em Berlim, Vânia Rovisco.

Sede da Fundação Iberê Camargo, projeto do arquiteto português Álvaro Siza.

"Como sempre em meus trabalhos, trata-se do olhar de um artista sobre outro artista, portanto não será uma biografia do Iberê. Além do mais, o que eu faço é a transposição de alguma área específica, como a performance ou a dança, para a linguagem do cinema. Agora, o tema será a relação entre a pintura e seu habitat", conta.

Livre para entrar na obra de Camargo, Coulibeuf inspirou-se num momento específico, quando o artista gaúcho, depois de viver no Rio, voltou a Porto Alegre.

"O momento de sua carreira que mais me interessou foi o dos anos 1960, que podemos chamar de 'período obscuro' e que relaciono com minhas próprias obsessões", diz. Nessa fase, Camargo aborda uma temática de fato densa, que mergulha em conflitos fundamentais da condição humana, como a solidão.

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