Mostra de arte "Panorama estrangeiro' é atacada na web
por Fábio Cypriano da Folha de S.Paulo
Em vez de "Panorama da Arte Brasileira", "Brazilian Art Landscape" é como o artista Alex Cabral propõe que seja denominada a mostra com curadoria de Adriano Pedrosa, a ser inaugurada em outubro, no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo).
Já a artista Ligia Borba sugere "Panorama da Arte Brasilianista". O sarcasmo faz parte da maior parte das 58 mensagens já postadas (até o fechamento desta edição) no site Canal Contemporâneo, a partir da proposta de Pedrosa de não incluir artistas brasileiros na exposição com caráter bienal, criada há 40 anos.
No blog do Canal Contemporâneo --uma comunidade digital organizada pela artista Patrícia Canetti--, a grande parte dos comentários à proposta de Pedrosa, após reportagem publicada na Folha, é marcada por reações bastante violentas (http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/002119.html).
foto LeonardoWen
Um dos exemplos é como o artista Artur Barrio contesta Pedrosa: "Que presunção, que vaidade, que egocentrismo, que exclusão, que ignorância".
"Sabia que a proposta geraria polêmica, e o formato de blog propicia reações violentas. Como a curadoria é uma prática que exclui muito mais do que inclui, pois o conjunto incluso é sempre infinitamente menor do que o excluído, quanto mais reputada a mostra curada, maior o número de potencialmente frustrados ou irados em relação a ela", diz Pedrosa.
Opiniões favoráveis
A Folha ouviu outros 13 artistas e curadores (leia íntegra dos depoimentos na postagem abaixo) e a maioria, ao contrário do que ocorre no Canal Contemporâneo, posicionou-se a favor do projeto de Pedrosa. De todos, apenas a artista Carmela Gross e o curador Paulo Venancio Filho foram contrários à proposta.
A favor manifestaram-se os artistas Jac Leirner, Rivane Neuenschwander, Rosângela Rennó, Sandra Cinto e Ricardo Basbaum, além dos curadores Agnaldo Farias, Lisette Lagnado, Daniela Labra, Rodrigo Moura, Cristiana Tejo e Felipe Chaimovich.
Curador do MAM-SP, Chaimovich coloca a instituição em defesa de Pedrosa: "O 'Panorama' caracteriza-se pelo questionamento regular da natureza da arte brasileira e o debate gerado pela proposta curatorial de 2009 mostra a relevância de uma reflexão renovada a cada edição, quebrando expectativas e apontando interpretações inesperadas, como cabe a um museu de arte moderna".
No entanto, nem todos são a favor da ideia de forma integral, apresentando algumas ressalvas, como o artista e curador Ricardo Basbaum.
"Parece que somente os curadores são capazes hoje de provocar polêmicas; antes estas eram produzidas pelas obras, pelos artistas. Se pensarmos na 28ª Bienal, a discussão que mobilizou a opinião pública foi provocada pelos curadores e não por qualquer artista ou obra da mostra", diz ele.
"Isso me preocupa: obras e artistas não estão sendo mais percebidos enquanto agentes provocadores, e sim os curadores", completa Basbaum, que está em cartaz em São Paulo, na galeria Luciana Brito.
A polêmica, contudo, está ajudando o curador a redefinir sua própria exposição.
"A princípio, eu tinha pensado em fazer uma exposição mais esparsa, com um número menor de artistas, mas agora estou considerando incluir mais obras, mais exemplos de 'arte brasileira feita por estrangeiros', sem querer esgotar o assunto, mas tornando o argumento mais claro", diz Pedrosa.
Tradição
O "Panorama da Arte Brasileira" foi criado pela Comissão de Arte do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), em 1969, portanto alguns anos após o desmonte do museu, ocorrido em 1962, quando seu fundador, Ciccillo Matarazzo, doou à Universidade de São Paulo toda a coleção do museu, o que deu origem à criação do Museu de Arte Contemporânea da USP.
Sem acervo, o MAM criou então o Panorama como estratégia para se recriar e reorientar: o foco da coleção passaria a ser a produção contemporânea nacional, o que de fato é o perfil do museu, traindo em parte a denominação "de arte moderna".
Os prêmios de aquisição do "Panorama", que ocorrem desde sua primeira edição, foram uma importante forma de constituição do acervo da instituição e das poucas ações permanentes para tal fim num museu paulistano.
Em 1995, pela primeira vez, o "Panorama" foi organizado por um curador, no caso Ivo Mesquita, que rompeu com o formato tradicional da mostra por suportes, inspirado no espetáculo "O Livro de Jó", do Teatro da Vertigem.
Em 2003, sob a designação "Desarrumado", o "Panorama" apresentou pela primeira vez artistas estrangeiros, com curadoria do cubano Gerardo Mosquera. Além de 16 brasileiros, o curador apresentou o belga Wim Delvoye, o argentino Jorge Macchi e a chinesa Kan Xuan. Também pela primeira vez, o "Panorama" foi visto no exterior, em itinerância na Espanha.
Em 2005, organizado por Felipe Chaimovich, atual curador do MAM, o "Panorama" gerou polêmica ao comparar a produção contemporânea aos gêneros da pintura clássica.
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