Camila Molina do Estadão
A artista Lenora de Barros anda agora com nova "mania": pelos lugares em que passa, pega seu celular, ou um gravador, e começa a captar qualquer tipo de som. Em visita há pouco à atual Bienal de Veneza, quando tirou seu celular da bolsa para gravar os ruídos da exposição de Bruce Nauman, a monitora da sala quis lhe chamar a atenção, pensando que Lenora tiraria uma foto, sem permissão, da obra do americano. Mas a brasileira explicou que queria apenas captar o som do local e a segurança ficou, na verdade, sem jeito - deu um nó em sua cabeça: era proibido ou não fazer aquilo? Resolveu deixar.
Lenora ri e acha curiosa essa passagem que faz parte de sua missão de "desvendar o verbivocu", como ela diz, brincando com a expressão dos concretistas, "verbivocuvisual" - poesia (concreta) e visualidade sempre foram temas chaves da criação da artista, filha de Geraldo de Barros - ou, falando de uma maneira mais simples, de sua pesquisa sobre sonoridades. É que desde o ano passado Lenora virou "radialista": está desenvolvendo o projeto da Radiovisual, uma das atrações da 7ª Bienal do Mercosul, a ser inaugurada para o público em outubro em Porto Alegre (ler ao lado). "Depois da fotografia e do vídeo confesso que ainda não sei traduzir como é a sensação de ter a memória de um lugar pelo som e não pela imagem", diz Lenora.
Como criar uma programação de rádio para um evento de arte? A ideia, na verdade, partiu do escultor Artur Lescher, um dos curadores da Bienal do Mercosul. "O espaço sonoro magnético atravessa a cidade. Fiquei com essa imagem na cabeça como uma possível metáfora para a seção que vai tratar dos espaços públicos", afirma Lescher. "Rádio é mídia econômica, inclusiva, com capacidade grande de absorver conteúdos, mais do que uma exposição com paredes", diz o escultor.
No ano passado, ele convidou Lenora para fazer a curadoria da Radiovisual e executá-la. O projeto está em seus últimos acertos. Seu conceito envolve a transmissão de um programa "informativo e experimental", diário e com uma hora de duração, provavelmente, no dial "físico" da rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul quanto na esfera virtual, pela internet, para ser compartilhada para além das fronteiras. A Radiovisual tem até slogan: "A rádio que excita a frequência." A mídia estimula a imaginação.
Não é de hoje que artistas trabalham no campo da sonoridade, muitos até mesmo fazendo obras para o rádio. No Brasil, recentemente, pode-se citar o Oidaradio, com curadoria de Nick Graham-Smith e Kiki Mazzucchelli e apresentado no ano passado no Paço das Artes, ou mesmo Dora Longo Bahia, que tinha como parte de sua obra para a 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, a realização do programa Rádio Macaco, infelizmente não concretizado. Entre os estrangeiros, Lenora faz menção ao americano Gregory Whitehead, que desde a década de 1980 cria para rádio. Mas o artista fundamental para o conceito da Radiovisual da Bienal do Mercosul é o compositor experimental americano John Cage e sua famosa peça 4?33 , de 1952: a composição é feita de nenhuma nota, mas da proposta de que o músico fique parado durante esse período. "Ele é o nosso mentor conceitual", diz Lenora.
A Radiovisual, que também conta com a participação do jornalista Fabrizio Rosa, vai ter uma seção em homenagem a Cage, Ao Redor de 4?33, com peças sonoras criadas por artistas, poetas, escritores, músicos e até cientistas convidados. Essas obras também serão "exibidas" por meio de headphones numa arquibancada nos armazéns do Cais do Porto, às margens do Rio Guaiba.
A ideia é a de que a rádio tenha uma sede com lounge e veicule obras sonoras históricas de Cildo Meireles e Antonio Dias, por exemplo. Depois, para ficar o registro dessa ação, a Radiovisual também vai figurar no catálogo da Bienal do Mercosul. Como? Gravada em CD.
