segunda-feira, 4 de maio de 2009

Panorama da Arte Brasileira II


Depoimentos sobre as mudanças do "Panorama da Arte Brasileira"

da Folha de S.Paulo


CONTRA

"O sr. Adriano Pedrosa que se cuide! A sua estrangeirice é tamanha que um dia ele ainda vai ser deglutido pelos canibais de plantão!"
Carmela Gross, artista

"Será que não há no MAM uma mente lúcida para se opor a tamanha arrogância ridícula?"
Paulo Venancio Filho, curador

A FAVOR

"Um 'Panorama' com 'trabalhos nacionais de artistas estrangeiros' é, obviamente, fruto de uma ação que inverte e questiona territórios concretos e políticos. Frente à quantidade de exposições voltadas à produção nacional em 'n' instituições paulistas, a ideia para esse 'Panorama' do MAM me parece bem humorada, antiterritorialista e pertinente. O tratamento especial reservado à produção dos trabalhos e aos artistas deveria ser praxe em quaisquer instituições, só nos resta ver a qualidade da arte que se apresenta, apesar da resistência do meio local."
Jac Leirner, artista

"A ideia parece-me muito interessante. É sempre bom lembrar que a cultura sempre ultrapassou os limites fixados pela geopolítica. Por conta disso é que se pode dizer que o Brasil não é obra exclusiva daqueles que nasceram aqui. Já não foi dito que a literatura latino-americana começou na escrita do primeiro europeu impactado pelo que viu? E alguém aí discute que o Sergio Leone não é norte-americano e que depois dele o faroeste mudou um bocado? Embora brasileiros, temos lá nossa parcela de norte-americanos, franceses, ingleses, alemães..."
Agnaldo Farias, curador

"A proposta aponta para um esgotamento: depois do 'Antarctica Artes com a Folha', hoje o 'Rumos' cumpre a missão de mapear a arte feita no Brasil. A identidade das mostras muda. A 'Paralela' virou um 'Panorama' e o último 'Panorama' teve calibre de Bienal. Por ser uma mostra autoral, deve formular algo a partir de uma falta. Adriano é um dos embaixadores da arte brasileira no exterior, já tendo inserido Sandra Cinto, Marcelo Cidade e Marcellvs L. em mostras importantes."
Lisette Lagnado, curadora

"Existem muitas mostras deste tipo no mundo todo, e a premissa de que um artista tenha de pertencer a um lugar específico como justificativa para a sua participação já não é mais o suficiente (vide o fim das representações nacionais na 27ª Bienal de São Paulo). Além disto, acho válido (re)pensar o nosso país como um lugar que assimile diversas culturas, gerando assim discussões mais abrangentes inclusive e sobretudo sobre nossa própria identidade."
Rivane Neuenschwander, artista

"Não conheço todos os argumentos de Adriano Pedrosa, mas acredito que sua proposta pode indicar uma questão interessante, a de se permitir indagar o que faz de uma arte brasileira _se é a nacionalidade de seu autor, o país onde ele cria, a temática de sua obra, entre outros. Porém, a proposta corre o risco de se concretizar numa mostra repleta de clichês: a miséria, o carnaval, o sensual, a luta de classes, o precário, o exuberante etc, são aspectos facilmente encontrados em leituras estrangeiras superficiais sobre o Brasil. Acredito, contudo, que Pedrosa é bastante hábil para se desviar desse risco e se quiser, poderá levar a cabo uma discussão eficaz sobre o panorama da arte (e do circuito de arte) brasileira."
Daniela Labra, curadora

"A ideia de uma bienal nacional, que, de dois em dois anos, dê conta da totalidade da produção emergente, está esgotada há muito tempo. A verdade é que não dá tempo de fazer um update neste período, o que gera exposições muito parecidas umas com as outras. Com a proposta do Pedrosa, o MAM deixa claro que pensa o 'Panorama' como uma exposição que pode questionar seu formato até limites radicais. A ideia de pensar arte brasileira através dos óculos do estrangeiro é, em si, questionável, mas acho que faz sentido propor um formato radicalmente diferente a cada edição do 'Panorama', já que sua essência e origem não têm mais relevância no panorama de hoje."
Rodrigo Moura, curador do Instituto Cultural Inhotim

