terça-feira, 14 de abril de 2009

A Perda



Fonte: ZH


Xico Stockinger foi velado no Margs


O Brasil perdeu no domingo de Páscoa um dos artistas que consolidaram no país a escultura de matriz expressionista. Francisco Alexandre Stockinger inscreveu seu nome na história da arte nacional ainda nos anos 1960 e 1970 ao dar forma a guerreiros e touros que impressionavam pela sua contundência afirmativa. Não eram esculturas serenas, para se deleitar e achar bonito. Eram personagens rijos, forjados a ferro e madeira. O Rio Grande do Sul perdeu uma das figuras que ajudaram a definir o atual cenário cultural do Estado. Nascido na Áustria, educado em São Paulo, iniciado nas artes no Rio de Janeiro, Xico chegou a Porto Alegre em 1954, aos 35 anos, trilhando o caminho inverso do tradicional – do centro para a província. Em um ambiente em que ainda predominava a arte então dita acadêmica, marcada pelo naturalismo nas representações, o artista foi daqueles que irradiou a vertente moderna. Tendo como referência escultores como Henry Moore, Alberto Giacometti e Constantin Brancusi, construiu figuras que se pautavam por sua imagem impositiva, flertando com o grotesco e a total liberdade das formas. Só mais tarde, trabalhando com mármore, ele se deixou guiar pela sensualidade do abstrato. Porto Alegre perdeu um catalisador de forças criativas. Xico fundou o Atelier Livre da prefeitura, presidiu a Associação Chico Lisboa, dirigiu o Margs. Foi professor e participou ativamente de diferentes debates. Membro do Partido Comunista na juventude, mantinha-se à esquerda, malgrado as constantes desilusões. Compôs com Iberê Camargo e Vasco Prado uma espécie de santíssima trindade das artes visuais no Estado. Os amigos do Xico perderam uma companhia generosa e querida. Às vésperas dos 90 anos, ele já não bebia nem comia com o prazer de antes, mas mantinha aceso o bom humor. Surdo, lia lábios e mantinha conversas agradáveis. Sabia-se um grande narrador de histórias. Gostava de cachorros e gatos, inclusive os vira-latas. Não se envaidecia da posição que ocupava. Trabalhava sempre e todos os dias. Morreu em casa e dormindo.

Touro - anos 60



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