A artista Lenora de Barros anda agora com nova "mania": pelos lugares em que passa, pega seu celular, ou um gravador, e começa a captar qualquer tipo de som. Em visita há pouco à atual Bienal de Veneza, quando tirou seu celular da bolsa para gravar os ruídos da exposição de Bruce Nauman, a monitora da sala quis lhe chamar a atenção, pensando que Lenora tiraria uma foto, sem permissão, da obra do americano. Mas a brasileira explicou que queria apenas captar o som do local e a segurança ficou, na verdade, sem jeito - deu um nó em sua cabeça: era proibido ou não fazer aquilo? Resolveu deixar.
Lenora ri e acha curiosa essa passagem que faz parte de sua missão de "desvendar o verbivocu", como ela diz, brincando com a expressão dos concretistas, "verbivocuvisual" - poesia (concreta) e visualidade sempre foram temas chaves da criação da artista, filha de Geraldo de Barros - ou, falando de uma maneira mais simples, de sua pesquisa sobre sonoridades. É que desde o ano passado Lenora virou "radialista": está desenvolvendo o projeto da Radiovisual, uma das atrações da 7ª Bienal do Mercosul, a ser inaugurada para o público em outubro em Porto Alegre (ler ao lado). "Depois da fotografia e do vídeo confesso que ainda não sei traduzir como é a sensação de ter a memória de um lugar pelo som e não pela imagem", diz Lenora.
Como criar uma programação de rádio para um evento de arte? A ideia, na verdade, partiu do escultor Artur Lescher, um dos curadores da Bienal do Mercosul. "O espaço sonoro magnético atravessa a cidade. Fiquei com essa imagem na cabeça como uma possível metáfora para a seção que vai tratar dos espaços públicos", afirma Lescher. "Rádio é mídia econômica, inclusiva, com capacidade grande de absorver conteúdos, mais do que uma exposição com paredes", diz o escultor.
No ano passado, ele convidou Lenora para fazer a curadoria da Radiovisual e executá-la. O projeto está em seus últimos acertos. Seu conceito envolve a transmissão de um programa "informativo e experimental", diário e com uma hora de duração, provavelmente, no dial "físico" da rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul quanto na esfera virtual, pela internet, para ser compartilhada para além das fronteiras. A Radiovisual tem até slogan: "A rádio que excita a frequência." A mídia estimula a imaginação.
Não é de hoje que artistas trabalham no campo da sonoridade, muitos até mesmo fazendo obras para o rádio. No Brasil, recentemente, pode-se citar o Oidaradio, com curadoria de Nick Graham-Smith e Kiki Mazzucchelli e apresentado no ano passado no Paço das Artes, ou mesmo Dora Longo Bahia, que tinha como parte de sua obra para a 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, a realização do programa Rádio Macaco, infelizmente não concretizado. Entre os estrangeiros, Lenora faz menção ao americano Gregory Whitehead, que desde a década de 1980 cria para rádio. Mas o artista fundamental para o conceito da Radiovisual da Bienal do Mercosul é o compositor experimental americano John Cage e sua famosa peça 4?33 , de 1952: a composição é feita de nenhuma nota, mas da proposta de que o músico fique parado durante esse período. "Ele é o nosso mentor conceitual", diz Lenora.
A Radiovisual, que também conta com a participação do jornalista Fabrizio Rosa, vai ter uma seção em homenagem a Cage, Ao Redor de 4?33, com peças sonoras criadas por artistas, poetas, escritores, músicos e até cientistas convidados. Essas obras também serão "exibidas" por meio de headphones numa arquibancada nos armazéns do Cais do Porto, às margens do Rio Guaiba.
A ideia é a de que a rádio tenha uma sede com lounge e veicule obras sonoras históricas de Cildo Meireles e Antonio Dias, por exemplo. Depois, para ficar o registro dessa ação, a Radiovisual também vai figurar no catálogo da Bienal do Mercosul. Como? Gravada em CD.
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