"Cada vez mais artistas brasileiros são convidados a desenvolver trabalhos específicos em exposições internacionais e, do lado oposto, várias obras são produzidas, no Brasil, por artistas estrangeiros e muitas vezes não podemos usufruí-las. Essas trocas são saudáveis e devem ser prestigiadas. Além do mais, gosto muito da idéia de desvincular o 'brasileiro' do 'nacionalista', como disse o Adriano Pedrosa. O 'Panorama' não precisa ser encarado como mais uma coletiva de arte brasileira que acontece de dois em dois anos, com um curador diferente (aliás, pelo que me consta, a 'Paralela' também adotou esse perfil). Particularmente não vejo problema algum, de vez em quando, vermos um 'Panorama' diferente, como aconteceu quando o Gerardo Mosquera convidou estrangeiros pra integrarem a mostra curada por ele, em 2003; se o ponto de vista for bom, e a arte for boa e feita no Brasil, não pode ser feita por estrangeiro?
Rosângela Rennó, artista

"É interessante notar como cada 'Panorama' responde a seus antecedentes, seja para negá-los ou reafirmá-los ou partir de nortes anteriormente abertos. O foco do evento parece ter se cristalizado em sua própria história e na afirmação e/ou desconstrução de uma estética nacional do que firmar posicionamentos críticos diante de uma produção artística de uma época inscrita num lugar chamado Brasil.
Eu achava que a discussão literal em torno da identidade e do pertencimento nacional já tivesse vivido seu esgotamento e migrado para pontuações de poéticas provenientes de vários 'lugares', mas pelo visto ela ainda suscita malabarismos curatorais e reações nacionalistas acaloradas."
Cristiana Tejo, curadora da Fundação Joaquim Nabuco (PE)

"O 'Panorama da Arte Brasileira' do Museu de Arte Moderna de São Paulo caracteriza-se pelo questionamento regular da natureza da arte brasileira. O debate gerado pela proposta curatorial de 2009 mostra a relevância de uma reflexão sempre renovada a cada edição do 'Panorama', quebrando expectativas e apontando interpretações inesperadas, como cabe a um museu de arte moderna."
Felipe Chaimovich, curador do MAM-SP

"Acho a provocação do Adriano Pedrosa interessante. Mas o curador terá de ser capaz de reunir trabalhos que realmente provoquem uma reflexão sobre o tema - e não simplesmente figurar slogans superficiais. É preciso sair de provincianismos nacionalistas - resquício da ditadura militar - e atuar politicamente no mundo, internacionalmente. Muitas vezes somente ligações políticas internacionais podem provocar a renegociação de impasses políticos locais. Muitas instituições brasileiras são provincianas e se esquivam do debate global da arte contemporânea, assim como dos debates locais. Os dois pólos não estão tão distantes e reverberam um no outro.
Mas uma coisa me intriga principalmente, e para mim é o ponto que me chama mais a atenção: parece que somente os curadores são capazes hoje de provocar polêmicas; antes estas eram produzidas pelas obras, pelos artistas. Se pensarmos na 28ª Bienal, a discussão que mobilizou a opinião pública foi provocada pelos curadores e não por qualquer artista ou obra da mostra. Isso me preocupa: obras e artistas não estão sendo mais percebidos enquanto agentes provocadores, e sim os curadores. Entretanto, acredito que os principais agentes provocadores são de fato as obras. O curador teria que re-aprender a recolocar o conflito 'obra x sociedade', e não apenas 'evento x sociedade', 'exposição x sociedade' - e assim sair do centro da cena."
Ricardo Basbaum, artista e curador

"Eu penso que o 'Panorama da Arte Brasileira' que propõe um olhar sobre a influência da mesma na produção internacional é um projeto que vai além de uma mostra coletiva. Constatar que a arte brasileira deixou de ser periférica, que é uma referência no contexto internacional é algo que só a fortalece. Nós, artistas brasileiros, estaremos representados sim, de uma maneira muito mais profunda. 'Panorama' significa uma visão ampla, em todas as direções, sem obstáculos."
Sandra Cinto, artista


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